terça-feira, 11 de outubro de 2016

Talvez ainda dentro da bolha

Encerrei o programa Recalculando a Rota (ou não) no misto de palestras e vivências Firefly Wonderland, em Florianópolis, no Impact Hub, neste final de semana. Sei que é uma linguagem jornalística demais para um condensado de experimentações, abraços, insights, beijos, reconhecimento de companheiros virtuais de jornada de auto conhecimento e coach, desmonte do racional da não compreensão de muito do que viu, surpresas e improvisos. Mas é a comunicação em que mais fico em casa... Também contei a história A Cidade que Perdeu Seu Mar, de Elias José e abri o bocão com muitos que vieram abraçar e pedir "para continuar minha missão como narradora de histórias" - é, era algo que desconfiava, mas me "quebra na emenda" ouvir de recém conhecidos este reforço.
Não começamos lá muito bem ajustados. A balada da sexta me pegou de saia justa: estou enferrujada para eventos de luz baixa e música alta, recebi uma série de abraços e lembranças das trocas online:
- Francine!
E eu mais sem graça do que quando aluno me reconhece e me pergunto: cadê o nome dele neste córtex cerebral?
Antes das clássicas apontadas de dedo, meu tratamento de sono "come" parte das lembranças mesmo, desculpem novos amigos desvirtualizados!
Mas no mesmo dia à tarde agitamos encontros ao vivo e a cores e conheci a gaúcha Laís, também da educação, embora atualmente esteja nos bastidores. Circulamos demais entre shopping e lojinhas da Lagoa, acabei reencontrando com o mar já com o frio me segurando a ânsia saudosista da maresia, mas também foi surpreendente me aproximar justo de quem não conversei tanto antes entre aulas, atividades e meditações virtuais. Pisca alerta também acendeu: há tempos sou meio Zeca Pagodinho "deixo a vida me levar" e não me posiciono: "vamos pra praia, lojas e compras são urbanas demais"! Conheci ainda a outra coach do programa e participante de Curitiba com quem já tínhamos trocado sobre nossos olhos nos "quebrarem na emenda" com o famigerado glaucoma. Até aí, "estava tranquilo, favorável". Esta segunda etapa foi no Café Cultura, onde como diria a parceira de andanças "não tomamos café, mas um evento", de tão lindos os drinks dos baristas.
Sábado tivemos aquela manhã "como se escreve sobre o que não sei falar, só sentir"? Um casal resumiu muito rápido a atuação deles com Águas de Micael, tomamos juntos, vários foram lá para uma expansão personalizada e em tempo real de consciência e "caíram". Foram amparados, claro! Mas não entendemos nada, inclusive incrédulos caíram também. Não, não era igreja ou algo do gênero. Depois tivemos thetahealing, uma meditação/ terapia que nos remove as crenças que permitimos - tinha experimentado aqui em São Paulo, mas o sono que advertiram que poderia ter entre os alunos da Casa Violetta que me atenderam customizadamente, só rolou lá, no coletivo, com a terapeuta Letícia Taveira. Mais desentendimentos da cabeçóide que vos fala! Bom, o racional sapateando teve que ser posto "em cima da árvore", ele não decifraria nada. Para quem ainda não conhecia a jornada de autoconhecimento e empreendedorismo da Alana, criadora do programa, introdução à saga de como pariu o livro, as aulas e orientações que reúnem tantos, tantos "perdidos querendo se encontrar": uma centena e meia ou duzentos espectadores, acho eu, ela também contou sua jornada. O escritor Gustavo Tanaka partilhou sua experiência de entrar numa multinacional, questionar tudo aquilo, empreender, falir, escrever 11 Dias de Despertar - Uma Jornada de Libertação do Medo, como deixou de se esforçar e viu fluir as postagens, curtidas, compartilhamentos e publicação fluírem mais fácil. Daqui, duas lições: escrever depois que choramos aliviados e se nos encontramos lá no Firefly, é