domingo, 18 de setembro de 2016

Então, essa sou eu após décadas de tinta e creme com petróleo?

Há uma semana me livrei do resto de tinta que ainda manchava meu cabelo: dois anos tentando deixá-lo crescer e tudo que ganhei foi uma "californiana sem querer". Uma "abóbora do Halloween" se instalou no fim das madeixas, que nesta altura do campeonato estava bem "ripongas" - e eu insistindo pros alunos que hippie era a resistência paz e amor dos anos 60, não eu.
Mas somos cobradas não? Uma amiga queria saber porque estava descuidada, nesse meio tempo uma tia passou colorantes sem amônia e de tanta pressão até fui usar henna pra cobrir as manchas, mas ao chegar onde usam o produto caí de amores por um "vermelho light" meio natureba. Quando visito parente cujo hobby é comprar, a gozação é que não pinto "para preservar os lençois freáticos". Já até li sobre o tema, devo ter comentado, mas não lembro de ter defendido o "discurso ecochato".
Nunca tive muita paciência para horas e horas de manicure, cabeleireiro e depilação, suas "conversinhas novela" e revistas de fofoca da "era da pedra". Mas por um bom tempo, era o loiro que cismava que combinava, até cair de amores pelo vermelho, só que anos e anos depois, concordar com um amigo na casa de quem vivia dormindo:
- Pô você pintou há uma semana, mas desconfio que a maior parte ficou no box de azuleijo branco depois que você tomou banho.
Faz algum sentido virar escrava de fazer retoque? Sei que não há comparação com amigas da transição capitar, que antes não podiam tomar chuva, entrar na piscina ou no mar. Mas tínhamos também uma bronca danada de manchar tudo que é toalha e roupa depois de pintar:
- Afinal o que desse tom ficou em mim depois de tanto desbotar?
Também achei que não tinha sentido falar às amigas de cabelo afro para se assumirem e eu com uma cor que não era minha. Numa extensão universitária da Federal do ABC e Ação Educativa, me toquei que só adotávamos padrões de cores de cabelos europeus. Nem lembrava o que estava por baixo de tanta amônia.
Acompanhei ainda conhecidas tirando produtos com derivados de petróleo para adotar higienizador menos industrializado, sem espuma, os no poo. Me enviavam links de blogueiras que ficaram até uma semana sem lavar para sair resíduo dos antigos e usar estes mais naturais. Se fosse tentar uma transição dessas, terminava cheia de dreads. Queria, mas cismava que não fosse para cabelo enrolado. Fora a questão do bolso não comportar por um tempo. Em meio a um programa de auto conhecimento em que tirei muita dúvida com colega virtual que lembrava a Vanessa da Mata, fui à Garagem os Cachos, onde tratam as crespas de São Paulo. Como a cabeleireira já foi jornalista, explicava como era meu cabelo, o que faria com ele e como reagiria. Há quase sete dias adotei os no poo, pois também não concordava com a espiral de consumo em que nos perdíamos - nem tanto por não achá-lo bonito com creme antigo, mas por passar shampoo, condicionador e leave in comuns e ainda não dar conta de desembaraçá-lo, coisa que fazia um tempo razoável atrás, com os dedos e condicionador no chuveiro mesmo. Só com o higienizador o cabelo já soltou todo. Sigo com aflição que mecham na minha cabeça, sempre cismo que estão "lavando louça nela". Mas tirando as manchas, apareceu outra cor, um castanho escuríssimo. Óbvio que não voltaria ao castanho claro de antes da tinta. Sigo em abstinência do ruivo. E me surpreendo de alunos, colegas e parentes afirmando que o rosto mudou, que combina com minhas roupas diferentes ou que fico mais nova. Quem é que dizia que o que assumíamos se revelava mais bonito que qualquer artificialidade? Finalmente desapeguei de outra identidade visual e mantenho o tratamento  natural, me habituando aos poucos à falta de espuma. Ao menos não testaram em animais.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Cordel anti dor insistente da avó

