tag:blogger.com,1999:blog-53062922080954474252024-03-14T02:17:59.575-07:00Pé de ProsaFranzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.comBlogger95125tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-48259056409290852021-01-04T11:34:00.001-08:002021-01-04T11:34:36.565-08:00Narração Sustentável em Retiro pela Cultura de Paz<p style="margin-left: 40px; text-align: left;"><iframe frameborder="0" height="270" src="https://youtube.com/embed/5xCG00-izZw" width="480"></iframe>A narração dramatizada Árvore Generosa já me acompanhou numa adoção de praça pela Fundação Toyota em Indaiatuba, nos colégios públicos em que dei aula e estudantes me diziam que lembravam da mãe, em parceria com a finada editora Cosac Naify e em sarau no Espaço Tempo de amigos na zona norte. Por isso quando uma amiga recomendou que oferecesse essa contação no retiro 108 Horas de Paz e a produção topou, me animei! </p><p style="margin-left: 40px; text-align: left;">A história de Shel Silverstein entrou no dia em que estudamos sobre meio ambiente, então tinha tudo a ver com as reflexões que traz sobre explorar a natureza, egoísmo, valorização capitalista do que não é essencial à vida, amizade, exploração, doação, saudade, entrega...</p><p style="margin-left: 40px; text-align: left;">Esta narração foi diferente das que gravei pro meu canal ao longo de 2020 porque pela primeira vez dramatizei a trajetória da personagem ao vivo numa videoconferência, testei enquadramentos com a produção, ajustei elementos de cena, chamei meu marido para gravar, fiquei na expectativa de entrar mais cedo porque todo dia algum palestrante caía devido à conexão instável...</p><p style="margin-left: 40px; text-align: left;">O frio na barriga, nosso companheiro de guerra, também foi outro: a transmissão em vídeo das pessoas foi se transformando em várias telinhas só com o nome delas, via a mediadora, mas a interação só aconteceu antes e depois de contar. Fora a emoção que oscila entre o ensaio e a contação... Claro que deu para matar a saudade das borboletas no estômago, mas imagino que a primeira narração ao vivo será uma farra quando a quarentena deixar...<br /></p>Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-82662123725468229582020-12-01T09:24:00.002-08:002020-12-01T09:24:23.453-08:00Rebordosa Eleitoral<p> <table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7LVO9NOio2GmrQnWp_NXtTtYnKKBxgueeIssFqY6bDdPy44Dz869vfDUUI2Kqdw-N2JVnSa-dAIhSSPpu7IMGRz7lBZ7NttneMxVsUe8TKJ2DeaJdD-k_42Sq6iFgiKsLMSN6EVDdXXvU/s669/noivinha+Conto+de+Fadas.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="669" data-original-width="246" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7LVO9NOio2GmrQnWp_NXtTtYnKKBxgueeIssFqY6bDdPy44Dz869vfDUUI2Kqdw-N2JVnSa-dAIhSSPpu7IMGRz7lBZ7NttneMxVsUe8TKJ2DeaJdD-k_42Sq6iFgiKsLMSN6EVDdXXvU/s320/noivinha+Conto+de+Fadas.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b>Noivinha com cara de poucos amigos<br />entre os vizinhos, futuros bolsonaristas,<br />no pré, desconfiada que só uma<br />mãe de santo mudaria a política brasileira</b></td></tr></tbody></table>Ainda arrasto correntes pela eleição aqui em meu semi isolamento. Ainda...! Devo ressaltar que essa <i>rebordosa das urnas </i>não se deve ao vira voto de véspera não ter sido o bastante. Há pelo menos dois anos buscamos alfabetizar politicamente os desavisados no chão de escola - e para isso nem preciso contar só com amigos educadores, os próprios estudantes já questionam os conservadores de que a cidade retrocedeu na maior parte dos serviços que os impacta. Se considerar que artisticamente fazemos essa conscientização indireta - trabalhando Brecht e Augusto Boal, entre outros - lá se vão seis anos. Esse desabafo introdutório é para comprovar aos colegas esquerda caviar: militância emergencial de véspera não é o bastante. Nem nosso trabalho de formiguinha nos bastidores educativos é. Acrescento ainda que os amigos da saúde mental, ativismo sustentável, assistência social, militância feminista e criação artística engajada fazem parecido comigo: mediação criativa e conscientizadora para colaborar na leitura crítica e sensível do mundo. E ainda assim não damos conta. Precisamos que revezem conosco daqui até o próximo pleito, já que vários de nós têm adoecido, brochado, aposentado, entregue os pontos e operado no piloto automático.</p><p>Cada vez mais tenho compreendido e concordado com uma frase duma amiga de trabalho e criação que foi-se embora para o Nordeste: <u>"nasci no Brasil, mas não mereço em morrer em São Paulo"</u>. Não por acaso eu e meu companheiro temos sonhado alto em fugir para Pernambuco. Parafraseando Crioulo "não há amor no <i>Tucanistão</i>". Nesse bode existencial de intolerância tucana, tenho tido delírios devido à insônia nos quais questiono o que os eleitores municipais tem contra nós se levamos material de casa para aulas mais criativas, brigamos pelos materiais sonegados para o quartinho de despejo da Educação de Jovens e Adultos, disputamos arduamente espaço na condução pública para carregar livros de arte e acessórios de cena, enfrentamos assédio para chegar à escola brincando e debatendo feminismo, reinventamos aulas para que percam o ranço dos professores conteudistas e tecnicistas que já tiveram... Porque a maioria reelege - ou se abstém - votando ou passando a responsa adiante para que siga no poder governos que concedem benefícios, compram votos, terminam obras na véspera da votação e ainda aprova maior desconto previdenciário dos servidores. Esses que tentam fazer algo pelo cidadão, mas com os serviços sucateados não tem sido muito simples. Porque essa medo e desconfiança de sair da gaiola política se a maioria reclama desde a última eleição que não está bom?</p><p>Não muda muio o panorama onde moro, a cidade mais rica do Brasil, que vota como mulher de malandro: a situação está ruim, mas não rompe o relacionamento abusivo porque não questiona mais as amarras invisíveis depois de tanta opressão imobilizadora. Antes o cassete do parceiro abusivo do que uma novidade que mal conseguem imaginar. É real aquela máxima: não me espanta, mas afeta. Entendo e concordo que o bom combate não é derrota, que a dupla Boulos e Erundina é gigante e que quando a política retrocede são anos ou décadas historicamente para avançarmos novamente rumo à justiça social, mas me animei sagitarianamente demais com a eleição de vereadores e alguns prefeitos representando a diversidade, tentei conter meu otimismo patológico sem sucesso; tenho sentido a prosa poética como uma utopia para a qual caminhamos, sem muita chance de atingir e bem, não sei vocês, mas queria <i>Erunda</i> de vice antes que ela vá militar no céu. #prontofalei Fora as bizarrices que encararemos no serviço público sem recurso ou agenda o bastante para todo auto cuidado que precisaremos, mas tá bem, chega de café da tarde com militância educativa por hoje.</p><p>Não, não estou em TPM, mas sim, tenho tido insônia e como Zeca Baleiro "ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar". Todo esse textão desabafo para concluir que a militância da esquerda precisa funcionar como uma corrida de revezamento: quando aqueles da linha de frente perderem o gás e precisarem recarregar as baterias, que os ativistas emergência pré eleição assumam o serviço pesado. Sim, o movimento #viravoto nos reacendeu uma esperança, poesa e diversão na campanha. Talvez as pessoas sensíveis com senso de justiça estejam numa sofrência maior agora. Podemos nos unir numa espécie de AA e se comprometer "só por hoje não acharei que o pobre de direita aceitará dividir seu pão com ovo".</p><p>Brincadeiras à parte estou há dias a fim de pedir aulas de como ser um sagitariano pé no chão para um sobrinho de 8 anos que há algumas votações disse que se fosse adulto, não votaria no <i>Bolsoliro</i> e tendo acompanhado a fundação do 1o partido socialista popular periférico anti capitalista percebeu meio precocemente "mas eles não deixariam nosso candidato ganhar". Vamos falar o que para essa turminha? Eles é que tem que ajudar transformar uns olhares por aí.</p><p>Agora com a licença de vocês, mas preciso por um sono rebelde em ordem...</p>Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-70956280686327427782020-10-01T08:36:00.000-07:002020-10-01T08:36:03.314-07:00Querida Avó<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigdp_0WljT8kbYc4xOV8AYRa500sbuA-6TieTKoe6J_ac1aZxZ7qe-gDx1FGEMkzueWVPdQPne5vWWfBopHuM-7_Yp6Sc61O4hx2eWCoE3NR2F16VR-NSu7miTVDbBsf-rN2LiTdGiQgol/s1386/img320.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="966" data-original-width="1386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigdp_0WljT8kbYc4xOV8AYRa500sbuA-6TieTKoe6J_ac1aZxZ7qe-gDx1FGEMkzueWVPdQPne5vWWfBopHuM-7_Yp6Sc61O4hx2eWCoE3NR2F16VR-NSu7miTVDbBsf-rN2LiTdGiQgol/s320/img320.jpg" width="320" /></a></div><br />Tenho sentido um chamado de te escrever. Evitei sem entender muito o porque das fugas. Talvez por não ter te conhecido. Por já ter partido. E não ter ideia de como dar palavra ao que não vivenciamos. Mas decidi descobrir como contatar você rascunhando. Porque? Bem na última faxina olhei novamente o porta retrato com meus outros avós e quis chorar. Ou porque comecei ler uma escritora negra que me lembrou outra feminista falar que provavelmente sou a primeira da minha geração a ter voz. Talvez escreva por você vó. Uma vez recebi uma chamada de reportagem sobre a vida sexual das avós. Corri. Por sempre ouvir que era autoritária, pouco participativa, bruta e indesejada. Será que foi assim contigo vó? Porque a lenda familiar dava conta de que era feliz com meu avô. O da foto. Por aqui, gerações depois já estamos na reparação histórica sexual. <br />Tem algo curiosos entre nossas conexões: você e o vô tinham nomes como os dos estudantes com os quais brinco, porque foram muito arrojados no batizado de todos. Seriam frutos de criatividade cabocla nos registros? Vô dizia tanto que éramos caboclo com caboclo que passei os últimos e recentes anos me embrenhando Brasil adentro. Achava que levantava a versão dos povos originários que sempre senti falta na escola. Mas fui atrás de mim vó. E me achei: nos chás das avós brejeiras das minhas primas. Nos causos ouvidos dos indígenas. Na noção de parentesco entre etnias deles. Na hospitalidade, comida sertaneja e dificuldades passadas pelos quilombolas. Levo o máximo possível para sala de aula vó. <br />Quero dividir sonhos: eu e meu companheiro sonhamos em fugir para o interior. Ele é descendente de nordestinos. Sei que vocês no interior sonhavam em fazer a vida aqui na cidade grande. Mas ela já detonou a saúde de todos nós. E acredito no que dizem os acolhedores mestres afro griô: "quando não sabemos para onde ir, temos que voltar para onde viemos". Para onde voltaria se fosse viva vó? <br />Lembrei que mãe e tias sempre lembram como choravam quando casavam e mudavam para longe da família de origem. Minha terapeuta conta de famílias em que a maioria não podia nem derrubar lágrima. Deve ser verdade que somos as primeiras a ter voz em gerações. É um pouco por isso que escrevo. A escritora que falei - Grada Kilomba - fala em seu livro/ tese que a pulsão de escrever vem da necessidade de ter voz, ser ouvida. O que você cochicharia ao pé do ouvido, próximas do fogão a lenha? Os sem terra urbanos do centro oeste me contaram do movimento das novas gerações - nós - a voltar pro sertão, interior... Sempre lembro da mãe contar como trabalhavam por comida, casa, móveis e cavalo nas fazendas do norte do Paraná. Talvez por não ter vivido isso, lembro mais forte dos cheiros de café, terra vermelha e chuva. A região nem tem mais esses aromas. Mas meu coração e nariz são apegados aos afetos em tons de sépia. <br />Por falar em fotos antigas tudo que conheci de você vó foi a foto em que segura minha mãe nos braços e está de joelhos, porque cegou temporariamente, fez promessa e voltou a ver. Por isso mãe tem nome da protetora da visão. Eu por um triz não ceguei também: as 7 cirurgias do glaucoma congênito, mais muitos colírios deixaram tudo sob controle. Esse vem e vai de questões oftalmológicas, sei lá só a psicanálise explica. Mas é gozado como tem qualquer coisa de simbólico nisso: vemos mais abusos eternos com dessossego que nossas antepassadas. Isso também é perturbador. <br />A saudade do meu viciante chão de escola também perturba. Não te contei? Estamos mais ou menos presos há seis meses por conta do risco de pegar Covid19. Dizem que vocês viveram outros outros sustos, por outras doenças. Não tem sido fácil: perdemos pessoas queridas, quando temos que sair tememos tudo e todos, pessoas que se amam há um semestre na mesma casa brigam por muito pouco... Talvez o clima mesmo da quarentena nos deixe saudosas. Sinto falta da piscina do Sesc (acredita que nadei com senhoras que comemoravam a viuvez que viviam?). Tenho saudade de fazer teatro sem intermediação de telas digitais. <br />Não dividi contigo né? Temos artistas em famílias e somos dos bons. Ouvimos que lá atrás alguns de nós éramos violeiros de moda caipira. Hoje em dia os que resistiram na trincheira das artes são do teatro. Só na base da criação para resistir a tudo isso. <br />E por falar em criação... De tanto querer e adiar te escrever lembrei da minissérie A Casa das Sete Mulheres. Acho que nesse movimento feminista e de círculo de mulheres entendo o que me encantava tanto nessa produção: elas também viviam aquele cotidiano doméstico sem muitas possibilidades. É a mesma razão do quanto me atraía, mas sofria com a personagem Ana Terra, do Érico Veríssimo, que enfrentava a mesma pasmaceira doméstica, mas sonhava com mais. Como talvez pode ter sido seu dia a dia vó. <br />Talvez por ser uma das primeira entre Machados, Duarte, Mendonça e Brandão a ter voz, te escrevo para contar que sinto muito por não ter ouvido a sua. Por todas as cartas à mão que dão saudade do cheiro paranaense serem do meu avô. <br />Espero que meus sonhos, lutas, ideais e escolhas não te decepcionem. <br />Te <3 sem nem entender. <br />Sua neta arteira, Fran<p></p>Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-66109595508596845542020-07-24T19:35:00.000-07:002020-07-25T06:28:13.063-07:00Arte como canoa para travessiaDepois de meses entocada voltei à travessia duas cidades para lá de casa. Há mais de quatro ciclos lunares entocada, com espaçadas escapadelas de abastecimento, auto cuidado e ajuda aos pais. O mais perto possível. Nas poucas saidinhas mais contramão de casa, rezei na condução pública, tomei banho de álcool em gel em cada encostada.<br />
Mas esta semana subi na moto como quem sobe o Corcovado. E a despeito do motivo melancólico, fiquei maravilhada com o sol na cabeça, o vento no rosto, o reconhecimento de cada café, bairro, parque, avenida da cidade em que trabalho e o espanto de só ter atingido esse pertencimento lá por ter criado raízes no trabalho pela 1a vez.<br />
Apesar do coração na mão, meu companheiro tinha razão: o lugar é bonito. Não sabia o que dizer, talvez meti os pés pelas mãos, mas as máscaras também previnem bolas fora para tagarelas como eu. Ainda não tinha vivido a estranheza de consolar e me despedir sem abraços. Bom, estávamos meio de bode da pasmaceira do isolamento. De sopetão ficou intenso e derradeiro demais.<br />