porque já éramos buscadores. Tivemos ainda empresa de área tradicionalmente coxinha - comunicação - mostrando porque optou pela insegurança, responsabilidade, frio na barriga, comprometimento, medo, mudanças quando no geral é o caminho oposto que a área vai atrás. Esta foi a empreendedora Glóbulo e deu até uma "vaga saudade" de atuar nisso. O médico Pedro Trauczynski apresentou um olhar lúcido da paternidade, como uma oportunidade de exercitar a presença, a criatividade e o amor sem ressalvas das crianças. Lembrei muito a forma com que Marcos Piangers, escritor, gaúcho e da comunicação trata sua relação com os filhos - e olha que este nem teve pai! Desconfiei que procuro um caminho similar nas contações de histórias, pois é como exercito meu instinto maternal, meio terceirizado com os filhos de amigas e público das narrações dramatizadas, num caminho lúdico, de ouvi-los, me nutrir e dar gás à imaginação dos pequenos. Também ouvimos a Jaque Barbosa e o Eme Viegas, do Hypeness e Casal Sem Vergonha, sobre a virada dos trabalhos clássicos para terem seus próprios sites e iniciativas nômades digitais. Ao mesmo tempo que que parece que todos temos esta possibilidade de ir atrás de nossos sonhos dum trabalho talhado para nós mesmos, desconfio já não ter saúde para uma meia dúzia de aninhos 12h ou mais diárias ralando "a bunda na ostra" atrás do computador para depois suavizar este ritmo. Como brinquei com a criadora do Poder para Empreender com quem partilhei caronas, pois Floripa segue com transporte público sofrível, "quero crescer, mas não exagera". Eles já tem 30 funcionários, milhares de alunos e uma caralhada de page views. Sinto que me descobri para além da comunicação: vibro no palco, em sala e formações! Porém foi um estalo e tanto lembrar depois de ouvi-los de seguir conferindo a série Continue Curioso, daqueles que largaram o certo pelo duvidoso e estão realizando seus sonhos. Finalizamos cantando, dançando, tocando percussão, da maneira mais tocante que poderíamos conhecer o projeto Grande Roda de Tambores, de Curitiba: poucas coisas me viram do avesso positivamente como uma batucada! Acabei precisando comer e dormir cedíssimo, como se a maratona inicial tivesse me mexido horrores - provavelmente foi isso mesmo que ocorreu, embora meu lado cabeçudo siga questionando tudo e todos... Hoje só o deixo mais falando sozinho, já que nem tudo tem explicação mesmo, é sentir, meio como conferir dança e se satisfazer emocionando, não buscando uma mensagem, que nem toda apresentação artística e de auto conhecimento tem explícita, de cara. Muita ficha cai na lida diária mesmo. Domingo fiz a narração de histórias depois do depoimento dum amigo de programa e ouvi no almoço a mesma percepção da minha mãe, que sou outra pessoa no palco. Bom, a ideia é essa quando estudamos e fazemos teatro... Sei que meu coração está entre as coxias, mas ainda choro ouvindo que tenho que continuar com isso, que emociono com pedidos de dicas de cursos... Na sequência, o terapeuta Ricardo Neto me mexeu particularmente por sua pegada politizada em pleno fim de semana do auto conhecimento: acredita que os mais pobres massacrados pelo sistema não terão como se conscientizar mais, porém nós sim. Numa manhã além da imaginação, a futurista Lala Deheinzelin abriu as cortininhas criativas de todos para vislumbrar como poderá ser futuramente, além de mostrar imagens antigas que já davam pistas do que temos hoje em dia, mas me tocou ela ter alertado que é muito mais difícil mudar aspectos sociais e culturais, além de quando fui desabafar o quanto é doído ser "o ET de Varginha entre os que amamos e trabalhamos", ela ter me aliviado o olhar:
- Não tente desentortar a banana. Não fui diferente. Se cerque dos mais similares cada vez mais!