Há muitos anos dava aula na roça uma senhorinha que podia não ter estudado muito, porém na época quem tinha um pouco mais de conhecimento já partilhava com os demais na escola rural. As família saíam dos sítios para só visitar parente, portanto era natural que primos se casassem. Aliás uma das filhas da protagonista da história achou bem esquisito quando veio para a cidade grande e as pessoas tinham amigos, já que sua vida social era toda tomada só com a "parentada".
Bem, a irmã desta professora na roça casou-se com o irmão de seu noivo e mudando do interior de São Paulo pro norte do Paraná chorou muito de saudade da família original. O noivo da professorinha em questão cismou que não aguentaria casar e levar outra emotiva lá para a região da terra vermelha, cheiro de café e chuva e escreveu para ela.
Professorinha sustou a aula para conferir a carta, era algo esperado, muito diferente dos zap ou mensagens pelo Face de hoje, chegando tão rápido e fácil. Porém quando foi dar uma namorada literária na missiva, o noivo havia escrito:
"minha querida noivinha
escrevo a fim de falar do nosso noivado
tão bem começado, tão mal acabado"!
Nem leu o resto: foi uma choradeira que só, Os alunos não entenderam, mas também não conseguiram continuar com ela seus estudos. Rolou chá de camomila, colo de prima e consolo de irmã, pois as famílias eram generosas no tamanho. Mas a chateação se esgotou naquela mesma noite.
Anos e anos depois a ex professorinha, já dona de casa, casada com outro amor, tendo criado sete filhos e mimado dez netos e um bisneto, sempre retomava esta lembrança, arrematando com o conselho sábio que a família tanto ouviu:
- Terminou? Tem licença para chorar hoje e já está de bom tamanho.
Vi o bisneto adolescente seguir o conselho dela anos e anos depois com término de namoro pelo zap.

Penso que tenho que adotar a máxima da avó para desilusões profissionais, com amigas ou sonhos que se esfacelam. Adaptei a sabedoria meio demoradamente, mas antes tarde do que mais tarde!

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Tinha uma formação no meio do caminho...

Estava acostumada a sair mexida de retiro, curso de yoga ou vivência de massagem. Não de curso cabeçóide educativo. Mas deve ser de se esperar quando vamos fazendo as conexões entre as tantas coisas que nos encantam. Explico: acabo de fazer um... Workshop? Oficina? Vá lá, dois dias seguidos sobre educação popular freiriana. A troco de que, cáspita, se já ouço isso dia e noite no Ensino de Jovens e Adultos da prefeitura de Santo André? Se já estudei pro concurso de São Paulo, meio que tudo na mesma linha, porém algo me dizia que devia ter um parafuso faltando entre o idealismo de coordenadora, a ironia de colega de trabalho e o próprio questionamento freiriano "onde deixei uma metodologia, que nem fui informado"? Bão, lá fui eu, viciada que sou em formação livre, tão "conhecimento a partir da prática e/ou debate". Ao menos na área cultural... Pois com o formador que foi do Instituto Paulo Freire tínhamos mesmo que intervir para construirmos juntos essas percepções que buscávamos, pois "se o planejamento dele desse certo, não tinha funcionado". A descoberta provando que nasci jornalista e morrerei jornalista é que falta sim um capítulo de um dos livros de Freire, que relaciona a pedagogia do oprimido à revolução, mas que não pode ser publicado na ditadura ou nos Estados Unidos, por motivos historicamente compreensíveis - só que um pesquisador que este professor estudou levantou o conteúdo estrategicamente cortado na Suíça. Um mapeamento mais cuidadoso da dialética que minha prima marxista tanto citava e... Eureca! Não, não tinha me esforçado, batalhado, estudado pouco ou tinha inteligência aquém do necessitado por este mercado tão"aberto aos que ralam". Tive chefe, tia, médica, pai, terapeuta, ex sem noção, propagandas e imprensa "estrategicamente coxinha"martelando estas falácias orelha adentro, em momentos em que o mercado me tratou mais descartável que modess. Estes julgamentos foram me empurrando mais para o limbo das dúvidas insolúveis "qual a pisada de bola da vez, já que nunca são honestos o quanto precisamos ao final das parcerias trabalhísticas"? E conforme os pés no traseiro foram se sobrepondo, deixei de conseguir enxergar a pseudo meritocracia cruel por trás dos questionamentos ou rótulos:
- Mas você já foi mandada embora?
- É batata: quem é inteligente e se esforça se posiciona bem no trabalho!
- Você não para em lugar nenhum!
- Não se esforçou o bastante!
Entre tantos outros abusos dos meus ouvidos e emocional. Não percebi como vamos para um lugar de dúvida do qual só saí fechando a porta conectando o pouco de Marx que estudei na Ação Educativa, esta formação recente, as lições "de orelhada" pela prima comunista, pai sindicalista e tias militantes de esquerda e o... budismo! Quem diria que se conectaria o espiritual ao dialético hã? Foi noutro ponto da aula, em que o formador explicava o quanto os dominantes tentam se sobrepor aos oprimidos detonando a cultura popular (tinha escutado explicações por cima na Faculdade Paulista de Artes), mas ela pode agonizar e se reiventa, balança, mas não cai, numa ginga tão similar à capoeira. Uma interpretação budista tibetana dos ensinamentos que estudamos há milhares de anos vê nossa mente como uma natureza luminosa que pode se recriar muito além de suas origens. Daí os filhos de esquerda de pais de direita, ou vice-versa, acadêmicos entre piões de obra, entre tantos casos.
Fora que depois de estudar orientação profissional, de novo com a Ação Educativa, na Federal do ABC, me via meio impotente para auxiliar os jovens nesta empreitada, pois volta e meia redesenho meu projeto de vida, porém... Nada de angustiante nisso! Se pelas vias formais nos sentimentos meio engessados ou solitários, já que tantos e tantos se adaptam à rotina, à burocracia, às normas, ao "foi sempre assim"... É possível se unir aos que não aceitam que seja desta forma desde que o mercado virou esta pasteurização das pessoas e serviços, pois sempre é viável partir para um movimento, uma associação, uma militância, um grêmio, uma terceira via. Um caminho do meio!
Foi um sem fim de debates e discordâncias o bastante pra não caber tudo que o professor - dos sem teto urbanos - programou que era preciso. Temos pela frente outro encontro, para partilhar o restante do que ele considera importante. O próprio resgate de experiências dele em comunidades longe dos grandes centros, as vivências dos outros estudantes são outros aprendizados não planejados de início.
P.S.: Em tempo: trabalhei/ estagiei com barriga e olhos vazando de apendicite e conjutivite e fui descartada em ambas situações. Mas não se empenhei... Oi?!