Lá para as tantas não sei se a asma me tirou o ar, se não saber lidar com os momentos <i>corta pulsos</i> me tirou o chão ou se aos 45 do 2o tempo tive medo de estar no grupo de risco e longe de casa, tentei tomar um ar com o marido, que trouxe um capuccino pra sei lá, eu não me partir em lágrimas. Há meses sentia falta desses cafés em que os baristas põem tanta coisa, que meu pai diz que comemos uma torta e não tomamos um drinque cafeinado. Me despedi atabalhoada e de novo, a garupa me envolveu em memórias e afetos: recordando e celebrando cada esquina santoandreense, fazendo festa entre o vento, cabelo e o capacete e pela primeira vez em décadas abraçando o sol felizaça. Branquelos como eu não tinham boas memórias com o sol antes do corona19.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSguvny5aLSEDFI9n_vTbwoMx5_-k9d6yi3s2guZgeFDk5_MgqaidSr9zV8hVIcXesB0fdWLqhC3ZvhJW8xcMDdGqtn7iWY4gQimGmMTLlQsaMNpq-ig0qEDEszpWunUtQvKS4mQ-v41jl/s1600/luto.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1200" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSguvny5aLSEDFI9n_vTbwoMx5_-k9d6yi3s2guZgeFDk5_MgqaidSr9zV8hVIcXesB0fdWLqhC3ZvhJW8xcMDdGqtn7iWY4gQimGmMTLlQsaMNpq-ig0qEDEszpWunUtQvKS4mQ-v41jl/s320/luto.jpg" width="320" /></a></div>
Aterrizei da carona em casa e já despenquei culpa abaixo. Afinal, tinha perdido minha segunda mãe. Me senti mal pela animação de sair da toca depois de quase criar mofo nela. Minha gatinha Peteca miava enlouquecida. Entrei num estado roupão: só queria sofá. Acho que meu marido, que tinha ido ao banco, adivinhou e trouxe <i>fast food</i> para nos animarmos com o almoço <i>junkie</i>. De lá para cá embarquei numa rave burocrático-acadêmica entre videoconferências, repartições públicas e home office. Não dei conta de muito do que costumo usar pra manter a sanidade em tempos sombrios. Ainda assim manter o que não tinha negociação de prazo foi uma despistada boa da tristeza. E sabe-se lá porque boa parte dos sensíveis como eu tentam dar perdido no mal estar. Obviamente que encontrar o que ela me deu ou amigos perguntarem como estava já produziram muito desaguar.<br />
Quem me resgatou desse vai e vem do luto foi - sempre ela - a arte. Partilhei estudos e práticas de Teatro do Oprimido(TO) numa conferência sobre ensino cênico na internet. Costumo resgatar os causos do começo do TO e dos praticantes pra contextualizar nessas trocas. Podia usar uma meia dúzia deles, mas contei do grupo das Marias que fazem faxina e atuam. Minha 2a mãe cuidou da minha casa e da de vários parentes por décadas. Estudar o que se ama tem disso: a gente se melhora no processo. Há dois anos estudei reforma trabalhista e esse grupo das Marias com meus alunos, entre os quais muitos já limparam casas, mudei meus olhares e questionei várias coisas com minha 2a mãe. Mas quando ela dizia que não era como desconfiava que podia ser, ninguém mudava a visão dela...<br />
Foi ainda a música que me aproximou dela na semana quase se esvaindo: estudei percussão e canto de trabalho. Nessa segunda pesquisa, os professores partilharam canções de comunidades interioranas de trabalhadores em que depois deles entoarem a letra, somos convidados a emendar criando versos e então nossos mestres voltam ao refrão. Fiz versos pra amiga: "minha amiga foi embora/ já chorei meia semana/ com a cantoria lembrei/ que a vida é boa".<br />
Já estamos há mais de 120 dias tentando acostumar com as incertezas. Com a passagem da minha 2a mãe, não tenho mais ideia quando os rompantes chorosos voltarão. Mas uma coisa tenho sentido pulsar nessa entressafra sanitária que estamos tolerando: a arte é minha canoa para travessia desse maremoto; E você, em que suporte embarcou para não temer essa tsunami?Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-76330805732167891122020-07-10T11:43:00.003-07:002020-07-10T11:43:45.540-07:00Mosaico de Rostos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis5goX0cluhXh8A6-nkeK1gr-7XL7bfXAzYZOd-Tb4ov3j37hT3X5F2XsCRxdDK70_0Mzt33EPEcrxwuqsZ-dBhvueYiWTgo5E9tkdXLwxWLZNIFVz28vmHqRL1NKbzUdtCfAg3NUsOjPx/s1600/Spolin+Meetings.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="620" data-original-width="1358" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEis5goX0cluhXh8A6-nkeK1gr-7XL7bfXAzYZOd-Tb4ov3j37hT3X5F2XsCRxdDK70_0Mzt33EPEcrxwuqsZ-dBhvueYiWTgo5E9tkdXLwxWLZNIFVz28vmHqRL1NKbzUdtCfAg3NUsOjPx/s320/Spolin+Meetings.jpg" width="320" /></a></div>
Compulsiva por estudo: sou dessas. Até mais do que em relação ao trabalho. Mal comecei as férias da pós e das disciplinas pro futuro mestrado e já embarquei nas conferências meio cênicas e meio digitais da comunidade Quinta Parede. Uma amiga da outra pós criou esta comunidade no <i>Fuçabook</i> para discutir os desafios de ensinar teatro na pandemia.<br />
Quando participei e ainda discutíamos isso, parece que outros professores, de outras áreas, mas com dificuldades semelhantes já traziam as desigualdades sociais que tornam a arte educação quase missão impossível em diferentes redes públicas de ensino.<br />
Agora na nova fase da gente se rever no <i>Google Meetings </i>sorteamos, experimentamos, dividimos alegrias, propomos saídas para dificuldades e discutimos as avaliações propostas pelas fichas de jogos teatrais da <a href="https://www.teatronaescola.com/index.php/biblioteca/material-academico/item/302-os-jogos-teatrais-de-viola-spolin-uma-pedagogia-da-experiencia">Viola Spolin</a>. Em algumas das propostas que essa teatróloga vivenciou com operários mergulhamos mais lúdicos que nunca. Até meu marido ensaiou participar da sala ouvindo minha animação no escritório. Ganhamos uma presença, um viço, um jogo de cintura e nos divertimos criando juntos. Noutro sorteio fizemos mas sentimos falta de uma continuidade pra dinâmica e na derradeira, quase nada da ficha pode ser transplantado pro ambiente chamado por um dos participantes de "mosaico de rostos". Dá até vontade de escrever uma dramaturgia com essa inspiração. Experimentar na internet com amigos "arteiros" é bem pedagógico: também temos turmas animadas, brochadas e semi engajadas nas escolas offline.<br />
Em duas semanas experimentaremos jogos de teatro do oprimido de Augusto Boal! E até lá, a expectativa e animação põem lenha nessa fogueira teatral. Pra nós, que fomos picados pelo bichinho das coxias segue fazendo falta o encontro, o efêmero, o espontâneo, a integração do grupo, o jogo de cintura com um parceiro de cena e <i>ressignificar</i> objetos duma sala menos pessoal que nossas casas... Mas também fazemos parte daqueles aos quais a falta dos aprendizes, colegas de estudos e parceiros de criação está tão inflacionada, que qualquer ajuste digital que possibilite parte disso é abraçado prontamente.<br />
Meu único problema de fazer curso totalmente virtual é que isso me revelou uma stalker e tanto. Algum outro participante acena afinidade comigo e já confiro perfil, quero ser amiga, mas estou segurando minha onda já que mal dou conta do que tenho no colo atualmente. Pouco depois do início da pandemia li que nos períodos mais tensos politica e economicamente na Europa, fazia-se teatro apesar de perseguições e outras dificuldades. Claro que apesar da gravidade do que vivemos, não é possível comparar a esses períodos históricos. Mas justamente por ser ocasião menos pesada, ainda damos um jeito de superar os paus técnicos para experimentar e descobrir como (re)fazer vínculos em tempos sombrios.<br />
Ops, por um triz esqueci dessas pequenas grandes alegrias: rever amigos dos palcos em cena e eles festejarem nossa "chegada" virtual. Que a gente sustente essas pontes online para depois refazê-las offline.Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-82030649923266880172020-06-20T14:55:00.001-07:002020-06-20T14:55:13.331-07:00Construção meditativa de pau de chuva<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOnfSwThg2YUra1btp92ofwF939iCuA3stehvIGpnb1nJvCC5PF4agpkilFolOUxQSEC2ny4rTn7J3xjJDfNeQQtFWJFW2eJudGHRJWkcSFOIkOOfaeaBdFa1Pgkd3PcHyUt_ZsoklqOax/s1600/pau+de+chuva.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="720" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOnfSwThg2YUra1btp92ofwF939iCuA3stehvIGpnb1nJvCC5PF4agpkilFolOUxQSEC2ny4rTn7J3xjJDfNeQQtFWJFW2eJudGHRJWkcSFOIkOOfaeaBdFa1Pgkd3PcHyUt_ZsoklqOax/s320/pau+de+chuva.jpeg" width="180" /></a></div>
Só no isolamento entendi um amigo judeu que afirmava ser o teatro a verdadeira religião dele. Apesar de também vir duma paixão pelas coxias (os bastidores teatrais) e de ser meio budista, meio macumbeira, na quarentena experiencio que a arte é minha religião raiz. Claro que me apoio noutras "muletas": me movimentar faz com que a serotonina fique num nível razoável para quando der uma encrenca consiga vencer a prostração e resolver. O estudo do que amo alimenta as inspirações, dá ideias e permite trocas que nos instigam. Meditar me deixa confortável nessa mente, que é a única que tenho. Ver filme ou série às vezes anestesia, às vezes traz novas descobertas - como agora que confiro <a href="https://www.omelete.com.br/series-tv/criticas/segunda-chamada-globo">Segunda Chamada</a>, sobre a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em que trabalho. Mas como é possível prever pela lista de auto cuidado acima, não dá para manter a constância em tudo nem em tempos pandêmicos. Quando a agenda ou a grana aperta, recorro à arte. Esta é uma obviedade para quem ensina artes, mas me esquecer na experimentação artística e vivenciar como ela reverbera para além da expressão ou linguagem que exploro no momento são encantos que surgiram com a pandemia. Farei uma associação didática com minha própria espiritualidade: embora meu coração seja macumbeiro, a cabeça é budista. E nesta segunda, aprendemos e debatemos temas que nunca ouvi nas outras muitas religiões que conheci: apego, auto centramento, aversão, inexistência intríseca do que nos faz sofrer, iluminação, reino dos seres famintos, não identificação com nossas emoções, obtusidade mental, entre outras cabeçudices. Não por acaso estou entre esses retiros, estudos e meditações há 16 anos: também sou cabeçuda. Volta e meia ouvimos dos facilitadores e mestres sobre auto geração de energia autônoma para romper a eterna sede dos carentes que sempre buscam tomá-la do que se apegam. É mais uma das tantas teorias que só a pira do corona me fez sentir. E enquanto não reverbera no corpo, é muito difícil que qualquer conhecimento se fixe em mim. Nos últimos dias andei meio caída: emoções angustiantes, que minha vigília crítica não conseguia jogar para escanteio, burocracias empacadas, estudos meio quadrados tomando a maior parte do tempo, cansaço de situações repetitivas cujas sugestões de resolução que muitos propuseram já foram exploradas à exaustão, mas somos incapazes de sustentar as melhoras. Quando fui estudar um livro que quero contar, encontrei entre os elementos de cena uma flauta diferente que já tinha imaginado de outra forma porque estava encostada. Desencanei de ensaiar a história que contarei e fui transformar essa flauta num pau de chuva. Planejei como tenho dificuldade de fazer em minha própria vida: separei tudo que usaria antes de começar. Ressignificar o mundo à nossa volta viabiliza que a gente ensaie pra mudar o mundo pra além do nosso universo particular. Criar sensibiliza a gente: minha gata causou brincando com os materiais que usaria, mas o processo me deixou tão encantada que ri dela feito criança. A arte é um terreno em aberto para nossa expressão: me satisfiz mais com as cores e brilhos do que com o som. E embora seja um instrumento indígena, me arriscar serviu também para ser mais generosa comigo. Não ouvi o que pensei que ressoaria, mas rebatizei para pau de garoa (meu marido está chamando de pau de sereno), mas me senti tão presente, esqueci tanto da vida que fiquei rindo espontaneamente, a playlist do <a href="https://www.youtube.com/watch?v=vIwP2TsKee4&list=PLkuymT0sa6fVjADpL855a7bAbttazbg5Y&index=1">Antonio Nóbrega</a> combinou tanto com o momento que relativizei o som fugir do que imaginei. Na vida costumo ser mais sargenta comigo. A arte nos torna melhores porque comecei meio desgostosa com o que contei e terminei não só feliz, mas percebendo a mudança do estado de espírito e ficando presente o suficiente para curtir essa transição. A partir desse movimento interno terminei lidando melhor com todos no entorno. É uma meditação em movimento porque ficamos no momento em que agimos, mas também percebemos maior ânimo para as coisas externas. A arte possibilita que a gente exercite nossa criatividade, descubra caminhos, passe por cima do que não funcionou e celebre se esquecer entre tecidos, glitter, tesoura, grãos, durex, pincel e fita crepe. Que a gente leve esta criatividade ensaiada para todas áreas da vida que precisam. Listo essas impressões marcantes porque já ouvi e li várias espiritualidades que oferecem o mesmo. Mas eu cheguei em cada ficha que caiu fora dos retiros, vivências, rodas e workshops que experimentei - alguns desses também me fizeram bem, mas nem tanto quanto a experimentação artística. Que vocês experimentem também - e comentem, lógico!Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-22406933361137028552020-06-14T15:37:00.000-07:002020-06-14T15:37:03.911-07:00No meio dessa busca havia uma reviravolta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyM9XlYDeAR-TzIg07U7VHN2KZBZ8e7zW1IAPCcnnHLrE3kC0z2QocS9OGLWOCy4dET5SCU0n7oflzF0KNB6RGnEKwnpbI_4W4Unalf9B7-Qk5-fM-DVgz2T5U9dKPOrRryQnLr4CG1n4E/s1600/trisal.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="560" data-original-width="395" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyM9XlYDeAR-TzIg07U7VHN2KZBZ8e7zW1IAPCcnnHLrE3kC0z2QocS9OGLWOCy4dET5SCU0n7oflzF0KNB6RGnEKwnpbI_4W4Unalf9B7-Qk5-fM-DVgz2T5U9dKPOrRryQnLr4CG1n4E/s320/trisal.jpg" width="225" /></a></div>
Ainda não tinha me localizado entre as mensagens da família e do trabalho, quando a Nina me procurou desesperada. Se caiu de pára quedas nesse bonde andando e não consegue sentar na janelinha e dar <i>tchauzinho</i>, Nina foi o pivô da briga entre eu e o Davi, no estilo melodramático rasgado "ou ela ou eu"! Ainda era cedo então demorei a entender, até porque a Nina também é meio tragicômica. Apesar do sono, nada soou minimamente engraçado depois de cinco minutos: o Davi tinha desaparecido e a Nina procurava alguma pista do paradeiro dele.<br />
Meio bêbada de sono respondi no piloto automático que a ajudaria. Não que tivesse ideia por onde começar, mas como tinha discutido há pouco tempo com ele, estava com raiva o suficiente para levantar palpites de onde procurar. Desisti de me encontrar entre as mensagens dos conhecidos, chefes e colegas de trabalho e fui encontrá-la. Na entrada da estação a barraquinha de café da manhã caseiro me lembrou que continuava de estômago vazio. Preenchi a barriga com a média e pão torrado de sempre e fui atrás da Nina, porque ainda tinha uma viagem urbana pela frente.<br />
