domingo, 5 de março de 2017

Só Vim Escrever

Fiz um daqueles testes definitivamente bobinhos da Internet (eles nos rementem às nossas revistas adolescentes vexatórias: "qual é a profissão dos seus sonhos"?). Não conhecia a personagem de cinema que sou de acordo com o teste. Tentei consultar uma amiga cinéfila, mas foi o link errado na pergunta. Um trecho dele, entretanto me deixou pensando: até que amorosa e profissionalmente estou madurazinha. Era de se esperar nesta fase semi nova, semi bem sucedida e semi magra. Mas tenho lá minhas estranhezas mentais brabas. Enrolei pra encontrar meu primo caipirinha e só agora que o toró caiu caprichado arreganhei as janelas. Sou como nosso avô em comum: alegrinho, mas preferimos tempo nublado. Refiz o teste para perguntar à amiga de novo, o site resolveu que sou outra personagem cinematográfica agora. Tenho destas coisas sem sentido às vezes. Volta e meia ensaio cair lá no limbo de alguma nostalgia estranha. Há tempos procurava uma playlist com músicas corta pulsos como Smiths, Cure, Cult, The Mission, Depeche Mode, Joy Division, Duran Duran, INXS... Errei loucamente nas buscas. Neste domingo pareci acertar a mão e o som down me baixou uma necessidade braba de escrever. Talvez quem mais foi sincero comigo tenha razão, tenho umas coisas internas criançona mesmo. Bem, as boas novas são: voltei à terapia. Me deu uma dó súbita dela. Não sou madura o suficiente para não quebrar pau sobre temas subjetivos como economia e nem emputecer sem sentido. Costuma cair bem deixar a poeira passar para olhar de outro jeito mais tarde. Estou para voltar a lavar a louça, dá uma assentada numas prateleiras confusas internamente. Tem me parecido quase tragicômico cortarmos relações por questões conceituais, ideológicas, militantes e econômicas, mas... Bem, em algum ponto haveríamos de divergir caprichadamente. Inspirada pelo conto que tenho estudado para um projeto teatral estes dias, Só Vim Telefonar, do Gabriel Garcia, só quis escrever. Estou me desconstruindo quase inteira dando aula, fazendo oficina cênica, estudando o que fazia sem muita reflexão antes, voltando à terapia, reavaliando a boa e velha militância, ensaiando umas parcerias aqui e acolá... Às vezes não é lá muito simples, nem indolor. Então subo nas tamancas com quem nem é o caso. Sinto muito pela minha ascendência sanguínea. A gente ferve, Não que seja o modo mais aconselhável de lidar com as dores e discordâncias: inflamando. Mas o olhar também é passível de reeducação. Estou neste processo de recalibrar o olhar, já retrô demais nuns pontos e precisando repaginar. Alguns ainda demandam revisão dos 20.000 km rodados. Sinto muito pela minha falta de óleo nas engrenagens mais enferrujadas de ouvir seus olhares. Na maioria das vezes não sei ser leve, devagar e aos poucos. Vivi aos solavancos tempo demais. Lógico, penso que sempre é tempo de desmonte, reajuste e reconexões com as peças precisando de lubrificação. Preciso encostar, por algumas partes a um passo de enferrujar para arejar, seja na mecânica ou na garagem. Quando não pudermos olhar prum rumo parecido, que abramos as janelas, portões e portas quando o outro estiver nesta reinvenção interna toda. Às vezes é caótico. Até se colocar é confuso. Noutras ocasiões nos atropelamos. Nas mais pesadas podemos descarrilhar ladeira abaixo imprevisivelmente. Mas só vim postar.