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Banzo do sertão

Há dois meses voltei do cerrado mineiro, onde troquei textos das mesas redondas do XV Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas por hospedagem e alimentação solidárias na Chapada Gaúcha (MG). Mas o cerrado da terra de Guimarães Rosa não saiu de mim. Vi as barraquinhas de buriti e capim sendo ocupadas aos poucos na praça da pequena cidade. Fui generosamente recebida pela presidência da Adisc, Agência de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável da região, por profissionais e agora novos amigos, que fui conhecer e me enturmar lá no evento mesmo. Quando passei mal de "overdose da produção do cerrado", depois de comer castanha de baru, sorvete de araticum e suco de coquinho, foi a mãe do meu anfitrião que me fez um chá de boldo do pé da planta - depois só faltei vomitar os olhos, ouvidos e nariz, mas ao menos salvei a noite pra me encantar com as dançarinas, o boi de - papel marchê? Que material faz aquele ator amador dar vida ao boi das lendas que li pra vários estudantes, mas só me apaixonei ao vivo no norte de Minas mesmo? Quando comecei a botar os bofes pra fora em plena cobertura da mesa sobre turismo de base comunitária (ah, a palestra em que chorava pela conexão com Gabriela, da Estação Gabiraba, que faz este turismo atípico no norte!), um dos organizadores da caminhadona Caminhos do Sertão, Almir Paraka, parou uma entrevista que dava para outra pessoa e foi me socorrer. Eu também já fui ajudada por estranhos em São Paulo quando passei mal em plena pauliceia desvairada, mas na roça mineira é como se não fôssemos estranhos, como se virássemos todos sertanejos, uma "familiazona" sem fronteiras (e por acaso não sou? Com avô que levantou a árvore genealógica de gerações e mais gerações jurando de pé junto: "somos caboclo com caboclo! Sem parente de fora do Brasil"!). Aliás tô pra ver cara mais inteligente que este Almir. Ele e outros palestrantes lá das mesas redondas do encontro fizeram renascer em mim aquela velha paixão jornalêra "que quando a fonte entende muito ou é apaixonado seja lá por que assunto for, eu me encanto junto até o fim da entrevista ou cobertura". No meio do meu "passa mal", comigo causando lá no fim de um dos debates, a Damiana Campos, do Instituto Rosa e Sertão parece que me deu um reiki, uma benzedura - bom, passando mal qualquer ajuda informal e dada de bom grado é bem vinda, mas lembrei da benzedeira que tive anos e anos aqui na esquina de casa, em plena "SãoPaulona", mas que infelizmente já se foi... Por falar no trabalho desta artista mineira, Damiana, as apresentações, articulações do Instituto durante as discussões e ainda por cima me receber para almoçar na mãe dela evocam memórias que se tatuaram em mim, só ainda não entendi onde - por poros e mais poros deste meu maior órgão - a pele impregnada de lembranças afetivas! Difícil ordenar em texto mais ou menos linear tudo que me capturou o coração irremediavelmente lá, mas logo que cheguei e ainda conferia a exposição e programação se configurarem aos pouquinhos no município, conheci seu Aleixo, da comunidade dos Patos, com suas memórias e histórias que tanto, tanto lembravam meu avô paranaense, registro vivo da migração de sua família da Bahia até Minas e a resistência deste povo na briga pela terra contra empresas avançando em suas demarcações rústicas de propriedade...