De repente a empreitada de ajudar a "pseudo amante" dele a encontrá-lo me pareceu o tipo de bizarrice que só eu mesma para me meter. Mas era cedo o bastante para o cansaço ainda tomar conta de mim, então dormi e babei com sucesso até a plataforma da outra ponta da linha, onde nos encontraríamos. Fui me tocar que já estava no destino final com a gravação do condutor nos tocando do vagão para recolher o trem. Desembarquei e a Nina veio me encontrar. É bonita, Minha intuição não estava de todo errada de ter ciúme do Davi. Nós sorrimos amarelo e sentamos para entender se tínhamos ideia do que podia ter acontecido. Ele tinha sumido na véspera, ainda cedo. Pouco tempo depois do nosso bate boca. Tive dúvida se contava da briga porque já estava me perguntando se ajudei sem querer no sumiço dele. Nina falou com nossas quase cunhadas, soube que ele tinha deixado documento, celular e moto lá, passou no trabalho dele, nem rastro do irresponsável, procurou ainda pelos amigos com os quais mais conversava nas redes sociais, nenhum tinha notícia. Estava grilada por causa da <i>deprê</i> dele, parece que os remédios também foram deixados para trás. Quando ouvi isso, muito dos rompantes e dificuldade absurda dele levantar da cama fizeram sentido. Porcaria: ela o conhece mais que eu?<br />
Nina deve ter perguntando mais de uma vez por onde poderíamos caçá-lo, porque estive temporariamente no mundo da lua sem articular resposta. Encontrei um bloquinho de notas na minha bolsa, rascunhei e sugeri um roteiro para ela: hospital perto da casa dele, delegacia próxima ao trabalho, IML e bares que costumava ir.<br />
- Quer incluir algo? - perguntei. Mas ela topou o roteiro proposto. - Se tivermos outras ideias nestas andanças, atualizamos por onde passar.<br />
Sem carro, esse vai e vem levou muito mais tempo do que tomaria motorizada. Além das duplas conduções de um ponto a outro, pelo caminho fomos percebendo que era preciso ampliar um pouco as buscas. No hospital por exemplo, não havia dado entrada nenhum Davi neste meio tempo em que ele sumiu do mapa. Propuseram que víssemos no posto: vai que teve algo mais simples? Passamos lá também, mas apesar de ser na mesma região, como o transporte público periférico presta um desserviço nessas horas, demorou horrores até a etapa saúde pública ser ticada da lista. Nada de Davi internado, se examinando ou tomando medicação. Pista furada.<br />
Entre os stress e preocupação, acabamos nos aproximando. Ela estudava algo que já flertei pesquisar: roteiro. Nina riu enquanto desabafei do trabalho. Aliás só lembrei de dar um sinal de vida quando já estava sem memória para mais mensagens no celular. Quando ela relaxava dava para entender o que ele via nela. Uma parte de mim se incomodava: não sei porque, já tinha dito ao Davi que não queria mais ver a sombra dele. Nos momentos em que Nina se preocupava esquecia o mal estar e tentava parir alguma ideia de onde podíamos ir ainda naquela terça cinzenta.<br />
Fomos parar próximo de onde o desaparecido trabalhava. E por lá fizemos uma ronda caprichada: na delegacia foram estúpidos, mas também não levantaram pista alguma do sumido. Paramos para comer, pois já tinha passado da hora de forrar o estômago e estávamos meio sem saber o que pensar. Soube que ela mora onde vive minha avó. Comemos todas besteiras disponíveis na lanchonete, talvez por um nervoso inconfesso. Foi a vez da Nina falar do trabalho: faz revisões, também está cansada da precarização do mercado e tem frelas atrasados. Sorri amarelo. Parece uma moça que entrou de gaiata no navio tanto quanto eu. Contei dos parentes perto de onde ela mora, de como o trabalho não dá vontade de levantar e os sonhos de viajar. Dou risada de nervoso.<br />
Embaçamos o quanto foi possível, mas fomos parar no IML. Os funcionários trataram com estranheza duas mulheres perguntando dum mesmo homem do tipo "curva de rio". Falta de imaginação desses legistas. Podemos ter ciúme, mas o embuste some e uma de nós sofre, vamos lá dar uma força e descobrir o que aconteceu. O que acontecerá depois... Bom, o futuro é misterioso, paciência! Por hora nos bastava não ter a mais vaga noção do que rolou com o Davi. Nada entre os arquivos e nem entre os <i>presuntos</i>. Podíamos sair ainda como não viúvas. Pensei em brincar para descontrair, mas percebendo que ela franzia a testa, desisti.<br />
Já estava tarde e começava nossa saga boêmia atrás do Davi. Parecia roteiro de curta, mas não, a arte é que imita a vida. Ele bebia heim? Perdemos a conta dos balcões em que perguntamos por ele. Alguns garçons e frequentadores nos reconheceram de outras bebedeiras com ele. Estranharam também lógico. Deviam se perguntar quem entre nós duas era a sede e qual seria a filial. Porque depois de alguns botecos notamos os olhares mais inquisidores. Depois de muito pé sujo e mais sobrancelhas franzidas, Nina ouviu o celular tocando. Fiquei temporariamente com o coração na mão, porque depois de passar em tanto lugar questionando paradeiro dele... Vai que algum deles ligava e a notícia não era das melhores? A ligação pareceu durar uma eternidade. Nina ficou emburrada numa expressão que não conseguia compreender o que queria dizer. Finalmente desligou: tinha notícias, mas eram revoltantes. Sentamos no degrau de saída do boteco meio caído em que estávamos. A irmã procurou pra contar que Davi deu uma surtada, largou tudo pra trás e estava nos tios do interior. Nós desacreditamos que praticamente tínhamos batido perna atrás dele o tempo todo e o desaparecimento foi um piti que ele deu, mas esqueceu de nos avisar.<br />
- Se a gente desse uma dessas...<br />
- Era acusada de histérica.<br />
- Inacreditável.<br />
- Acho que ele foi pra lá depois da briga contigo.<br />
- Será que isso mexeu tanto assim com ele? No dia não pareceu.<br />
- Sabe como é homem: a gente contraria e eles piram.<br />
- Foi patético, mas ao menos pude te conhecer.<br />
- E o nervoso partilhado humanizou esse desencontro todo.<br />
- Com ele sem celular nem temos como brigar com o cretino!<br />
Um forró ao vivo atravessou nossa conversa, vindo do bar da frente. Não fazia parte da rota que o Davi frequentava e resolvemos beber por lá para esquecer do dia zicado que finalmente chegava ao fim. Avisei os que me procuravam mais insistentemente desde cedo e ainda se mantinham sem resposta. E não é que os músicos eram bons? Ela se empolgou na cerveja. Eu, que já não sou muito do chopp, fiquei na pinga com mel, que caía muito bem para um <i>rastapé</i>. Um frequentador mexeu com Nina, me meti no meio, batemos boca e adivinhe? Nos convidaram a cair fora. Ela me chamou para casa dela. Pelos meus cálculos e limitações do transporte público, seria mais fácil terminar estas andanças nela mesmo. Com a demora sem fim do ônibus a Nina conseguiu um táxi em aplicativo. Nisso eu já cantava, chorava e ria na calçada. Ela deve ter comemorado quando me colocou no carro, porque devia estar uma cena contraditória demais para continuar dando show na porta do bar que nos expulsou. Já na Nina, desabafei todo nervoso do dia, toda a raiva que fingi relativizar mais cedo e terminei num choro derradeiro. Ela trouxe um chá. No meio das lágrimas, fui beijada. Numa mistura de relaxamento, surpresa e celebração, ficamos juntas. Pusemos música, confessamos ciúme mútuo do Davi e decretamos que ele fosse à merda. Desencanamos de dormir e transamos em modo <i>repeat</i> pela casa toda.<br />
No outro dia, o sol despertou nossa ressaca e atraso no meio do escritório dela. Ainda nos olhávamos como quem diz "que tiro foi esse"? Tomamos café no ritmo da nossa dor de cabeça. Ela foi me levar à estação e ainda nos atracamos na plataforma. Que Davi que nada! No vagão, escrevi pra meia dúzia de amigas porque essa foi a reviravolta com mais cara de série que já vivi. Fugi para o trabalho a fim de aterrar um pouco, produzir e prestar contas porque estava precisando mostrar serviço depois dos últimos furos. Esqueci tanto da vida por lá que comi atrás do computador e perdi noção da hora. Quando finalmente vazei pra casa... Encontrei com o Davi rodando a firma. Briguei tudo que tive vontade quando soubemos na véspera do quanto ele foi bundão. Depois de vomitar toda minha indignação, ele jogou todo charme que tinha em estoque e propôs que formássemos um <i>trisal</i>. Voltei à revolta anterior, mas antes que gritasse de novo, Davi explicou que foi sugestão da Nina também e pediu para ver as mensagens dela. Nesta altura do campeonato, o bate boca já estava ficando vexatório para rolar tão perto do trabalho. Fomos parar num café. Só o Davi mesmo para encontrar essas coisas ainda abertas, em dias e horários já ingratos. Encontrei não só a mesma proposta da Nina para virarmos um trio, quanto uma declaração que não devo ter ouvido nem dos meus ex maridos. Já estava estranhamente com pernas bambas quando ligamos para Nina. Por mais absurdo que pareça, a três rascunhamos verbalmente todos combinados para começarmos o <i>trisal</i>. Ainda não tínhamos vivido nada similar: tateávamos no escuro e descobríamos juntos. Davi topou esperar que nossa chateação com ele passasse pra nos engraçarmos em grande estilo. Estava como na música "pisando nesse chão devarinho" depois das mancadas que deu conosco. A voz e o rosto da Nina estavam ainda mais lindos do que na véspera mesmo com a internet dando pau. Depois que o Davi aceitou que consultaríamos uma a outra para verificar se qualquer saída ou ficada a dois não magoaria nenhuma de nós - afinal não pisar na bola não era o forte dele - não me contive: pedi um drink de café para comemorar. Os dois já queriam que fosse morar com eles. Ainda estava atordoada demais para responder. Mas a próxima curva perigosa e imprevista nesse roteiro seria obra minha.Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-28690212586427864232020-06-02T11:45:00.001-07:002020-06-02T11:45:21.129-07:00Memórias afetivas da cozinha e suas lembranças engraçadas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhpiMn-61lIM6qtXwtuGeqDFpg_zhMnLRQy3JxLWCgXsJ-o8KdRCnN5TSA1T1Ewuuc0e97K-ZIGhFuhIZZQrZ2iUAAvxuoGkUvFpKN8_LyjGVN8hupftkR5s7RoGbNoA9OLB9g36XuRYgz/s1600/bolo+beterraba.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhpiMn-61lIM6qtXwtuGeqDFpg_zhMnLRQy3JxLWCgXsJ-o8KdRCnN5TSA1T1Ewuuc0e97K-ZIGhFuhIZZQrZ2iUAAvxuoGkUvFpKN8_LyjGVN8hupftkR5s7RoGbNoA9OLB9g36XuRYgz/s320/bolo+beterraba.jpeg" width="320" /></a></div>
Cozinhar pode ser uma meditação e prática criativa. Para hiperativos como eu, fazer uma <a href="https://amp.tudogostoso.com.br/receita/113856-bolo-de-beterraba-com-aveia.html">receita</a> costuma dar gastura: ela não precisa muito pra nos perdermos da atividade e o prato desandar com sucesso. Gosto porém do quanto fazer comida me obrigada a aterrar: tenho que ficar presente para quebrar a cabeça e ser criativa quando o produto ou medida que preciso não constam nos medidores caseiros. Outro dia me peguei um cálculo gastronômico que se um produto é mais denso, preciso de menos no medidor para dar os mililitros desejados ou me vi noutro questionamento filosófico culinário: coco tem menos ou mais gramas que farinha de aveia?<br />
Nesse movimento compreendi porque <i>de quando em vez</i> não gosto do hiperfoco que preparar pratos demanda "porque a maioria precisa de reiki na panela ou no forno" - correndo risco de perder o preparo ao virar pro lado e checar o relógio.<br />
Cozinhar é uma prática meio matemática: nos salgados os improvisos não nos fazem arruinar o preparo. Já nos doces... Adaptações costumam desandar cm tudo. Surpreendentemente com o bolo de beterraba da foto não foi assim: substituí o açúcar comum pelo demerara, trabalhei com margarina comum, só usei meia colher de sal e ficou bom.<br />
Me lembrei quando fiz essa receita há uns anos e levei numa oficina do Grupo XIX de teatro, outro participante levantou a forma, perguntou quem fez e agradeceu. No fim, cozinhamos para resgatar memória afetiva (no caso, a última vez em que fiz teatro em grupo) ou produzir uma recordação que gere essas lembranças (como domingo em que comi guacamole com meu marido, que não curte abacate, mas essa receita mexicana que faço sim). Essas associações não são só minhas: uma prima do interior fez um livro não só com as receitas, mas com as histórias envolvendo as mesmas. Digamos que cozinhar não é uma arte meio "umbiguista" como contar história - no caso dessa última ainda me animo a criar só - no frigir dos ovos queremos mostrar o resultado para alguém, claro!<br />
Na pegada de reinventar o conhecido e melhorar o resultado final, fiz uma <a href="https://www.receitasqueamo.com.br/cobertura-cremosa-de-coco-sem-leite-condensado/">cobertura</a> que produziu novo álbum de memórias culinárias. Já tinha em mente os ingredientes com os quais fiz substituições da receita do site indexado na frase anterior. Quando procurei algo similar na internet e não encontrei, lembrei duma professora que diz que se não encontramos o livro que temos em mente, temos que escrevê-lo. Escrever é algo que tenho mais familiaridade, na cobertura fui mais atrevida porque coleciono fracassos gastronômicos. Mesmo assim reinventei a receita do hiperlink: a usei como base por ter sido a mais natureba que estava à mão no dia em que estava pré disposta a produções trabalhosas na cozinha. Trabalhei com açúcar mascavo, leite de coco e margarina nos lugares do açúcar e leite comuns e da manteiga. Como tem gordura mais saudável na produção, não engrossa até desgrudar do fundo, mas fica um pouco mais espessa - e com um paladar delicioso saudável na minha opinião.<br />
O único senão é que não poder dividir uma comidinha que acertamos em quarentena dá uma dorzinha no coração. Nessas horas se improvisa como pode: enviei fotos pros amigos e família parafraseando Pink Floyd "<a href="https://www.letras.mus.br/pink-floyd/63065/">how I wish/ how I wish you were here</a>". Os puristas dirão que as redes sociais não produzem afeto igual os encontros reais. Certamente expressões diferentes de saudades proporcionarão reaproximações diferentes. Estas porém, já são um consolo e tanto atualmente!<br />
Na esteira da surpresa na receita acertada, meus pais produziram um reencontro inesperado, no qual aproveitei para dar fatias do bolo para eles. Fui elogiada mais tarde - o que é raro para os dois, que sempre se divertiram apontando minhas presepadas. São eles aliás, os responsáveis pelas memórias mais tragicômicas que tenho de cozinha: quando criança comia bolo de cenoura com cobertura de Nescau e me enganavam que era bolo de chocolate. Levei uns aninhos para estranhar que na casa dos outros esse doce era marrom e na minha era amarelo. Dizem que era mais fácil enganar criança antigamente. Posso comprovar!Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-7785223260142290032020-05-16T18:05:00.001-07:002020-05-16T18:05:18.580-07:00Pra lá do apocalipse tupiniquim<br />
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">A volta à vida não foi cheia
de abraços como imaginei. Tínhamos nos adaptado tanto à prevenção, que</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4FM6MzNLYzpP88EsDsam6fn0rXZ9X7nEK8-D-1TqlobaiwD4ygNMUg16fmLgMZq4vh0RC6TU7VDODVsL9b8pYQ3jF-NMwbo57zepsHPdUu0sdJ-HL6LaqSrJ8YgACK969oSUPlMw-kJFg/s1600/virus.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="574" data-original-width="1020" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4FM6MzNLYzpP88EsDsam6fn0rXZ9X7nEK8-D-1TqlobaiwD4ygNMUg16fmLgMZq4vh0RC6TU7VDODVsL9b8pYQ3jF-NMwbo57zepsHPdUu0sdJ-HL6LaqSrJ8YgACK969oSUPlMw-kJFg/s320/virus.jpg" width="320" /></a></div>
agora
acenávamos cabeça, dávamos tchau, olhávamos simpaticamente, desenhávamos
sorrisos nas máscaras e especialmente gingávamos para fugir de ameaças de abraço.
Como os amigos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fogueteiros</i> previam, é
inimaginável como retomaremos os beijos e ainda mais ressabiada a volta do sexo.
