terça-feira, 19 de abril de 2016

Quando me reencontrei índia

Fui recebida com dança indígena nesta V Feira Indígena do Parque Chico Mendes, na "provinciolândia" do ABC. Minhas preliminares tinham sido ouvir Marlui Miranda e defender os inígenas há anos prum taxista e pesquisar lendas indígenas em livros da Ana Luiza Lacombe e Flavia Sawary. Gozado, eu que tenho bode de quem só estuda, mas eu mesma só tinha lido, escrito, adaptado ou contado sobre os povos originários. Aqueles pés marcando o ritmo no chão me pegaram pelo peito. Uma vontade de chorar. O promotor dizia pra não passar vontade, acompanhar a dança, mas eu tentava fotografar e sustentar o choro. Uma de minhas manas postiças depois quis saber porque não chorava de vez, mas eu ainda contaria histórias e a sensação que tinha é a de que chorando, tudo que conseguiria
fazer é pedir desculpas para eles pelas barbaridades de nossos antepassados. Meu namorado depois aliviou: "ninguém te apontou arco e flecha, pesa menos a mão". Fui lá querendo entender o que mais além de tomar banho todo dia nós mantivemos deles. Foi todo um aprendizado cinestésico: se tatuar, maquiar, usar brincos, adereços no pescoço ou pulso, amar peixe (apesar de não comer mais), a cura emocional dos trabalhos manuais nas poucas vezes que fiz, essa percepção das famílias dilatadas (também dos africanos), a piração com cantos e danças dos ancestrais, cura com ervas... Mais fácil perguntar o que é que eles não deixaram em mim, embora ainda não tenha ido
pruma tribo. A própria "contação" de histórias dos meus avós e pais, não é só cabocla, mas também indígena e afro. Queria embrulhar a feira e levar pra casa, fazer "carnê Casas Bahia" com tudo que foi artesanato, pintura, enfeite... Até as presilhas... Vem deles! Senti uma vergonha das escolas em que estudei nem abrirem a boca sobre eles e quando muito, transmitir aquela educação colonizada, cheia de estereótipos. Eles é que precisavam nos ensinar. Perguntei pra um deles se não dava dó da gente por aquelas arma tão artesanalmente caprichadas na parede, porque o uso deles é tão outro! Mas ele  entende que pra nós vira enfeite. Uma índia "meio brazuca, meio latina" (casada com um hermano) me emprestou a barraca dela pra também contar histórias. Precisávamos aprender mais da
generosidade indígena. Não sei precisar o que é que a plateia deu, mas dilatei a lenda indígena de surgimento da noite, pois estava à vontade tanto na mitologia quanto com o público cantando, acompanhando, se perguntando o que vinha depois. Sabe aquela presença de na hora de falar dos curumins, olhar pro bebê pintado aos meus pés brincando com percussão? É sobre a impossibilidade de comparar isso com os "bom texto/ boa divulgação" que às vezes tento em vão explicar pros já rendidos pelo capitalismo. Lancei meu livro Guardião da Cidade, mas fui logo avisando: pesquisei em três livros, duas professoras... Sabem como é "quem conta um conto, aumenta um ponto"! Neste fim de semana
conferi o livro desta lenda do Maurício de Souza, que tenho apresentado, meio como gratidão ao quanto me iniciei na leitura pelos gibis; é como a índia que conheci lá me indicou: algumas nos parecem meio mórbidas. O especial desses eventos são as surpresas como trocar sem prever contatos a fim de se apoiar. Sabe estas confirmações de que a vida é toda meio inesperada? A vida é tão gangorra né: este começo de domingo imersa nestas descobertas inebriantes, de encher o coração, horas depois não se deixar indignar pelas provocações verdamarelas cruzando a cidade atrás dum amigo, mas no fim do do dia finalmente me render e choraaaar com a votação "corta pulsos" do Congresso de bandidos trabalhando em causa própria. Às vezes não dou conta. Estanquei trabalho,
arrumação de mala, tudo! 
Mas voltando à subida da gangorra: estas mana que a vida providenciou tem razão, os Fulni-O são divertidos. No fim, fizeram uma dança meio que de despedida, consegui tirar foto melhor que no começo e um deles tocou chocalho na minha cabeça. Que isso leve tudo que não serve ao meu propósito! Comprei um filtro de olho gordo pra orelha e um de sonhos pros pesadelos do namorado. Nossas superstições são herança deles!
Saí meio em clima onírico do namorado agora também querer conhecer uma tribo. É meio mágico quando partilhamos estes encantamentos. Meu rosto pintado infelizmente saiu logo no capacete, o braço dele ainda está lá, marcado pra dar sorte. Foi bonito relembrar com ele que me anunciaram pro meu amigo como "uma indiaznha" e o namorido rir, no mesmo encantamento meu. Cara, acho que eles têm a nos ensinar resistência sem deixar a peteca cair - a vivência de que hay que endurecer, pero sin perder na ternura jamás!

sábado, 16 de abril de 2016

Da outra margem do rio

Há 17 meses a educação me abduziu. Por mais "desreconhecimento" que enfrentemos, não me ocorre virar a casaca e voltar ao jornalismo. Até porque (pardon revisores) a comunicação anda torcendo tão na cara dura, que dá desgosto! Mas eu não sabia o que era dar minhas horas vagas pra refletir o que fazia, incansavelmente. No jornalismo fazíamos uma palestra ou um curso livre, quase que sob tortura. Em educação lemos uma matéria, fazemos duas formações e ainda debatemos no café. É uma pinga que não me viciei na comunicação. Estranhava amigos que já chegavam ouvindo as notícias às 6 da madruga em rádio. Eu corria atrás do preju no plantão mesmo. Mas não dava pra ser jornalera (metam um acento pq o corretor não revê neologismos) lerda como papai. É longinha que entendo pq a área me evadiu (como classificariamos na educação). Mas aqui do lado de lá da margem do rio também tem suas delícias: assim como a Morena Socialista contou num post recente, não sabíamos o que era reconhecimento em redação e assessoria. Daí aluno, coordenadora ou professor te elogia e ficamos lá sem jeitao. Como homem em meio ao Clube da Luluzinha. Devo confessar que já "ficava" com a educação antes: aulinhas de redação e inglês aqui e ali. Mas o casamento não tem um ano e meio ainda. Os profissionais militam declaradamente. Por suas convicções. Melhor que antes, quando os comunicologos adotavam desavisadamente a posição de seus empregadores. Não é ver amigos bacanudos no jornalismo fora dele que me anima a ficar. É que daqui da outra margem do rio, coisas surpreendentes te tocam. Lá estamos mais acostumados a nos inflamar. Aqui o inusitado te toca. Como seus alunos cantarem um hiphop pra gente e o coração ter orgulhozinho. Lá sempre foi um climao "a gente manda prender e faz soltar". Desta margem do rio a percepção é algo como "fizemos um pouco desses poetas". P.S.: desculpem a falta de acentos e imagem de ilustração, mas a "blogagem" nasce da cama, donde tenho dificuldades sobre humanas de sair, parece que ela "tem cocaina"...