E depois, mais tarde, conferi-lo comandando a folia de reis e contando que ouviam em família:
- Ou dançam ou apanham! - e assim nasceu a primeira diretora teatral amadora e autoritária, diríamos aqui no "teatrão" paulistano...
Teve uma noite em que ganhei a graça de ver chegarem os caminhantes do Caminho do Sertão que mencionei acima, depois de uma semana circulando 160 km, refazendo a trilha de Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, recebidos com festa em tudo que é aldeia local, não foi diferente na Chapada, em que cantaram para eles - as talentosas irmãs artistas Campos da cidade deste Encontro, conferi várias pessoas colocando água para eles descansarem os pés, preparando um café caprichado para que depois os participantes se "refestelassem" na comidinha mineira, além de muitos moradores e visitantes cheios de dúvidas, curiosidades e orgulho deles puxando uma prosa sem pressa.
Como se não bastasse tanta memória de aquecer o peito, ainda ouvi a missa sertaneja cantando "ó Deus salve o oratório"... como minha tia conta ter feito nas procissões do interior de São Paulo, então desconfiei: os interiores desse Brasilzão se conversam, não tem problema a lonjura que os distancia!
Fiquei muiiiiito animada pra um mestrado depois de prosear com a antropóloga Ana Carneiro, que fez um "estudão" sobre as receitas e histórias dos buraqueiros - ah sim, você sabia que além dos povos originários quilombolas e negros, temos também as veredeiras, machucadeiras e estes que a escritora estudou pela região do norte mineiro?
Reforcei meu apoio aos assentados ouvindo Maria, que veio de Brasília, falou nas mesas redondas e indicou aos "caipiras do asfalto" que não podem gastar os tubos em orgânicos Pão de Açúcar o serviço de entrega Céu de Passarinho. Por aqui podemos comprar do Armazém do Campo e dar um olé nos atravessadores que só encarecem as revendas, sem dividir lucro com produtor.Com relação a custos, me encantei ainda com o pesquisador Victor esclarecendo que valores de revenda tem embutido não só o que ganhamos, mas impacto ambiental, na saúde, impostos, parceiros para chegar aos clientes... E que acreditamos que o justo seria o pequeno produtor atender ao pequeno consumidor urbano!
Quis reforçar as lembranças, os agradecimentos às acolhidas, os novos amigos e também REcontar aos que já me "cantaram para dar aulas de teatro por lá", pois a arte educadora que fazia isso na Chapada estava voltando ao Rio de Janeiro: repassei tudinho, tim tim por tim para meus alunos e não só - também aos professores no Rede em Roda, encontro de partilha pedagógica que agitamos por aqui, na cidade que não para. Dividir que desconfio terem sido minhas primeiras férias em que relaxei de verdade, voltei com dor no coração de retornar, a ponto de passar dias chorando com a demora no trânsito, a poluição sonora,  a poluição das nossas vias aéreas, a distância e demora para rever os amigos, pois muiiiiitos conciliam diversos trabalhos, uns pra arcar com as contas e outros para assegurar a atuação profissional significativa que caçamos por toda uma vida.
Só sei que há uma semana e meia também visitei uma antiga amiga em Santos, embora não seja uma cidade tão sossegada quanto a Chapada Gaúcha, é um município que namoro viver quando aposentar (estou flertando com a ideia por amadurecer ou ficar tiazinha mesmo?). Foi outro retorno doído, pelos mesmos motivos que olhei de outra maneira ao vir do cerrado mineiro. Devo estar com alergia à cidade gigante pela 1a vez na vida. Por conta de que insistimos então? Parcerias, diversidade na programação cultural, parques que aliviam a falta do mato, parentes que "seguram o tchan" emocional conosco quando o bicho pega, amigos que apesar dos raros reencontros valem uma teimosia urbana ao nos revermos, retornos profissionais que começam a valer a pena, contações de histórias que me enchem o coração.... Até quando daremos conta de mais de 11 milhões de vizinhos, só Buda sabe!