<o:p></o:p><br />
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Ah, a internet. A
dificuldade será desmamar desse vício. O mais improvável se ajustou ao online:
dança, culinária e até a medicina. Ficamos ainda mais fora de ritmo: as
plataformas de vídeo não dão conta de tanta demanda. Mas temos desenvolvido todo
jogo de cintura que as grandes cidades nos furtaram. E por falar nas
megalópoles, o trânsito delas foi algo que não deu a menor abstinência. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Do trabalho sentia falta. Da
minha antiga experiência tive medo do horário de pico. O primeiro ônibus estava
meio vazio, mas matérias e pesquisas indicavam que as vítimas da doença foram
tantas que desincharam regiões populosas. Nas capitais vemos reflexo nas
conduções mais livres. Me silenciei comovida. Já na segunda condução tive medo
de abuso, uma tradição nos vagões metropolitanos. Mas peguei um trem com todos
trabalhadores felicíssimos voltando do confinamento: cantavam, sambavam e até
improvisavam versos. Me senti num “pagodão” e até batuquei num banco que me
concederam. Na quarentena, me escondi nas trincheiras da cozinha demais e devo
estar convincente como grávida – só pode! Sobreviver aos tempos pandêmicos diminui
esses pequenos dramas. Faço percussão na janela também. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Chego à escola após sambar
por estações. Os colegas estão tão animados com a volta que rola praticamente
uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">rave</i> na sala de professores. Os
hiperativos aprenderam a tocar agogô e bordar. Os militantes adaptaram seu
engajamento para o ativismo virtual. E os <i style="mso-bidi-font-style: normal;">deprês</i>
aumentaram as doses de tratamento. Em meio à social, agora com sonorização afro
brasileira, chegaram os estudantes. Não tínhamos idéia de como seria. A
princípio pareceu rever ex. Eles, com os cabelos em pé com sobrevivência e
saúde. E nós, afogados em demandas de documentação que não dialogavam com a
realidade deles. Sobreviventes se revendo. Quando fomos para a sala, tiveram
curiosidade de experimentar o processo artístico que aprofundei em casa e
divulguei online: artes corporais na quarentena. Cansados de tanto aguardar a
gestão adaptar a escola para outras linguagens, sequestramos as cadeiras e
mesas para o pátio e com elas fizemos uma instalação. Como era de se esperar, a
gestão quis me matar. Mas pedia por isso há tanto tempo e agora com todo estudo
acadêmico em dia, tinha referências de sobra para defender o projeto com os
aprendizes. Nisso os professores seguiam os mesmos: “argumentadeiros”. Os
estudantes? Improvisaram, criaram, apresentaram, foram criativos e se
divertiram como se não houvesse amanhã. Nenhum de nós tinha como saber se
haveria mesmo. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Voltei realizada e parei na
academia. Por precaução tínhamos que fazer individualmente atividade aquática, com
uma máscara de muitos buraquinhos fininhos e nuns horários malucos. Tive até
saudade das colegas de turma barulhentas [suspiro]. Meditei e chorei em meio ao
cloro.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Cheguei desnorteada de fome
e pedi entrega de lanche num comércio local. Tanto tempo presos avariou irreversivelmente
a economia. Começamos comprar tudo nos comerciantes pequenos do bairro. Eles
agilizaram a entrega que não faziam. Há grandes redes dos mais diversos
segmentos de varejo falindo ou estudando novos negócios. Deixou de fazer
sentido conhecer restaurantes ou cinema distantes. E em cidades em que qualquer
deslocamento demanda horas, depois de tanto interiorizar, agora só ficamos
horas no transporte se morrer a mãe lá na outra região. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Ainda comia quando meu
marido chegou do hospital. Nos serviços essenciais em não deram EPIs acontecem
processos trabalhistas televisionados – a mídia ficou combativa. Perdemos muitos
na linha de frente. Algumas mortes incomuns ajudam o avanço das pesquisas. Com
todos países temendo o mesmo, há corrida pela vacina e oferta de prêmios científicos.
<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Uma música nos conforta e vamos
à janela. Agora a arte está nelas, algumas até com cortinas chamativas, luzes e
sonorização potentes. Os grupos se dividiram em vários artistas solo. Cochilamos
ouvindo a apresentação.<o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Me alongo cedo. Toda
expressão em grupo foi para praças, onde todos se distanciam para praticar. E
de tanto ocupar as ruas, já não há mais medo! <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Corro ao ensaio. O teatro
ainda precisa de distanciamento: agora só apresentamos na rua. Medito voltando
na derradeira condução. Depois de tanta preocupação, até os imprevisíveis se
renderam ao auto cuidado digital. Vimos muitas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">lives</i>, selecionamos e cada um acompanha suas preferidas. <o:p></o:p></span></div>
<div align="left" class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm; text-align: left;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif";">Ainda navegando, minha irmã
me escreve: viajará sozinha. Mochileiros viraram peregrinos independentes e quem
temia caronas, depois desse pesadelo encara. É compreensível: uma solidariedade
surpreendente emergiu da nossa ruína. Uma transmissão revela que a revolta dos
principais impactados nisso tudo prendeu corruptos num navio turístico em nossa
costa. Juízes exigem punições. Já o povo... Torce por eles!<o:p></o:p></span></div>
<br />Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-928913211294699182020-05-05T16:56:00.001-07:002020-05-05T16:56:40.566-07:00Descompasso febrilComo não tenho trabalho dos estudantes para pendurar... Penduro os meus! Não que seja uma artista visual digna de ocupar janelas, estante e portas, mesmo de casa - longe disso, aliás. Sou é atriz, das salas de aulas e espaços culturais, mas como o teatro é arte do encontro, enquanto temos que nos manter isolados, improviso: isso o palco me ensinou. E nesse jogo de cintura artístico crio mandalas, faço versos, gravo contações de histórias, produzo crônicas... Descubro que todas essas outras são artes do encontro: quando leitores ou expectadores dão retorno, sinto o peito transbordar de alegria. No mais, é tudo incerto e assustador, nada que conviva bem com uma mente inquieta. Para apaziguá-la, me movimento. Caminhando ou dançando despisto bem as pré-ocupações. Fazendo yoga e pilates, porém, meus pensamentos me sequestram, fora que minha respiração não sincroniza com as posturas e uma das professoras tem enviado aulas demandando acessórios inexistentes nesta casa - e com a perspectiva da economia degringolar que não os comprarei. São basicamente horas de prática para fugazes momentos compensadores de relaxamento.<br />
Por razões auto explicativas, corro das notícias. Porém há temporadas em que só as manchetes ou os tuítes enxugando lives científicas já me viram de ponta cabeça. Nestas ocasiões preciso fazer chá da planta mais fedida para desligar porque o psicotrópico não deu conta. E o que daria em temporada de saudade dos estudantes, amigos e família? A arte, aposto eu, do alto do meu otimismo sagitariano. E surpreendentemente tenho criado até bastante e claro que no processo fico muito entregue e meditativa. Só que o isolamento resolveu se estender. Tipo visita que não avisa e depois a gente não aguenta mais fazer sala pra surpresa inconveniente. E nesta altura já me culpo por não produzir lives, projetos, coletâneas com minha inventividade. Não tenho ideia de onde vai parar a pulsão criativo-terapêutica. Só gostaria que os resultados não morressem na famigerada praia da quarentena. Como não dou conta de fazer mais barulho pelo que invento, termino angustiada.<br />
Uma das atitudes mais iradas que tomei contra esse mal estar foi meditar. Aqui devo aos amigos budistas e de auto conhecimento um salve me desculpando porque realmente nosso espaço interno pacífico está sempre à nossa disposição. Não me sentava tão disciplinadamente antes não por falta de fé e sim pelo trabalho- família- frelas atropelarem nosso tempo livre. Respirar e focar nesse ponto interno apaziguador tem sido tão reconfortante, que minha mente tem se perguntado: o que te fiz que não me dava isso antes?<br />
Antes... Éramos outros, já reparou? Perdia paciência, não tinha jogo de cintura com ligação e conferência. Agora a voz dos amigos, familiares quase faz chorar de alegria. E por falar em alegria, tento mantê-la vendo entretenimento online e desligando do pega pra capar lá de fora. Quando me empapuço de cultura de massa, tento sites ou vídeos artísticos. Faz bem, claro, mas em dias sombrios sentimos um pouco girar em falso.<br />
Com a cabeça fervilhando, recorri aos estudos: quem sabe eles me levam para longe? Me vi transitando entre possíveis conteúdos da pós e do futuro mestrado, porém todos densos demais para me fazer aliviar o mal estar que me ronda há dias... Naveguei laptop adentro e fui pousar na literatura infantil. Sempre ela me fazendo sorrir. Mais que nunca é preciso batalhar pela resistência da alegria.. Só que de tempos em tempos... Queremos saber se a TPM nos espreita de tanto se arrastar pela casa. Vai passa, torcemos. Mas como administrar os estragos sutis até lá?Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-45974829112739070512020-05-03T18:14:00.002-07:002020-05-03T18:14:56.549-07:00Panela de afeto na soleiraA voz do sobrinho chegou pela janela, vinda da casa ao lado. Desde o começo do isolamento alegrias <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwdT0aJCmTPcJiA0tP1zwWL79C7BrymRFsQkJFFCW229nbKlSu9MX1aahUO5iDRmqqwKirox2BXeMEn_8VRXrJ-dVP4J4HmEUq_pUY1agk_B-CpHoC1k0FlNKEDidmgqSrVHz9MHamafUH/s1600/taoperto.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="300" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwdT0aJCmTPcJiA0tP1zwWL79C7BrymRFsQkJFFCW229nbKlSu9MX1aahUO5iDRmqqwKirox2BXeMEn_8VRXrJ-dVP4J4HmEUq_pUY1agk_B-CpHoC1k0FlNKEDidmgqSrVHz9MHamafUH/s320/taoperto.jpg" width="256" /></a></div>
como essas mudaram de tom. Ouvi-lo agora a entristecia: haviam decidido não se rever tanto quanto antes, pois parte dos parentes tinha grupo de risco em suas casas e nem todos podiam fazer a quarentena conforme recomendado por órgãos de saúde. Depois desse cuidado, a risada dele dava uma saudade incômoda. Tinha consciência do privilégio que dispunha: ter conseguido migrar seus compromissos para conferências no <i>home office</i> e seu companheiro passou pelo mesmo processo. Ainda não sentiam os temidos efeitos do confinamento na economia doméstica que atigiam outros colegas. Por isso mesmo evitava transformar a falta da família da irmã vizinha num drama de proporções exageradas. Mas nem por isso o buraco da ausência deles deixava de se fazer sentir periodicamente.<br />
O casal produzia e ensinava arte. Quando sentiam falta de outras conversas que não as respondidas pela voz um do outro, pegavam carona em outras melodias - literalmente! - e se sentavam com seus instrumentos, embalados pelas canções alheias com as quais faziam <i>cover </i>terapêutico e acústico. Num desses "saraus de dois", cantaram algo sobre comida - um deles estava cozinhando, começou a cantarolar e o outro foi buscar seu instrumento e acompanhou. De algum modo a música ressoou na irmã, que começou deixar panelas com comidas que eles gostavam na soleira da porta de entrada, apertando a campainha na sequência e voltando para sua casa rapidamente.<br />
Na primeira comidinha entregue, não encontraram só massa caseira, com molho de tomate e queijos frescos. Ambas lembraram - uma comendo e a outra limpando a bagunça de sua pia - das avós que tanto faziam encontros regados à culinária italiana. A que recebeu o prato amarradinho na porta, com guardanapo bordado à mão, até chorou comendo. O marido<i> </i>não estranhou toda aquela sensibilidade: percebia que quando pararam de ver os vizinhos com frequência, emoções antes toleradas agora vinham à tona e tinha se tornado comum conviver com a mulher mais à flor da pele. Ele também gostava de cozinhar e estava se deliciando com a forma da cunhada se mostrar presente pelos ingredientes.<br />
Assim que as memórias os afetaram, os artistas voltaram à cozinha, inspirados. Um fez suco de fruta colhida do jardim e a outra, sobremesa com sabor de roça. Quando se deixaram atravessar pelos aromas e tudo ficou à contento das lembranças que os estimularam a produzir tudo aquilo, guardaram nas embalagens mais delicadas, amarraram com panos com ar de piquenique, foram deixar na porta da irmã, tocaram a campainha e <i>deram no pé</i>. Naquela tarde foi a cunhada e vizinha quem criou um ritual, colocou música, incenso, sentou para comer o presente da irmã e seu companheiro e... chorou!<br />
Passaram o confinamento neste escambo de sabores, recordações, aromas e alquimia. Às vezes a cunhada aproveitava que o marido tinha que dar plantão e fazia uns horários malucos e encomendava ingrediente fresco da Zona Cerealista - ao contrário da vizinha, não tinha jardim e horta. Mas quando cheirava as especiarias diversas que chegavam da rua, tinha a criatividade e a generosidade ativadas, produzia um prato para comer gemendo e claro, presenteava a irmã e o cunhado.<br />
Estes dois, por sua vez, deram para conversar com plantas, misturar folhas e frutas, trocar receitas pelas redes sociais e inventar moda entre a pia e o fogão. Sempre se surpreendiam com as novidades, lambiam os dedos, agradeciam aos amigos (entre eles já não era novidade o talento dos dois) e corriam ansiosos com a <i>marmitinha do amor</i> na soleira da mana na casa ao lado.<br />
Nunca antes a vizinhança sentiu tantos aromas. Jamais os trabalhadores dos comércios locais tiveram tanta dó dos moradores das casas germinadas não se encontrar por tanto tempo. O sobrinho ouvia saudoso algumas crianças furando o isolamento, de máscara em suas bicicletas nas calçadas e espiava da janela, com a barriga afetuosamente preenchida pelos tios. E para os pequenos na rua, nunca o amiguinho do lado de lá do vidro e grade pareceu tão tristonho.<br />
As folhas dos calendários demoraram a cair. Nem a cunhada, nem o casal artista conferiam mais o relógio com tanta ansiedade quanto no começo do confinamento. Ambas casas desligaram ou deixaram a TV no mudo. Por muito tempo, a trilha que enchia as cozinhas era o repertório dos artistas ou risada do sobrinho. As receitas da mãe e das avós, que sempre as registravam em cadernos amarelos, ao lado de histórias relacionadas aos pratos, foram a terapia e troca de afetos possível por meses. As ancestrais teriam ficado orgulhosas. Foram as recomendações e talento das matronas da família que as fizeram atravessar a quarentena, apartar a melancolia e riscar na agenda, uma a uma, as semanas que previam faltar para se rever. E não é que cozinhar é mesmo uma forma de amar?Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-73672172037424304202020-04-27T15:27:00.001-07:002020-04-27T15:27:23.216-07:00Do Meu Quintal Não Escuto a Rua<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF880hqwHFMTDDnlpUcStFyze0R8TlQOhrKwL-g9vSv3A8zJR6lcvR4liOVnyqOFIxiwPL5JKUTBgx7jOhpUZpRIdg4ShOM80ccM_jQIRObN8dtBvtjtCXdW3gHHJXJRqkS4TM9Nl1oNdy/s1600/20160203_140342.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="292" data-original-width="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF880hqwHFMTDDnlpUcStFyze0R8TlQOhrKwL-g9vSv3A8zJR6lcvR4liOVnyqOFIxiwPL5JKUTBgx7jOhpUZpRIdg4ShOM80ccM_jQIRObN8dtBvtjtCXdW3gHHJXJRqkS4TM9Nl1oNdy/s1600/20160203_140342.jpg" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Direto do Pombal... e do meu cabelo retrô</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do lado de cá tenho vivido outro
tempo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Sem buzinas, enchentes,
constrangimentos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Tanto que já nem sei em que folha do
calendário</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
O mundo de-sa-ce-le-rou... Até parar
amarrotado</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do lado de um relógio sem corda</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E pra ele dar a mão – desde então, acumulam poeira</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do jardim em que caminho</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Rumo a lugar nenhum </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Ou do refúgio gelado</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Em que invento moda</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E sorrio para um filme inverossímil</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
A avenida do lado de lá não me
perturba</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E nessa migração do medo à
contemplação</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Da irritação ao isolamento</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Da preocupação às descobertas animadoras</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
A dor no peito se liquefez</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
O sono se dilatou</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
As emoções e os pensamentos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Dançam ao som de O Dia em que a Terra
Parou</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Nessas semanas com ar de meses</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Tive medo nos auto cuidados externos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Aproveitei minha inventidade </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E improvisei como se estivesse no
palco</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Na programação mais engessada</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Jogamos as toalhas e ganhamos respiro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Fui da criatividade ao bloqueio
criativo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E cobrei do infinito que a iluminação
viesse logo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Que não tenho a vida toda para atingir
o Nirvana</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Troquei o entretenimento por arte