Por conta dessa ampliação da prosa com ela, acabei perdendo a Letícia Mello contando seu voluntariado na Ásia, que rendeu o livro Do For Love, faz parte do projeto de mesmo nome e está agora realizando um documentário do que voluntariar no Camboja, Vietnã e Tailândia a transformou. Foi um livro que enrooooolei para finalizar (pois era delicioso conferir página a página), mas quando acabei pouco depois consegui cobrir e voluntariar no XV Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, na Chapada Gaúcha/ MG: ando numa pegada de desbravar e aprender com o sertão brasileiro. Também me identifico com a pegada desencanada dela: não dá pra voluntariar numa região tão simples preocupada com unhas! Carolina Nalon trouxe seu trabalho de comunicação autêntica - também fiquei à margem, ainda proseando com Lala, mas senti o potencial das pessoas pararem e se olharem, num exercício de pausa e conexão que já vi inclusive na praça Roosevelt, em Sampa. Nós das artes temos até costume de fazer isso, mas os participantes se acabaram de chorar, poucos riam. Nós não nos olhamos, ainda menos em tempos digitais, que sem uma interface de equipamento, não tem amor, reencontro, trabalho, nada!
Talvez aterrando ligeiramente em meio a tantas conexões sutis, o médico Leonardo Aguiar foi bem corajoso de revelar como a medicina se atrela a atuar em cima das doenças, sintomas, não das causas, algo que vi assustada há anos no filme O Jardineiro Fiel. Porém apresentou caminhos, possibilidades mais humanizadas dentro da cirurgia plástica, apoio inimaginado empoderando pacientes, como força de vontade de cliente dele "contaminou" positivamente outra corredora noutro estado, a ponto de tentarem até mesmo melhorarem politicamente a cidade - eu caí de amores por estes palestrantes que tangenciaram o lado "ação no mundo", pra além de me aprimorar.
Ainda na abordagem espiritualista, Christian Robert Rocha introduziu a Kabbalah em meio a luzes baixas, sua própria experiência familiar, deixando claro como era pouco tempo para um assunto tão rico, conectando com sua experiência humanizando pacientes sofrendo câncer e prestando homenagem aos seus mestres nesta jornada.
Encerrar com o escritor Gustavo Santos nos divertiu, tocou e acho que abalou o olhar judaico cristão de culpa contra o amor próprio. Não eram apenas aspectos técnicos ou acadêmicos levados ao palco, ele compartilhou suas próprias experiências amorosa (digna dum filme, que ao menos ganhou as páginas de sua obra Os Lacos que Nos Unem), familiar (tão traumática quanto qualquer uma de nossas memórias) e profissional (de passar temporada comprida sem trabalho, o que maltrata qualquer ânimo). Destacou como temos que nos por à frente do que faremos, diremos ou sentiremos, pois não podemos culpar os que nos cobram o que não desejamos para gente e como os que se esquecem questionam e se amarguram depois.
Sim, foi uma overdose positiva de auto conhecimento, coach e empreendedorismo, por assim dizer. Domingo ainda rolou mais thetahealing coletivo e novamente um sono sem fim que me carregou pra cama após as palestras e vivências cedíssimo, após uma pizza solitária. "Paguei de anti social" com estes efeitos colaterais, mas segunda cedo consegui caminhar um pouco na água friorenta do mar de Canasvieiras, lembrar de vários que me sugeriram dar palestras e ter um clique: daria de acolhimento da diversidade pela multipotencialidade dos estudantes, por ter passado em ambiente tão pasteurizado quando o jornalismo, celebrar a diversidade maior das escolas, estranhar a contradição de alguns conservadorismos aqui e ali, entre professores, gestão e estudantes e sentir saudade do palco, onde cabem negros, azuis, japoneses, lilases, gays e todo o universo rejeitado fora das artes cênicas. Agora,.. Mãos à obra!
P.S.: É uma das poucas vezes em que não volto com o mal estar saindo desta "bolha de retiro" para o trabalho. Gosto dele, estou mais em crise com as distâncias, trânsito, poluição e dificuldade de rever os amigos de São Paulo.
P.S.:2 Parte dos links inseridos para dar ideia do que vivenciamos são antigos, pois as palestras e experimentações recentes ainda não foram editadas...