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Entre histórias e aulas

Recentemente contei a história de Urashima Taro na feira literária do Colégio Santa Clara, onde marco presença há dois anos e pela primeira vez o "conto me pediu uma música" no meio da narração dramatizada. Quando o pescador se encantava com o reino do Rei dos Oceanos, cheio de pedrarias no chão, "tasquei-lhe" se essa rua, se essa rua fosse minha... E sem estranheza a sabedoria oriental deu as mãos à tradição oral brasileira. E de quebra os estudantezinhos cantaram juntos.
Realmente achei que os contos usados em asilos podiam ser adaptados e explorados entre os
pequenos e suas professoras: levei ainda A Velhinha Que Dava Nome Às Coisas. Teve irmã e "aluninha" lenbrando de mim no último evento literário, outra estudante contando das suas corujas na escola de voo (não sabia que existia esse ensino especializadíssimo em Sampa) e alguns muito curiosos "você já escreveu um livro"?!
Por fim carreguei ainda a tiracolo A Rainha das Cores, de Jutta Bouer, que já tinha destacado as cores nas contações da Livraria Cultura,  só que também associo os tons a lugares (na obra, a autora só conecta às emoções). A personagem Coralina sempre me lembra nossa poetisa Cora (só pelo nome, pois uma é temperamental, outra pareceu ser um doce por toda uma vida).
Feito criança no mar
Não sei vocês, mas tenho A-DO-RA-ÇÃO pela praia, onde fui iniciar a parceria com a Melhoramentos. Montanhas e brisa do litoral te recebendo de volta, é ou não um cartão de visitas e tanto?
Tive que fazer uma "escolha de Sofia": Ziraldo ou Pedro Bandeira? Acabei lendo e adaptando com facilidade O Rei do Grande Rio, do segundo escritor e no evento de folclore do Colégio da PM de São Vicente destaquei sustentabilidade, cantei "eu não sou daqui, marinheiro só" e "quem te ensinou a nadar" - com as vozes do público acompanhando... O brinde do fim de semana foi rever amiga da Metodista, após 16 anos da nossa formatura, que também foi para a educação (deve ser a 4a dissidente da comunicação que tenho notícia... Jornalismo está na UTI mesmo).
Música vai na sacola de palha de Cuba
Invariavelmente recorro à minha memória da tradição oral nas apresentações, mas ao contrário das
colegas da pós na arte de contar histórias, a maioria lembra das mães ou avôs contando e cantando... Até recordo de momentos com meus familiares fazendo isso, porém não o conteúdo. Depois de dar a formação em literatura nas CEIs São Benedito e Nossa Senhora de Fátima em 2015, cismei que foram nas minhas "escolinhas" que ganhei esse repertório - ele me parece ancestral o suficiente para eu não identificar sua origem...
Apesar do mercado sempre demandar narração dramatizada só para os pequenos, semana passada meus estudantes adolescentes pediram música e
ainda me saíram com essa:
- Apaga a luz e conta uma de terror!
Eles bem que confirmam o que Rubem Alves dizia "adolescência é o prolongamento da infância".
Protagonistas de parte da aula
Os adultos faço voltar ao lúdico infantil ensinando teatro do oprimido (TO) e a maioria improvisou hospital e ônibus, que é onde tem mais desrespeito de direitos pra caber a sala toda atuando. Fui congelando e pondo outros elementos: grevista, médico cansado e repórter para incluir alunos que demoraram a entrar em cena. Discutimos cidadania, política, machismo e literatura para "temperar" a aula, mas não esperava que falassem aos outros professores - estes comentaram na sala em que passamos o intervalo: é, eles refletem também fazendo comédia (imaginava que discutíssemos depois só vendo). Acabou que até no corredor tinha adolescente querendo saber para que sala eu ia!
Só para ressaltar o quanto eles querem sim atenção e novas informações, eu e o namorido estamos fazendo formação e voluntariado no projeto Preparando Para o Futuro da ONG Sonhar Acordado. No fim da capacitação, dinâmicas e debates sobre esperança e consumo consciente já tinha jovem querendo saber se dava teatro, se minha pulseira era mesmo de canela e parte do grupo pra trabalho artístico se animou com a ideia de fazer TO.
Esperança para acender a chama alheia
É como já vi um antigo professor homenagear sua mestra no Face: o que nos passaram não estanca, nem morre, seguimos ensinando e o conhecimento flui como rio. Principalmente para não deixar a "peteca do ânimo" cair de tanto que meu mestre me ensinou, porém anda meio "borocoxô": a vela de um ensaia apagar e a gente segue acendendo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Reminiscências de uma partida recente