digital</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Mas mesmo nos dias mais sem chão</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Ainda ouvia pássaros, música e
encontrava paz</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Aqui dentro mesmo – quem diria?</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Assisti tanto o maremoto quanto a
calmaria</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Com pipoca na mão como quem vê filme</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Nenhum me atropelou</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Os sopetões não me impedem de sorrir
por dentro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Já que do meu quintal não escuto a
rua.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Estranhei mas viciei nessa marola</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Estão limei notícias </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Quis acolher, colaborar e apoiar</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Mas minha falta de ar abortou</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Iniciativas ao vivo e a cores</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Me vi meio de mãos atadas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Vibrando, escrevendo, gravando</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
e... quem diria? Torcendo</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Encarando a vulnerabilidade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E finalmente dormindo no mal estar
dela</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do meu quintal a redução da marcha </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Revelou que meu mal, quem diria, </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Sempre foi meu pique sem freio</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Sem os atravessamentos da rua</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Vejo luzes sem poluição entardecerem </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Minha sala colorida e étnica</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do meu quintal a economia </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Dos desgastes cotidianos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Revela uma capivara à margem</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Entre esgoto e mato abandonado</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do meu quintal as saudades</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Dos amigos e parentes</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E nossos reencontros </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Eternamente adiados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Transformam a videoconferência</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Na linguagem que reduz distâncias</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do meu quintal ouço pássaros novos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Entre o ribeirão e a comunidade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Me surpreendo com meus improvisos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Respiro e acho espaços internos</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Nunca visitados</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Do lado de dentro</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Faço as pazes e corto relações</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Com a tecnologia</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Encontro e ofereço solidariedade</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Caio de amores pelo entretenimento
digital</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Depois fujo para a arte analógica</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Todos esses mergulhos e descobertas</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Por não ouvir a rua </div>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">Do meu quintal.</span>Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-27715570160198538492020-04-09T08:21:00.003-07:002020-04-09T08:21:40.381-07:00A paisagem meio borrada da bipolaridade mais eufórica<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3ctcQ1vObFGOd2qIIw0h6HnhNQ4-ZLAXTE6cx07HNXJq8lq1AoHtc2kqWHALG-SP95E8-xMjFFuShU98xMiP9tpVe-D34loPp6X8ToYnBCY_Jg7tB_-N_kchYT5xlJSHwfQA3EJ2d3No_/s1600/IMG-20171006-WA0031.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="345" data-original-width="258" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3ctcQ1vObFGOd2qIIw0h6HnhNQ4-ZLAXTE6cx07HNXJq8lq1AoHtc2kqWHALG-SP95E8-xMjFFuShU98xMiP9tpVe-D34loPp6X8ToYnBCY_Jg7tB_-N_kchYT5xlJSHwfQA3EJ2d3No_/s320/IMG-20171006-WA0031.jpg" width="239" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Fotinho retrô (moro num Pombal sem cobertura) <br />mas essa vivência no prédio do chefe no Piá<br />deve ser a única imagem zen no limbo do laptop</td></tr>
</tbody></table>
Sempre achei que se não fizesse uma quantidade insana de iniciativas, <i>o mundo ia acabar amanhã</i>. Depois de décadas de correria, insônia e exaustão, me vejo no isolamento, olho a janela, notícias ou relatos na internet e concluo: que petulante fui eu! Olhaí o mundo acabando e eu me movimentando e escrevendo. Estudando e respirando. Criando e vendo série ou filme raso pra desanuviar. Mas enfim: nada que o sistema nos convença como primordial.<br />
Se bem que... <i>No princípio tudo era o meme</i>. Na terceira semana confinada descobri os conteúdos virtuais mais cabeça: site de museu, peça na Internet e página para olhar desconhecidos distantes um minuto nos olhos, criando pontes e desenvolvendo empatia. Apesar de serem conteúdos que reforçam meu lado cabeçudo, como resvalam na sensibilidade, acabo fazendo arte terapia informal.<br />
E por falar em arte terapia... Já venho do teatro, literatura e contação de histórias, então, sou suspeita para falar, claro. Mas tenho me experimentado noutras frentes. Depois de acompanhar curiosa e incrédula o companheiro com quem vivo produzir mandalas, se curar e ensinar num espaço de convivência terapêutica que atende neuroatípicos, me arrisquei. Aprendendo distanciada com ele já ensinei nas escolas em que ensino artes para jovens e adultos - e eles, como era de se esperar, piraram! Mas vivenciar o desenho em formas redondas, harmônicas, com padrões equilibrados e conversando sobre ele depois, leva a um processamento de emoções com diferentes facilidades e dores. A mandala do que gostaria para quarentena fez com que notas musicais parecessem hebraico - a sincronicidade é que todos sobrenomes familiares são de judeus convertidos e sempre me confundiram com judia, muito embora seja <i>mezo zen e mezo afro </i>na espiritualidade. A da angústia foi uma sofrência começar, porém depois me concentrei <i>feito presidiário chinês</i> pra terminar - e saí com o corpo dolorido, mas os sentimentos menos turbulentos. Na do medo, os coronavírus viraram umas gelecas infantis ao redor do centro estrelado - quando criança, meus pingos nos is do meu nome também traziam estrelas. Na da tristeza, voltei à colagem, técnica que tenho uma paixão platônica por nunca ter estudado. E simbólico que justamente a da ansiedade tenha me dado um branco do que trabalhei nela - não sei se por esta emoção viver sendo varrida pra baixo do sotão interno... Parece <i>badauê</i> sem noção, mas de fato terminamos melhor - arte é feito meditação e acupuntura: mesmo que fizermos sem muito estudo formal, variando técnicas, com mestres guiando muito genericamente (ou levemente picaretas), no esquema <i>capetalista industrial </i>do convênio, ainda assim, focando em nosso espaço interno inabalável sempre disponível (ou centelha divina, buda interno, se preferir) sempre faz bem.<br />
Criar é um processo que reverbera onde não imaginávamos. Também gravei vídeos narrativos. Só pensei em focar nos adultos, já que o mercado não admite, mas eles também precisam. Até os jovens, tão acusados de letargia pelas famílias e gestão, me pedem contações quando volto às salas. Obviamente que criança é tão esperta que também se trata, aprende e imagina para além da narrativa. E no último dei palhinha da formação - uma das atividades que mais me realizo, lidando com professores, assistentes sociais, educadores, bibliotecários, terapeutas, estudantes e psicólogos com vontade não só de aprender, mas de contar também. Nem só de três, dois, um... Ação! Se preenche uma quarentena. Voltei às postagens, comecei uma dramaturgia... No princípio imaginava produzir um diário. Mas as fichas, mudanças na relação com os sentimentos e olhares que transformo com emoções mais apaziguadas são tão reveladores, que passo um tempo maior burilando as mexidas do isolamento para por em palavras os <i>insights</i>. Às vezes, nem é aqui. É no papel mesmo porque como ex jornalista <i>vintage</i>, adoro um bloquinho e o cheiro deles.<br />
Não caio de amores só por material impresso em branco. Tenho uma curiosidade e vontade de fazer cursos que não cabe em mim. A maturidade e a própria educação me ajudaram a focar - era isso ou uma porcentagem ínfima de aumento anual referente à inflação. Às vezes ainda namoro um curso nonsense na conjuntura atual: dublagem, roteiro, interpretação para cinema, <a href="https://circuitoacademico.com.br/2018/07/02/pedagoginga-deixa-os-meno-falar-deixa-os-meno-aprender/"><i>pedagoginga</i></a> ou <a href="https://portal.aprendiz.uol.com.br/2018/11/05/pedagogia-das-encruzilhadas-uma-perspectiva-afro-brasileira-para-a-educacao/">pedagogia da encruzilhada</a>. É quando uma remanescência dos pragmáticos dos meus pais que habita em mim cutuca minha mente inquieta: vai ganhar esse prêmio consolação aí até quando? Com esses chacoalhões da vida e da família, cheguei à segunda pós do teatro do oprimido/ psicologia social e ao programa Diversitas de estudos da diversidade, intolerância e conflitos da FFLCH/ USP. Sim,é muita cabeçudice pra uma arte educadora só. Mas ambas pesquisas nasceram das minhas práticas. Como alguém mão na massa, não daria conta de pesquisar só teoria. E como sempre batalhei por trabalhos significativos, o efeito colateral é que só estudo o que gosto. E pesquisar o que se adora vira auto conhecimento "faca de dois gumes" - nós já temos noção do que cicatriza cada dor, mas também há comprovação de que tudo que se conhece implica na perda de um paraíso. Em tempos de isolamento eu sei retrabalhar meus mal estar artisticamente, mas também desconfio que levar em consideração o contexto que vivem meus estudantes ou colegas de trabalho trava lá no chão de escola quando procuramos ajudá-los de forma paupável. Além de nessa altura do campeonato desconfiar que a educação formal tenha me sequestrado o prazer de estudar porque descobrir interesses é meio viciante - como todo viciado que se preze, tenho abstinência de estudar por estudar, sem pagar de <i>maníaca dos certificados</i>.<br />
Pra quem tem essa mente hiperativa os exercícios ajudam voltar ao corpo. Tenho caminhado onde moro e talvez pela 2a vez na vida, vejo surgir uma gratidão por viver aqui, já que os jardins e a distância ajudam não prejudicar o confinamento - além dos vizinhos se afastarem quando nos cruzamos, com tanto receio quanto eu com relação à Covid 19. Acesso vídeos de dança, tai chi, pilates, yoga e alguma live de dança, dependendo do humor e ânimo do dia. Suar me desacelera e uma das descobertas da quarentena seja de que dançar em casa não dá vergonha de ser descoordenada. Tenho exercitado também fazer 15, 30 min diários quando estou borocoxô feito semana passada.<br />
Ainda é muita coisa? Para quem costuma viver no ritmo dum trem bala, passando por paisagens deslumbrantes, mas vendo tudo borrado é um baita avanço - vai por mim! Penso que se não estou afogada com filhos e trabalho feito amigas mãe ou num home office insano, posso passar esta temporada enxergando a ocasião como sabático sem grana, nem possibilidade de sair. O maravilhamento atual é que férias sem grana me emputeciam porque sou a sagitariana doida das viagens, mas no isolamento tenho curtido inventar o que fazer, intercalando com algum trabalho - com consciências de que é um privilégio e que com asma não posso ir pra linha de frente dos trabalhos solidários. Para quem é elétrica, inventar muita coisa é meio pinga: não conseguiria ficar só no sofá e acho falta de imaginação tédio entre privilegiados. Para minha personalidade e transtorno, fazer de cinco a três coisas em casa já é uma melhora inacreditável. Claro que não conto cozinhar ou arrumar o apê - isso não tem escapatória, mas já comemorei me mimar com comida na contramão do fast food, me diverti limpando altar, brinquei dando um tapa nos móveis e ainda fiz faxina pedagógica: é surreal não darmos conta da nossa limpeza, chamar a diarista que limpa o prédio e inaceitável que parece que sempre haverá quem precise disso. Em tempo: a paguei para não vir no começo, mas há perspectiva da verba minguar, não voltarmos e precisar de alguma reserva.<br />
Brinquei quanto ao sabático, mas lá nos colégios nos demandaram planejamentos - que fizemos sobre nuvens, sem ideia de em que nos basear, já que não temos ideia do retorno, reposição ou como redesenharão o avariado calendário escolar. Também solicitaram atividades - para o site não deu certo, pois demandava direitos autorais, trabalho muito vídeo da internet e com alguns o levantamento disso complica. Mas as mandei para os alunos nos zaps das salas, com a intenção de propor mais arte terapia, já que estava mais ansiosos que nós e sem o que recorremos contra as perturbações do confinamento. Percebi que tinham dificuldade pra entrar na página da prefeitura, que só tinha exercícios escritos, imagine para o que programei, cheio de vídeos? Quando enviei o site do museu da região de ciências, com atividades na página, outra aprendiz quis saber o que aluno sem internet faz. Para educação pública, ensinar EAD é milagre de Fátima, não é viável na realidade em que as turmas vivem. Saio disso com gratidões que não lembro de ter conscientizado pela água, Internet, saneamento, não ter violência em casa, possibilidade do auto cuidado, pelos estudos possibilitarem me expressar e abrir minha mente, pela religiosidade não picareta me devolver a paz interior que o sistema me saqueou e - quem diria - até pela Netflix. Ok, parte do sistema às vezes é necessário.<br />
Desconfio ainda que possa ainda voltar ao tratamento questionando se tenho mesmo bipolaridade mesmo.<br />
Por hora, parafraseando a bíblia, que a ti te baste um questionamento por dia. Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-87891755451235067472020-04-06T18:20:00.001-07:002020-04-06T18:20:27.624-07:00Na Tenda da Lua do Isolamento<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Meu vizinho toca trombone. Pela
primeira vez tenho achado tocante: um instrumento de sopro e seu proprietário
resistindo à tristeza que chegou como brinde do isolamento. Antigamente tinha
bode dele. Pensava que era devido aos gostos musicais diversos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E quem me vê falando assim pensa que mudei a
percepção há um baita tempo. Foi só desde a quarentena mesmo. Parece que só a
impossibilidade de ligar na portaria e perguntar qual o apartamento eruditamente
musical para entregar couvert artístico já nos aproxima. Talvez só o medo de
adoecer ou perder um ente querido nos refresque a memória que na hora desse
frio na espinha, estamos todos na mesma roubada.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Cruzei o prédio dele na caminhada
para espantar a melancolia. O jardim que plantamos no conjunto em que moro permite
que andemos sem tanta exposição. Os vizinhos também têm se distanciado nos
encontros involuntários. E pela primeira vez sou grata à quebrada em que vivo.
A raridade das saídas é tanta que tenho exercitado fortemente a imaginação,
tentando fazer de conta que o córrego perto não carrega sofás, material de
construção e esgoto. As andanças têm sido contemplativas. Não sei até que ponto
ajudarão no condicionamento. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Não é só essa caminhada que virou um
evento. Uma amiga de estudos enviou um vídeo em que a pessoa se montava para
jogar o lixo, como quem vai à festa. Pensei que demoraria mais para chegar a
esse ponto, mas estava praticamente negociando toda fast food restante para o
marido me deixar escapulir rapidamente. Como tenho asma, ele tem se predisposto
a resolver lá fora a maior parte das questões. Não subi no salto para ajudar a
encher a lixeira, mas saí achando a rua linda, as árvores incríveis e as
pessoas uma simpatia. Me senti como minha finada avó que elogiava todos os
amigos e nomes de quem apresentávamos. Encontrei o jovem vizinho. Ficamos
conversando como se tivessem saias de bailarinas entre nós, mantendo uma distância
saudável e criativa. Nem sei se noutra ocasião prosearíamos tanto. Mas de
repente as pessoas com as quais trocávamos cumprimentos secos, ao nos cruzarmos
nos corredores nesta quarentena, se não fosse perigoso nos abraçaríamos
empolgadamente. Lembrando do vírus, obviamente nos contemos.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
E a saga na rua com rápidas saídas
segue... Consegui barganhar uma escapadela com meu companheiro e fomos à feira
semanal. Como descartei as últimas máscaras ganhas da dentista, improvisei
proteção com uma bandana amarrada ao rosto. Soa meio bandida estilosa e também
usava pra escrever na lousa sem falta de ar lá no trabalho. Antes do
adiantamento do recesso, claro! Nunca um pastel na esquina foi tão empolgante!
Aumentaram a distância dos clientes aos feirantes com faixas. E mesmo nas filas
as pessoas não ficam mais no nosso cangote. Sentamos no banco da rua e vimos as
luzes do shopping na cidade ao lado. Deve estar fechado. Sabemos que prevenimos
riscos para nós e os outros, mas lembra as mais aterrorizantes séries distópicas.</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Crio para despistar memórias
audiovisuais que são gatilhos para deprê. A vizinha veio ajudar com as injeções
do tratamento contra alergia de ácaro, para que pudesse fugir da farmácia. A
agenda para meia dúzia de coisas que planejei fazer para não ficar ansiosa diminuiu.
Conversamos tanto quando veio, que sugeri jantarmos quando o apocalise acabar.
Será que só na periferia as pessoas se aproximam? Emocionalmente né:
fisicamente damos passos pra trás. </div>
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 0cm;">
Lá na escola a gestão também se
preocupa e pede envio de exercícios, porém quando fui encaminhar no zap dos
estudantes, vi que já estavam sem banda para as atividades do site da
prefeitura, imagine para acessar meus vídeos de arte? As exclusões dos
aprendizes são bem mais emmergenciais do que a rede de ensino dá conta. Para
não voltar à angústia devido nossa limitação na ajuda possível, volto aos
estudos. As aulas seguiram online, o que nos mantém ocupados, muito embora
estranhando a simulação de normalidade das faculdades. Ao menos entre os nossos
seguimos ensaiando sanidade... Nem que seja para compartilhar ignorâncias!.</div>
<span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 11.0pt; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">No embalo dos meus desconhecimentos, vejo filme
e série para fugir criativamente daqui ou repor as esperanças na humanidade,
depende do dia. Em outras ocasiões falo sozinha na janela. Não pago mais de
maluca: nas janelas da frente há outros tagarelas. Pena que minha câmera é
ruim: daria um curta metragem e tanto! Inspirada pela criatividade que emerge,
crio. O que me abastece do que tenho precisado nos últimos tempos:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>expressão e terapia. Quando não é dia de
imaginar que estou num divã com minha psicóloga na internet, respiro. Concentro
em mantra, imagens, sonhos, velas. Mas respiro, deixo que as maluquices
internas surjam e passem. E pela primeira vez na vida consigo me distanciar das
emoções. Lapido os sentimentos para que sejam menos rústicos. E com isso parto
para a próxima semana.</span>Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-1831529579991669412020-03-28T18:30:00.001-07:002020-03-28T18:30:06.990-07:00Semanário do DesaceleramentoQuando o fim do mundo começou, lembro de chegar ao trabalho questionando se era isso: então <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_F9n5yEeHQuZVv8QdZRVRMtV1B-ENu2Wk-U0slcuflnrekax3hkM_Bml0yr_e18EUNYaWCwN3T2bdApaxVtVRFjqO9p7hCZcd-M4mMkvn5UQ0Yy1E7-lCf5MKcpzqwIUva79MU9yXUyL9/s1600/Isolamento.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_F9n5yEeHQuZVv8QdZRVRMtV1B-ENu2Wk-U0slcuflnrekax3hkM_Bml0yr_e18EUNYaWCwN3T2bdApaxVtVRFjqO9p7hCZcd-M4mMkvn5UQ0Yy1E7-lCf5MKcpzqwIUva79MU9yXUyL9/s320/Isolamento.jpg" width="320" /></a></div>
tínhamos estudado, trabalhado, amado e protestado tanto para chegar nesse ponto? Evitar contato, sair e...<br />
- Não vão ao fluxo: ou vocês descerão até o chão e nem voltarão mais!<br />
Fim da linha: tocar os alunos ainda não convencidos do perigo do novo vírus.<br />
Como nós devíamos fazer: vazar.<br />
Mas levou um tempo para a alta cúpula se convencer com relação a nossa preservação.<br />
Na divulgação oficial dos vulneráveis que deviam já ficar em casa eu não constava: idosos, grávidas e doentes auto imunes.<br />
Já na lista paralela dos familiares, amigos e amor pedindo precaução estava lá como grupo de risco: asmática.<br />
E lá fui eu no alergista levantar comprovação para não ficar pegando condução cheia.<br />
A sensação que me dava é que todos atestados entregues nos últimos cinco anos devido à falta de ar tinham parado na lista de papeis para rascunho. <br />
Na semana anterior ao isolamento, repeti várias vezes a via sacra médico-laboratório-mercado-farmácia-escola.tentando por tudo em ordem para me aquietar em casa. Surtei até achar remédio na 8a farmácia e precisar assinar mais papel na escola (mas devo confessar que achei que a condução e farmácia de Alto Custo precisavam duma pandemia pra não ficar com gente saindo pelo ladrão, as deusas que me perdõem).<br />
Nessas horas me sinto meio como o personagem Joseph K do livro O Processo de Kafka: charfurdando na burocracia opressora, sem conseguir nadar contra a maré.<br />
Entre um vai e vem e outro, tive picos ansiosos por não poder sair e ver os amigos e família. Levou um tempinho pra me tocar que já fazemos isso muito pouco em São Paulo. Depois grilei com o corte do adicional noturno, porque salário de professora cobre o que precisa e olha lá. Consegui, inesperadamente, praticar o que vários amigos <i>zen badauê</i> recomendam: se meu nervoso não resolve, passo mal à toa, se resolve, como direcionar essa energia para dar jeito no que precisa ser feito? Acabei chegando à conclusão que se o mundo vai acabar, não terminará comigo subindo pelas paredes. Também estressei por não ir mais à academia. E não é que estou me exercitando mais em casa? Sinto falta da piscina, é lógico, mas a gente se adapta a tudo quando tem condições de viver e não se batalha por sobreviver.<br />
Pois é. Isolamento social também tem dessas: me saí melhor quieta aqui no meu cafofo do que correndo atrás do que precisava por em ordem pra me trancar. Descobri - pasme! - que o problema não é minha genética, nervoso, ansiedade ou ancestralidade nervosa, como sempre ouvi. É a sociedade que nos adoece. No apê tenho conseguido me movimentar pra ficar em paz nesse corpo, meditar pra ficar numa boa com essa cabeça, estudar (e confirmar que é trabalho mesmo pois saio da pós e do mestrado online doida pra deitar), criar (sejam vídeos, textos ou mandalas) e ver (filmes, séries, curta... Depende do tempo que sobra). E é só! Pois também acho que esse movimento "vamos escalar o Everest em quarentena não deixa absorver a lição que só chegamos à situação atual por produzir demais. É preciso menos - consumo, produção, aceleramento...<br />
Imagino que até o fim vá me estressar, porque nosso estado de espírito é fugidio. Mas estava há meses com dor no peito de angústia. Só que respirando NAQUELE mal estar apertando o peito... Fui soltando o coração apertado. Os <i>zen noção</i>, com os quais brigo de vez em sempre, têm razão: há um espaço de bem estar dentro de nós, disponível para nos apaziguar, só precisamos abrir um respiro pra meditar.<br />
Ninguém precisa me falar: sei que isso tudo é possível porque sou branca, mais ou menos classe média, tenho um trabalho razoável que dá suas escorregadas, mas também não me enfiará a faca e o cabo na minha conta, meu companheiro me ajuda por saber que com a asma qualquer probleminha virará um problemão, por estudar o que gosto, que acaba virando autoconhecimento e indiretamente nos transformando também e meu lado artista me estimula e cura.<br />
Mas à despeito do privilégio todo, toda hora lembro de mais algum grupo sem condições de se isolar, tratar, cuidar e prevenir e fico mal. Ou leio chamadas de notícias sensacionalistas e deprimo. Mas é por isso mesmo que estou recorrendo aos escapes acima. Posso fazer mais algo? Quando a diarista me procurou, paguei adiantado, mas pedi que só venha quando melhorar o estado de calamidade pública. E é isso, sobrou <i>dé</i> real na conta, com as futuras quedas no salário já não poderei continuar esse esquema. Com essas fichas caem, fico mal.<br />
Nessas horas ando uma <i>horazinha</i>. E agradeço meu privilégio de morar entre tanto jardim, de forma que não encontro muita gente e os que eventualmente vejo estão como eu: atravessando a rua pra conter a vontade de cumprimentar mais próximo. Nesse ponto, engraçado!, novos companheiros são descobertos. Vizinhos que não tive oportunidade de mais prosa já me ajudaram com o tratamento da asma, assim, não vou à farmácia. Estamos agitando jantar juntos quando este inferno acabar. Minha gastrite nervosa que dava buraco no estômago a cada uma hora depois de cruzar a cidade, deu uma trégua. Não só estou comendo feito gente como também em intervalos maiores. E por falar em intervalo como o tempo rende fazendo tudo online, sem horas e horas de condução! Também sem preocupação com ela, uso qualquer roupa que quiser porque não serei assediada.<br />
Pensando bem, o enrosco talvez será o retorno. E desconfiando disso, fico mal por estar bem aqui, longe demais de tudo, como diria a música.<br />
<br />Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-22355136846466810942020-02-08T09:02:00.001-08:002020-02-08T09:02:23.171-08:00Uivando contra o Tempo<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxd0nYPLgQdC7qz_K9CMdFX9L2xCihSEG5LNsg2xGap5nuzQnF6lI0G0BjlfyK_2KDM-EuuUD6agfJQ_rbzXR5cmycfi_w8-czgTj21M0Sj9CN8AHjwqfMbfeS5PAwT2YoFIDl8fsNBr1-/s1600/AcordaAlice.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="768" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxd0nYPLgQdC7qz_K9CMdFX9L2xCihSEG5LNsg2xGap5nuzQnF6lI0G0BjlfyK_2KDM-EuuUD6agfJQ_rbzXR5cmycfi_w8-czgTj21M0Sj9CN8AHjwqfMbfeS5PAwT2YoFIDl8fsNBr1-/s320/AcordaAlice.jpg" width="256" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto Marília Apolonio/ Direção Juliana Sanches</td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><br /></td></tr>
</tbody></table>
A relação das mulheres com o tempo. É o que assistimos em A Corda Alice. Mas não só. As atrizes, que estiveram em cartaz por duas semanas no Teatro de Contêiner da Cia Mugunzá, no bairro paulistano da Luz, cantam, interagem com a plateia, se trocam, trabalham poeticamente com elementos de cena que remetem ao universo feminino, fazem as vigas do espaço de trapézio, tocam e contracenam liricamente entre a trupe. Ainda parece pouco para contar sobre o quanto ficamos orgulhosas de nossas vaginas ao ver o Acorda Coletivo em cena. As artistas partilham do que é ser mulher e ter o corpo atravessado pelo tempo, enquanto nos identificamos com as narrativas de cada uma. Nós somos o tempo ciclando: é um pouco o que sentimos com a encenação. Somos a que se preocupa com a mãe doente; as que fazem coisas demais, cuja relação com o tempo nunca se corrige; a que cismou que morreria cedo por isso entupia a agenda, mas venceu sua própria maldição com o correr dos anos; a que venceu doenças; a que sonhava conhecer o mundo; a que tem pés que não cabem em sapato algum; a que vive correndo; a que ama mulheres; a que canta doce e baixinho; a que cantarola Oração ao Tempo; a que se encanta com o que as crianças dizem; a que não pode brincar como queria por conta da família; a que encanou na 1a menstruação... Os ciclos nos reinventam, sempre e sempre! Uma plateia inteira de Alices. Puxando pela memória, já fui a que grila por não ter filhos noutra cena. Quando a ouvimos perturbada com a impressão de que todas se ocupam com filhos, até perdi a fala ouvindo parte significativa da plateia discordar. Tentando como elas mapear o tempo me atravessando, é como se tivéssemos um pouco do relógio nos dando corda e muito dos ciclos nos transformando de dentro pra fora. Claro que o tempo também se imprime nos homens, mas talvez por eles não serem tolhidos desde sempre devido ao sexo, não se sentirem transformados a cada três ou quatro luas, nem serem cobrados para aumentar a família ou por envelhecerem, não os percebemos refletindo sobre a impossibilidade de parar os relógios. Quanto a nós... Sempre brinco que o corpo das mulheres parece público: uns cobram crianças, outros que pintemos o cabelo, há quem aposte que estamos em TPM (não temos o direito ao nervoso), nos acusam de sermos atiradas demais, de ser pouco femininas, muito gordas, magras, musculosas demais... Tentamos frear tanto as intromissões de como sermos, nos expressarmos, posicionarmos, vivermos que depois de alguns anos estamos respondendo aos latidos. E aí, apostam que estamos sem sexo. Por isso lava tanto a alma vermelha da gente ver as artistas interpretando cada olé que damos no machismo irônicas, cantantes, debochadas, encantadas, indignadas, engraçadas, provocativas, apaixonadas, dramáticas, angustiadas... Tantas faces de nós mesmas! É meio catártico e renovador conferir cenicamente dores que às vezes nos deixam cansadas de ser mulher num mundo em que não só o tempo, mas o machismo também nos atravessa. Embarcada nas fichas que o espetáculo faz cair, é contraditório lembrar que já tive fases bodeada de ser mulher, mas hoje em dia ver criativamente sobre nós em cena sempre me interessa! Também pauso o tempo vendo amigos da faculdade em cena: abro um espaço raro em São Paulo: ao final do espetáculo breco o relógio, espero o amigo, parabenizo, coloco as boas novas em dia, pergunto pelos nossos manos cênicos, esqueço do transporte encrencado para casa... A temporada de janeiro já foi, mas as artistas do Acorda Coletivo promovem uma rifa pra trazer o tempo feminino de volta à cena: sempre o trabalho colaborativo salvando o teatro independente, desde sempre! Aos que perderam as apresentações no começo do ano, é possível saber mais sobre os 21 prêmios, apoiá-las e estimular que voltem em cartaz <a href="https://www.facebook.com/search/top/?q=Rifa%20Acorda%20Coletivo&epa=SEARCH_BOX">aqui</a>. Embarcando na memória de um tempo de férias, com noites para ver os irmãos teatrais, uma das frases entre as cenas que mais ficou tatuada em meus tímpanos foi "mulheres que gritam e retrocedem lâminas". Que possamos brecar muitas patriarcado afora, uivando como quem mantém o livro Mulheres que Correm com os Lobos na cabeceira de toda feminista rebelde que se preze.Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-68690128163908055262020-02-04T12:11:00.001-08:002020-02-04T12:11:36.080-08:00Quando o árido chão de escola reencontra o místico auto conhecimento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYTOoAjxRTEYPRJf1ClwZB7syY4z_MpsvQjg5yX8gmpAvbZfjeES2ey1w9Tg-1LQNMNM6TwlFALo0UxsG5DBtA0wGgzCiXHOS7HU3lsxKh6pPh8a5UWxCiW-jHW4r2xb6O_0vIC8bLKZ5o/s1600/IMG_20200112_162231981.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYTOoAjxRTEYPRJf1ClwZB7syY4z_MpsvQjg5yX8gmpAvbZfjeES2ey1w9Tg-1LQNMNM6TwlFALo0UxsG5DBtA0wGgzCiXHOS7HU3lsxKh6pPh8a5UWxCiW-jHW4r2xb6O_0vIC8bLKZ5o/s320/IMG_20200112_162231981.jpg" width="320" /></a></div>