Quando uso a roupa que herdei da minha prima é como se ela ainda estivesse próxima. Em tempo: ela pode não estar assim ao alcance de um abraço, mas mudou pro outro lado do mundo e economizar o bastante para visitá-la na terra dos cangurus parece tão improvável quanto por minha alimentação em ordem depois que as contações, formações e aulas me tomaram toda agenda possível e imaginável. Para as famílias já mais distanciadas, esta saudade tão rápida (não tem uma semana que ela foi) parece um exagero, mas como diria minha avó, para os "loucos mansos" desta casa, é perfeitamente compreensível. Minha prima foi a caçula dos dez primos irmãos, que comeu meus batons e enfiou o resto deles nos meus sapatos. A que nos deixou com água na boca
pois tinha festas em buffet, que nós primos mais velhos nunca chegamos a ensaiar comemorar com pompa e circunstância como ela. É a descendente de pernambucano "bravinha" (como se os com ascendência interiorana não fossem). A que defendeu os nordestinos na Internet quando os "fascistas saíram do esgoto" na Internet (e às vezes na rua) na última eleição. A que também era um doce com sua avó de Pernambuco, também uma graça. A que aprendeu a cozinhar trabalhando e morando fora. Ela foi minha dama quando enfiei o pé na jaca e casei, mesmo sendo tão pouco católica, mas ela arrasou com seus cachinhos e riso meio sem graça. Afinal quando fiquei "borocoxô", era ela que me buscava, ainda que não fosse pra fazer nada em sua casa, mas deixar de me sentir um bicho preguiça inútil em pela crise de deprê. Ou fui eu que fiz um treinamento teatral online a toque de caixa quando ela quis fazer seu TCC conectando a hotelaria ao teatro. Depois também fui eu que "pus fogo" pra ela e sua amiga empreenderem comigo treinamento juntando as áreas anos depois. A que chorou quando homenageei seus pais com cordel num dos aniversários de casamento. A que casei contando e cantando na festa julina familiar. De quem herdei uma paixão tórrida pela cama (se é que isso é possível tendo vindo antes), quando estamos cansadas e só queremos sonecas e Netflix. Com quem ria ou falava sério acampando em sua "camazona" em reencontros familiares que enchiam a casa de sua mãe. Dona da casa em que promovíamos almoços ou jantares divertidos na lage de sua mãe depois da reforma no "cafofo dos Nunes Mendonça". Sei lá, TPM e partidas me deixam sensííível. Por conta disso, ao invés de dar tchau pessoalmente mandei um livrozinho artesanal e caseiro no lugar duma despedida tragicômica e fui atrás de tratamento alternativo. Seria muito chororô pra um até breve. É quem admiro e também me espelho para um voo mais arrojado estudando ou encarando sub emprego fora, ainda que temporariamente. É para quem desejo muitos negócios, cafunés neste casório recente, viagens, comilança, novos amigos, paisagens de tirar o fôlego e que sempre se lembre de onde veio, para ao contrário dos sem noção política na atual conjuntura brasileira, tenha sempre consciência de para onde vai.