A educação nos esgota tanto emocionalmente que depois de cinco anos num <i>rebosteio</i> socióloga-comunicadora-historiadora- artista me rendi ao privilegiado e sem noção auto conhecimento nestas férias. Depois de overdose de assédio, burocracia, brigas, constrangimento e disse-que-me-disse até uma ativista cabeçuda feito eu começou sentir falta de passar uma temporada <i>out</i>. E lá fui pras extraordinárias Minas Gerais, ficar rodeada de Serra da Mantiqueira por todos os lados. Até aí tudo bem: já tinha passado frio no sul mineiro no recesso de julho. Eu já vinha namorando a ideia de conhecer uma ecovila desde que soube do ENCA (Encontro Nacional das Comunidades Alternativas), que todas têm uma "cola" que as une e que a da que paquerava há tempos era arte e cultura. Até aí nada de novo sob o sol <i>franciniano.</i> Fui num festival cujo foco era performance e auto conhecimento. Pra quem vinha de um ano estudando performance no programa Diversitas da USP e já foi a rainha do retiro em tempos estressantes jornalísticos eram universos que pareciam não combinar, mas <i>simbora</i>! Teve dança, tantra, arte terapia, auto toque, expressão corporal, yoga orgástica, movimentos conscientes em espiral, roda de cura, jogos teatrais, cerimônia do cacau, pompoarismo, massagem, jantar às cegas, mantras na fogueira, meditação ativa, mindfullness... Qualquer pessoa menos aérea teria desconfiado que era demais pra seis dias. Mas não uma meio bipolar meio TDHA (ainda que estabilizada, enfiar o pé na jaca sempre me empurra pra fora do centro). Me atraí justamente pela diversidade: não devia fazer retiro há 8 anos, já mataria saudade de tudo numa tacada só. Lição 1: não eleja algo pras horas vagas se a característica principal é algo que tem e te faz sofrer. No caso, dei corda pra minha euforia que perde o pé fácil, porque no começo ninguém acha que está mal na extrema empolgação, nós temos certeza que somos "imparáveis" e não temos que descansar como o resto dos mortais. E caímos nisso repetidamente. No caso há um detalhe relevante: estava estável de tudo que trato, mesmo assim não parei de tomar nada lá. Nas primeiras noites dormia perto do salão de eventos, quer dizer, tinha insônia porque participantes faziam <i>rave haribô</i> que me acordava. Há algumas férias percebo que não dou mais conta de quarto coletivo, de esquema comunitário, popular, democrático ou troca se me custará a sáude e restauro sagrado necessário na entressafra <i>workaholic</i>. Mas sou a doida das viagens, descanso mais na educação do que fazia no jornalismo, quem resiste não? Lição 2: se há compras importantes e emergenciais a se fazer, são protetores de ouvido e máscaras de relaxamento pros olhos. Lá para o segundo dia acordei de madruga e entrei numa pira de que morreria ou enlouqueceria, o que o pessoal faria com uma doida ou defunta? Louvado seja Buda que tínhamos feito meditação da atenção plena, então fiquei proseando internamente com minha maluquice até desligá-la, mas cortei um dobrado pra dar olé nela viu? No outro dia mega desabafei com uma das organizadoras, pedi help e abri o coração. Ela achou que falar daquilo já me curava. A produção oferecia uma escuta ativa se alguém precisava, mas acho que é como já avaliaram no meu retorno: nós abrimos vários processos e não encerramos a maioria, então alguns demônios internos saindo do armário cutucam nossa gastrite. Na volta, num terreiro desabafei pra um preta velha que sempre fazia isso no jornalismo, não me moía como agora olhar tanto internamente na educação. Me senti com uma avó muito acolhedora porque deitei no colo dela e a entidade acreditou que já dei uma amadurecida e o que passava antigamente sem estragos mudou atualmente devido ao meu processo de me conhecer mais. Bom, penso que a maturidade me ajudou lá também: teve dias em que me permiti respiros específicos que o corpo pedia, deitava, chochilava ou ficava na rede enquanto vários enfiavam o pé na jaca na programação mais hiperativa que eu. Lição 3: me ouvir não tem contraindicação. Apesar do que dividi com amigas, que tinha memórias bem deprês do que conheceram no tantra, lá essa vivência foi uma das menos força amizade que conheci, mas com tanta atividade, parecia nossa pegada jornalística: um pouco de tudo, muito de nada. Uma arte terapeuta trouxe dinâmicas inspiradas na abordagem duma bailarina, que propõem desenhos, troca entre pequenos grupos e um auxiliar o outro no que quer, vendo quais recursos tem e desenhando quais potências podem ajudar. Minhas parceiras na atividade propuseram massagear meu pé, na hora pensei nisso, mas não deu tempo de pedir, depois lembrei da minha mãe que me fazia isso criança, fiquei sensível e fui acolhida. A turma de retiro tende a ser mais mãezona que o povo da militância (não me batam com bandeiras ativistas rs). Do que fizemos introdutoriamente relacionado à sexualidade feminina, pequenas mudanças já tem mostrado que as facilitadoras tinham razão: somos portais pro prazer da terra (é, a linguagem da turma não é muito certeira, mas tudo bem, sou prolixa). Quando tivemos que dar uma palavra para o que experimentamos numa grama, a minha era picada. Fizemos uma caminhada explorando os sentidos, sendo guiados e depois guiando pela montanha numa espécie de mistura entre jogos teatrais e vivências griô que fiz noutros cursos e viagens. Na roda de cura, pra variar, o xamã começa a bater tambor e já me vejo na floresta: enxerguei ansiã índia, canoas, rios, árvores fechadas, fachos de luz e depois não a vi mais. Trocando com ele depois, achamos que morri afogada noutra vida porque sigo num cagaço infinito quando não conheço a profundidade da água. Mas ele foi lá me trazer de volta quando "estava no meio da selva". Na troca de jogos lúdicos percebi o quanto a arte que estudo, exploro, vivo e ensino tem a ver com esse universo "podicrê". O maluco é que eles nos incentivavam a propor atividades nossas no Open Space. Eu só olhava a programação e me perguntava: em que espaço meu povo? Mas também na minha síndrome de super mulher sugeri umas dinâmicas narrativas (que não couberam, mas era previsível que não tinha espaço). A alimentação merece uma lembrança à parte: só havia opções veganas e vegetarianas. Meu paladar as prefere, mas com tanta atividade corporal, passei uma semana com fome, junto com sono, dei uma boa irritada no meio duma paisagem e tanto. Lição 4: alimentação levíssima ainda não é pro meu metabolismo "sortudo" acelerado irritadiço. Devo confessar que ao comer de olhos vendados, minha mesa causou rindo e se divertindo. E que dei uma militada básica na roda do sagrado feminino (virei a ativista das rodas badauê). Foi só sofrência? Claro que não. As pessoas são inspiradoras. A programação fez relembrar, ficar curiosa e cair de amores por várias propostas e pessoas. Minas é tão linda que ao pararmos para fazer No 1 na estrada, acho que nunca fiz xixi com um cenário tão incrível. Uma das meditações dançantes já tinha feito, mas esqueci e foi incrível recordá-la porque é certeira contra insônia. Fora que começamos tomando banho de cachoeira e terminamos na chuva sem roupa, chutando água uns nos outros e rolando no barro. Penso que é bem simbólico começar o ano novo arriscando fazer o novo. Mas sei que é mais simples pra ator, com 20 anos de treinamento em trocas coletivas num único camarim das coxias. Minha família também ajuda com suas relações corporais desencanadas. Achei ainda simbólico ter feito uma ponte com a viagem griô do começo do ano passado, porque a professora de lá tinha razão: a vivência está muito acima de escrever ou fotografar algo. Então claro que quando cheguei foi DR até duas da madruga. Tive que fazer uma leva igualmente intensa de auto cuidado pra dar conta dos processos abertos causando em paralelo. Depois vi que com tanta experimentação e vivência, não dá pra dizer qual funciona mais se só tiver agenda e bolso pra pouco. Acho que um dos baques mais significativos é voltar e se ligar que não dá pra por em prática a maioria do que se descobre lá. Porque como diria uma amiga, <i>o povo é bruto</i>! E o que tenho percebido nestas temporadas estudando o que amo, é que além da pesquisa virar auto conhecimento, fica também perturbador não naturalizar o que nem reparávamos antes. Passei a maior parte do retiro sentindo falta de negro experienciando aquilo. Quando chegou uma, fiz festa, mas ela ficou com parente na cozinha. A gente não leva mais estas discrepâncias de boa. Que bom! Mas ao mesmo tempo, que desconcertante. Depois que voltei terapia, escrita, tratamento, amigos, arte, estudo, mais um pouco de auto conhecimento perturbador, entre outras paradas viáveis no contexto urbano foram ajudando a processar tudo. Só não sei se quando a gente olha pra si tem que virar tudo do avesso, chacoalhar e pendurar no varal sabe? Talvez possa me lavar como uma roupa delicada...Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-9004491261717798262019-12-26T06:19:00.001-08:002019-12-26T06:19:17.846-08:00A dor que nos oprime é a mesma que nos aproxima<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5OEj6T8bMSqdKGNM3Of4LWOGyklR5mHc_mTVaZcEk6CGDqNDaGNJvZjPxYbXNzStLNkYbkNZcp_v8uvMXLSVVbCqdiHMIV8AkmVlWMRSdsx-MNXZOKQg8txZfn30XK1pn4C0bN9FX_S4R/s1600/profs+Piero+e+Madre.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="768" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5OEj6T8bMSqdKGNM3Of4LWOGyklR5mHc_mTVaZcEk6CGDqNDaGNJvZjPxYbXNzStLNkYbkNZcp_v8uvMXLSVVbCqdiHMIV8AkmVlWMRSdsx-MNXZOKQg8txZfn30XK1pn4C0bN9FX_S4R/s320/profs+Piero+e+Madre.jpeg" width="240" /></a></div>
"Onde abre a ferida é pela mesma brecha em que entrará a luz". É uma frase que meus amigos "badauês" - massagistas, yogues, tântricos, espiritualistas, reikianos, terapeutas alternativos - sempre trazem à tona quando estamos mal. Costumo responder a eles que é fácil abraçar esse olhar quando se trata dum "sofrimento gourmet classe 'mérdia'", porque trabalho no chão de escola, com sofrimento raiz, onde jamais consolaria alguém assim. E não é que este ano me fez pagar a língua e concordar com eles? Foi tanto retrocesso político, assédio, doença em família, constrangimento, golpes nos vizinhos latinos, desentendimento com os que amo, autoritarismo... Que por fim, tudo que nos restou foi se ajeitar melhor pra luz entrar na ferida. E em tempos sombrios quem colaborou pra isso foram os colegas que viraram amigos de profissão...<br />
(pausa para um parênteses de contextualização... Venho de quase duas décadas de precarização da comunicação, o que também tornou as relações entre elas fugazes e sem possibilidade de verticalização. Éramos vítimas de tantos "passaralhos", as famigeradas demissões em massa que também agíamos como se os trabalhos fossem tão descartáveis quanto nós. Um pouco dessa relação superficial impedia que fôssemos mais <br />
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que colegas. O lado perigosamente sedutor do quanto nos bajulam no jornalismo tende a fazer com que muitos na área abracem a arrogância que encontramos na maioria dos ambientes de trabalho. Por fim, as trocas entre companheiros de profissão esgarçam tanto quanto nossos direitos e a serventia zero dos "jabás" - os agrados estratégicos - que ganhamos em coletivas de imprensa)<br />
Pois é: venho duma área em que a esmagadora maioria dos meus antigos colegas não me visita em casa, afinal moro numa quebrada, os jornalêros ou são mais bem nascidos ou conseguiram surfar na comunicação antes da ruína da mesma e deram uma melhoradinha de vida. De qualquer modo essa turma não vai pra muito longe dos centros comerciais e de diversão. Não lembro de ter ganho uma carona de alguém que não quisesse me cantar. E na educação os amigos me trazerem lá das <i>beronhas</i> de Santo André pra onde vivo já me tocava o bastante, já que são travessias que envolvem cruzar uma terceira cidade entre elas. Mas este foi um ano de mais avanço neste sentido. Teve abraço em amiga chorando com injustiça, teve acolhida pra começo de pânico, escuta pra dores amorosas e familiares, pesar com sucateamento maior dos outros trabalhos de nossos companheiros, compartilhamento de dúvidas e perrengues familiares, aprendizado com a doideira alheia, indicação pra parceria profissional, <i>palpitômetro</i> pois é a 1a vez que faço aniversários num mesmo trabalho. Muito da ampliação da minha consciência social, educativa, de classe e política se deu com as trocas junto aos camaradas educativos. Sim, estou de férias, ouvindo vários pedidos pra que <i>tire o capacete</i>. Mas como este me pareceu um dos presentes mais descarados de 2019, achei que era o caso de postar e jogar pro universo este agradecimento. No caso, jogarei a gratidão também no zap. Só pra confirmar que nossos textões podem ser a ruína da formação de leitores... E voltar à malemolência natalina em 3, 2... Zzzzzz... Ronc!<br />
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bebedeira coletiva e em petit comitê, agrados inesperados, risadas desenfreadas e terapêuticas, união contra abuso de poder, indignação coletiva devido aos tempos sombrios, paralisação, andanças significativas, cagaço de bomba na manifestação e tantas outras coisas que não caberia neste post. Estes laços foram fomentados pelas dificuldades do ano, envolveram nossas subjetividades, mas também foram pra além de nossos universos particulares. Tanto que nunca antes na história desse país tive dó de mudar de bloco de escolas e começar tudo de novo ano que vem. Imagino que muito disso se deva a já dar aulas no ABC há cinco anos - sendo que na profissão anterior fiquei no máximo um ano e pouco num trabalho. Mas é só um Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-19515423148437399122019-10-20T15:50:00.002-07:002019-10-20T15:50:56.116-07:00Banzo dos rios e cultura ribeirinhaHá pouco tempo percebi que o quanto estou próxima do que quis ser e tomei um susto. Parabenizei uma colega da antiga profissão, que sempre foi mochileira e me inspirou. Há décadas ela voluntariou na Amazônia, o que me despertou curiosidade. Acabei de voltar da região norte e me espantei: nossa fui trabalhar, pesquisar e ainda passeei pelos rio, ilhas e trechos da vegetação amazônica. E tenho viajado mais como professora do que consegui "mochilar" como jornalista. E neste sentido sou muito sagitariana: milhares de vezes tenho a percepção de que seguro a onda no trabalho pelas férias. Obviamente como semi nova já me liguei que não vivemos só pela alegria de por o pé na estrada. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF0x_MlQZw0h3aO4IxRdChGTRy0scfWCVInlT6-15DGpdsaykUADSeIHTrFfqnD0NIQVDSH04vAMSy9XlsJTNAaOV7YJTf6ii5BXcQyDd0ygsju5jlCdFp1fHaMz2uVpHwAFAr7E1f3Q2Q/s1600/IMG_20191010_104205788.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1200" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF0x_MlQZw0h3aO4IxRdChGTRy0scfWCVInlT6-15DGpdsaykUADSeIHTrFfqnD0NIQVDSH04vAMSy9XlsJTNAaOV7YJTf6ii5BXcQyDd0ygsju5jlCdFp1fHaMz2uVpHwAFAr7E1f3Q2Q/s320/IMG_20191010_104205788.jpg" width="240" /></a></div>
Pras bandas de cá, também desconfio que além do espírito andarilho, vivo ainda para criar e estudar o que amo. Mas porque falar tanto de mim pra lembrar do Amapá e Pará? Apesar de nas postagens das redes sociais parecer que viajar é uma vivência tão externa a nós mesmos, nos últimos anos sinto que cada vez mais essas viagens foram para dentro de mim. Quando visitei o <a href="http://www.museusacaca.ap.gov.br/">Museu Sacaca</a> no Amapá e vi as reproduções das casas ribeirinhas, me perguntei:<div>
- O que a casa do meu avô está fazendo aqui?</div>
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A construção de madeira, o vão embaixo das palafitas, os móveis rústicos, acessórios simples e a louça pendurada na parede eram todos os mesmos encontrados no norte do Paraná. Só o telhado de palha era típico da região Norte. Neste centro cultural, ainda encontramos informações da pesquisa fitoterápica do estudioso que deu nome ao espaço, ocas feitas pelas mais diversas tribos, esculturas de parteira, grávida e bebê nascendo numa esteira nessas palafitas recriadas para a exposição. Minha família também curou e recomendou ervas para diversos males durante anos, amávamos redes feito os indígenas e há anos estudei para doula, apaziguando expectativas maternais que eram externas aos meus próprios sonhos. </div>
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É como se mochilasse por me sentir centrada com o pé na estrada, mas na prática me reencontrasse a cada comunidade tradicional visitada: entre os indígenas que fiz o projeto <a href="https://franzocabrandao.blogspot.com/2016/06/povos-originarios-argentinos-provocam.html">Oralidad Escrita</a> em escolas bilíngues argentinas e nos que assisti em <a href="https://franzocabrandao.blogspot.com/2018/07/cerrado-e-eu-um-caso-de-amor.html">Alto Paraíso</a> (GO), nos quilombolas em que fiz vivência <a href="https://blog.brinquebook.com.br/papo-brinque-book/uma-outra-cidadania-e-possivel-a-grio/">griô</a> na Bahia e agora, no universo ribeirinho amapaense.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2hziKQI0FT1Gy_nNBcNFSwu7ky1PdbgrYX2AcD1Q4umvsg_wQyckuEXitDWXNTDdvp-cJIgQPRW8k0SpVXJgqgk12l68YCOlqKoZnQueM6lCA8kl7GM2viTQmGcfbwuaCs71HwnLRdw-c/s1600/IMG_20191009_172750068.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2hziKQI0FT1Gy_nNBcNFSwu7ky1PdbgrYX2AcD1Q4umvsg_wQyckuEXitDWXNTDdvp-cJIgQPRW8k0SpVXJgqgk12l68YCOlqKoZnQueM6lCA8kl7GM2viTQmGcfbwuaCs71HwnLRdw-c/s320/IMG_20191009_172750068.jpg" width="320" /></a></div>
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Mas nem só de vivências antropológicas se faz uma viagem! A gente cruza o país, mas não deixa a educadora pra trás: conhecendo o <a href="https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2019/09/20/evento-celebra-chegada-do-equinocio-com-apresentacoes-artisticas-e-artesanato-no-amapa.ghtml">Marco Zero</a>, que permite visualizar a linha do Equador estudada na escola, fiz poses metade num hemisfério e o restante no outro e percebi a diferença que dá experienciar para estudar. Vontade súbita de repassar vários cliques sobre os terraplanistas às turmas que ensino.</div>
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Não foi só neste ponto turístico do Amapá em que senti isso: no <a href="http://www.palmares.gov.br/?p=54593">quilombo de Curiaú</a>, quando tirei a sandália e mergulhei os pés na água, me espantei: "caramba esse é o igarapé"! Com relação às águas de lá e do Pará agi como recomenda o samba "<a href="https://www.youtube.com/watch?v=VJTmEVCnhQY">alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarzinho</a>". Já estava quase no meio da viagem quando criei coragem para mergulhar inteira no rio Amazonas, que via da frente do hotel e me chocava: "nossa esse é o maior rio do <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXvGuHVqKldSRPy33cdSAbR1BHn1s-7j5I4avIUyhYlkE1VC0TRyoIIaX3QiDQZJACnYlcV0uEkcFSGWr9E3kQTxYUvKlFt5YUFja2of5RIGNkqs-VIIOXzvkCwnSGurkUr-XkZOjzU7u_/s1600/boia+Amazonas.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="1040" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXvGuHVqKldSRPy33cdSAbR1BHn1s-7j5I4avIUyhYlkE1VC0TRyoIIaX3QiDQZJACnYlcV0uEkcFSGWr9E3kQTxYUvKlFt5YUFja2of5RIGNkqs-VIIOXzvkCwnSGurkUr-XkZOjzU7u_/s320/boia+Amazonas.jpeg" width="320" /></a></div>
mundo"! Ensaiei encarar suas águas na Ilha de Santana, porém lá estava meio seco e o mangue nos atolou, impedindo sair das margens. Ali percebi que me distanciar de casa é tão terapêutico que não me abalei quando vi que tínhamos ido para uma região remota demais, sem ter onde e o que comer, além da carona de volta demorar demais para nos resgatar. </div>
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Não foi só nesta ilha que senti o potencial terapêutico da viagem: em <a href="https://selesnafes.com/2016/06/a-historia-de-mazagao-velho-por-um-de-seus-filhos/">Mazagão histórico</a> paramos para fotos à beira d'água. Vi que tinha um deck de madeira, aproveitei para descer devagar (acho que ainda meio cabreira depois de quebrar o pé em Parati). Foi quando não senti mais os pés, tive cinco minutos aflitivos e me joguei rio adentro, nadando até o outro lado. Claro que estava raso, mas cheguei ao outro deck com a sensação não só de atravessar a nado, mas de também cruzar uma memória de dor e medo. Soube que <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_dXE26Dwt3KUmTd0mhq4yZprl3NVxWgn5a3uilnwPXVPR-5OaEqFovYAwtQOhpiIIuAw8Th05kISGu9_Lqlv0s5ajG5t0jzz-H3FBXvQ8gjZBAmXj9TX94gM13OEIhX6E1H5CkTyzbxaW/s1600/Mazagao2.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1280" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_dXE26Dwt3KUmTd0mhq4yZprl3NVxWgn5a3uilnwPXVPR-5OaEqFovYAwtQOhpiIIuAw8Th05kISGu9_Lqlv0s5ajG5t0jzz-H3FBXvQ8gjZBAmXj9TX94gM13OEIhX6E1H5CkTyzbxaW/s320/Mazagao2.jpeg" width="240" /></a></div>
lá fazem cortejo e teatro de rua sobre a briga dos mouros com cristãos, na festa de São Tiago - que aqui no sudeste acontece nas congadas. Comecei a perceber que o interior do país dialoga, mesmo que baixinho e às vezes, sem se entender.</div>
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Desde que minhas férias foram se embrenhando Brasil adentro, fiquei com a sensação de que cada interior é um mundo, ao passo que o litoral costuma ser mais parecido. A caminho desse mergulho renovador que fiz paramos para acompanhar trabalhadores torrarem farinha de mandioca - e aqui lembrei que na <a href="https://blog.brinquebook.com.br/papo-brinque-book/reencontro-com-as-raizes-ancestrais/">vivência no quilombo baiano do Remanso</a> colegas de estudos aprenderam com mestres locais a fazer... Farinha!</div>
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O capítulo gastronomia rende uma memória à parte: não dei conta dos pesados pratos cheios de camarão, imitando feijoada e cozidos que comem por lá. Depois ouvi de uma nutricionista local que o Pará é campeão de câncer de estômago devido à culinária indígena ligeiramente pesada. Depois de uma espécie de "rave de cultura popular", um <i>tucupi com carimbó na lage</i>, meu amigo, que manda bem na percussão, passou mal talvez com turu, um verme que dá em árvore meio podre. É, a gastronomia nortista é para os fortes! Mas pra não falar que voltei sem um gostinho de lá, provei suco de bacuri e <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzMmMDf7PQhAoC-L7t99ay0GLByLJHMqUo7zCy1V3DIKCXjPiVzpSDfuEdtpGM2UjWrxmwaeryNe9-cd2PRHPc5mi8lSUZdpyLdr1N5KBAMr0MxuSEA_mZY1kJNzLvyR7CPSleWL8OfdkQ/s1600/Cirio.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzMmMDf7PQhAoC-L7t99ay0GLByLJHMqUo7zCy1V3DIKCXjPiVzpSDfuEdtpGM2UjWrxmwaeryNe9-cd2PRHPc5mi8lSUZdpyLdr1N5KBAMr0MxuSEA_mZY1kJNzLvyR7CPSleWL8OfdkQ/s320/Cirio.jpeg" width="320" /></a></div>
tapereba, açaí com farinha de mandioca, gelinho de graviola, farinha de tapioca diferente da nossa e côco no café, pescada dourada e filhote (esses últimos, com nossos acompanhamentos de costume).</div>
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Foi esse amigo que me apresentou o <a href="https://ciriodenazare.com.br/site/">Círio</a>. Chegamos já no fim, mas vi a Santa Nazaré chegar à Basílica, que tocou muito seu sino. Além das ruas lotadas de fiéis, vi diversas marcas aproveitando a manifestação popular para distribuir leques com orações de um lado e suas propagandas no verso, paraenses distribuindo água gratuitamente, acolhendo aqueles que têm fé, além de exposições em homenagem à Santa da Amazônia no aeroporto, que também distribuiu fitinhas para fazermos pedidos e amarrar no corpo, esperando que caiam e eles se realizem, além duma procissão fluvial atrasar a ida minha e da artista amapaense que conheci até o distrito de Fazendinha. Parece que a santa é afeita aos novos fiéis: fiz o ritual da fitinha e um processo empacado há três meses andou em São Paulo, antes mesmo deu voltar. Exagerada como típica sagitariana, já amarrei logo duas fitinhas do Círio. </div>
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Essa viagem me transportou pra um tempo dilatado em que o relógio pareceu passar no ritmo interiorano. Levei dias para conhecer as lojinhas da <a href="http://www.estacaodasdocas.com/">Estação das Docas</a> (e ter dificuldade pra resistir a elas). A vista era linda, mas desconfiei que o bolso fosse se ressentir de matar a fome ali. E depois de ouvir uma encarregada brigar com uma faxineira no banheiro, achei que era o caso de comer fora de lá. Fomos ao mercado <a href="http://radios.ebc.com.br/reporter-nacional-amazonia/2019/03/mercado-ver-o-peso-em-belem-completa-hoje-392-anos">Ver o Peso</a>. Percebi que andávamos há um tempão: havia setores inteiros de <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj41mx_mQIsQJ2ZMWcZfdy6qP_fMVsJXH2DQWHv15Jrr2jS2rBF2R4hO1FCDxXcstweWqd4-QRWbWCrW7qeYrciYEGZYUN5M53PhbDwSLjMXCLpXHs7O3pXWujBfWhzRcUND_t_XknVrLoG/s1600/IMG_20191014_172503053.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj41mx_mQIsQJ2ZMWcZfdy6qP_fMVsJXH2DQWHv15Jrr2jS2rBF2R4hO1FCDxXcstweWqd4-QRWbWCrW7qeYrciYEGZYUN5M53PhbDwSLjMXCLpXHs7O3pXWujBfWhzRcUND_t_XknVrLoG/s320/IMG_20191014_172503053.jpg" width="320" /></a></div>
peixe, artesanato, óleos... Meu amigo me fez ver que não parecia enorme à toa: dizem que é o maior mercado a céu aberto do mundo. Quando escrevo dizem é por falta de conhecer mais o mundo: da imensidão do Ver o Peso não duvido. Almoçamos no meio dele. Então vi ambulantes divulgando seus produtos em bicicleta, com o som a todo vapor, produtos pendurados neles e até dando susto nos que tentavam almoçar (é, não entendi a agressiva estratégia de marketing). Ainda zanzamos pelo centro histórico (tenho sensação de visitar uma memória neles, tão similares nas capitais... Parecidos inclusive no abandono - infelizmente!). Conhecendo o <a href="http://www.mangaldasgarcas.com.br/nossos-espacos/">Mangal das Garças</a>, uma mistura de parque, museu, centro cultural e turístico, perdi o chapéu pro vento no farol - o por do sol era tão cativante que descuidei dele! No mirante, embaixo, me encantei com a preservação da vegetação e as construções não competirem na paisagem - ao menos não naquele trecho. Estávamos tão embevecidos com o sol se pondo que funcionários do espaço tiveram que nos tocar, já que o expediente deles tinha encerrado.</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYNK473HrFUQ1-pM64maOtrzsQVPQw3n53VgTMhv59yC_P4WPfhoRxRu0FDJFjXQV0VNyVgthyv7AAm_6Nw7UkbrI_YqwryHJfej1pTYjtQxl2nRLDGU4ndpeVf077ysHl6D5vjH32EvmZ/s1600/IMG_20191014_175224954.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYNK473HrFUQ1-pM64maOtrzsQVPQw3n53VgTMhv59yC_P4WPfhoRxRu0FDJFjXQV0VNyVgthyv7AAm_6Nw7UkbrI_YqwryHJfej1pTYjtQxl2nRLDGU4ndpeVf077ysHl6D5vjH32EvmZ/s320/IMG_20191014_175224954.jpg" width="320" /></a></div>
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Ainda na rota "caída de amores pela natureza local", fomos para <a href="http://www.paratrip.com.br/ilha-do-combu-um-paraiso-pra-chamar-de-seu/">Ilha do Combu</a>, uma das mais próximas de Belém. Lá vi ainda mais vegetação preservada. Fiz umas fotos intuitivas devido ao sol forte impedir visualização certeira e caímos na água. Meu amigo se espantou com a caipira do asfalto aqui nadando. E eu estranhei a piscina de rio que fizeram em frente ao restaurante que ficamos. Ao entrar, percebi que era pra criança. Estranho que a maioria dos frequentadores não estava aproveitando a água. Vai ver, neste dia receberam mais turistas que preferem a piscina de seus hotéis. A comida deu mais canseira que na Bahia para chegar, mas o barco, esse atravessou o rio com emoção de um mini bug correndo nas dunas de Natal, o que pode ter contribuído para não perder o voo.<br />Já ouvi que devia ter virado antropóloga porque adoro uma miséria. Adoro mesmo são as diferenças culturais: no Macapá encontrei todo um tempo menos afobado (percebi que às vezes levamos a ansiedade paulistana na bagagem), em Belém ouvi as pessoas se referindo a Deus e mundo como <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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mano e só tomarem banho frio. Mas cada vez vejo mais essa discrepância entre o tempo urbano e do interior. Na hora de voltar me deu uma dor no coração (parece que o corpo sabe o que está por vir porque logo no dia seguinte já me estressei menos de 24 horas depois de retornar) e também tive uma dozinha dos amigos ficarem tão longe.<br />Pra que o norte não embotasse na minha memória, fui mostrando aos estudantes as pesquisas nas comunidades ribeirinhas, os aprendizados nas visitas e as histórias do projeto Para Crianças Nada Bobas que levei ao Sesc de lá. Para parir este texto, dias depois do retorno com banzo do Norte, coloquei uma <a href="https://www.youtube.com/watch?v=syKgWZrezbw&list=PLgbA7GYqI7SQEj_z7qgI_NpVVU3vn6jj0&index=20">trilha sonora de carimbó</a>. Se tem uma coisa que as andanças no Amapá e Pará deixaram em mim é a estranheza do nosso açaí com guaraná do Sudeste. E a vontade de voltar, claro. Que a cultura do Brasil Profundo não se esgota numa visitinha, muito embora a minha tenha parecido maior do que realmente foi.</div>
Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-16726056991458389792019-09-24T07:57:00.000-07:002019-09-24T07:57:54.533-07:00Narrativa Coletiva FemininaPara quem busca entender mais sua história, das mulheres da família ou se espanta com as semelhanças dos contextos femininos no geral, apenas assistam a peça <a href="https://dicadeteatro.com.br/quarto-19/">Quarto 19</a>! É um monólogo feito pela atriz <a href="https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/08/no-meio-da-lama-atriz-amanda-lyra-acumula-indicacoes-a-premios.shtml">Amanda Lyra</a>, baseado em conto da escritora <a href="https://www.infoescola.com/biografias/doris-lessing/">Doris Lessing</a>, que senti próximo da tragicomédia (estilo que adoro: tão nossas próprias vidas!). A performer divide o espaço cênico do <a href="http://www.teatroevaherz.com.br/teatro/">Teatro Eva Hertz</a> com uma cadeira e um cenário simples verde. A última vez em que vi algo tão enxuto e extraordinário foi a <a href="https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,fernanda-montenegro-e-simone-de-beauvoir-no-teatro,375241">Fernanda Montenegro</a> fazendo Simone de Beauvoir no teatro do vizinho <a href="https://www.encontraipiranga.com.br/ipiranga/ceu-meninos-no-ipiranga.shtml">CEU Meninos</a>. Amanda, que também traduziu o conto britânico, divide com a plateia a trajetória dum casal sensato, inteligente e com vidas profissionais independentes, que aos poucos vai se envolvendo num roteiro que os aprisiona cada vez mais: uma relação clássica, gravidez, casamento, outros filhos que vem em seguida, a casa de jardim com vista para o rio, a empregada, o trabalho do marido que financia todo este universo, a trégua na carreira que a mãe publicitária dá e o consequente embotamento da identidade dela vivendo em função disso tempos depois. O público passa várias <i>spoiler</i> pode terminar em perda de amizades e leitores.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYfgGPA_cX97DVBRzxxyr0TbbJKNslyJHCxhpLCYTH8U0PaJzEz0by1pJifX1VotkjxdkwsDmF0HUwrhZvf0dc-Nye2xbxsHOHYXv6LseB4w7O9BQFwYEYuXlMvppv04qKJxmleeuh-gpz/s1600/Quarto19.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="613" data-original-width="919" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYfgGPA_cX97DVBRzxxyr0TbbJKNslyJHCxhpLCYTH8U0PaJzEz0by1pJifX1VotkjxdkwsDmF0HUwrhZvf0dc-Nye2xbxsHOHYXv6LseB4w7O9BQFwYEYuXlMvppv04qKJxmleeuh-gpz/s320/Quarto19.jpg" width="320" /></a></div>
cenas se divertindo, percebendo semelhanças com suas próprias vidas e - quem sabe? - rindo de nervoso. Durante um razoável tempo do monólogo é a narrativa da classe média burguesa, justificando a pasteurização de suas vidas inteligentes, bem sucedidas, recebendo amigos, sendo referência para os mesmos e encarando peso - e o preço - que manter isso tudo acarreta. A atriz alterna entre narrar e trazer a história para a primeira pessoa, sem deixar de nos fazer ver o cenário que descreve, muito menos nos distanciando do que sente a ex publicitária, que diversas vezes flerta com o desespero entre os três filhos demandando atenção o tempo todo. Aos poucos ela e o companheiro tentam buscar um equilíbrio: as crianças vão para escola, mas ao mesmo tempo em que a protagonista tem espaço, sente-se mal por deixá-los tanto no colégio. Ao chegar as férias, as mesmas parecem durar demais na administração do sem fim de energia dos pequenos. Muitas vezes ela tenta se refugiar no jardim, porém lá parecem se esconder seus próprios demônios. Tranca-se no banheiro, mas as crianças a demandam no rodapé da porta. Uma babá vem socorrer o quanto essa mãe se esgota, exaure, necessita espaço e não aguenta mais viver em função das crianças. O marido já dá suas puladas de cerca, mas como são inteligentes, razoáveis e tem uma casa, filhos, financiamento e empregadas domésticas para manter, o perdão - ou qualquer outra emoção de nome impronunciável - faz com que a relação vá cozinhando em banho maria. A ironia permeia muita das falas e dá um respiro ao cotidiano previsível e cansativo da personagem. A família negocia espaço para a mãe e esta ganha um quarto no qual uma espécie de placa "não perturbe" é colocada, porém não demora muito para que filhos e empregadas invadam o espaço que precisa. Ela consegue um dinheiro com o marido, vai para o distante centro da cidade e lá aluga um quarto no qual consegue solidão, não ter tantos pedidos para atender, nem está fazendo tanta coisa quanto em casa, onde já ajuda as empregadas para se ocupar. É nesse Quarto 19 em que afinal consegue alguma paz, ainda que temporariamente. Ali ela não é mãe, esposa, patroa. Aos poucos ela vai dilatando o tempo nesse local, ao passo em que o marido periodicamente dá suas escapadas. Ela ainda vê os demônios que a rondam no jardim e aos poucos, o universo doméstico parece ficar cada vez mais distante do envolvimento dela. A encenação ganha toda uma reviravolta quando o marido descobre onde passa tanto tempo. A mulher oscila entre se apiedar com filho doente, fugir para o Quarto 19 e se perturbar com não encontrar mais quem é ou quem foi nessas escapadas para se refugiar no hotel do centro. Não demora muito, já não reconhece mais o marido e este cogita separar, tem amante e ela inventa uma saída qualquer com desculpa esfarrapada, além de criar um amante no desespero da conversa. Amanda tem todo um jogo corporal que nos dá uma ideia do desespero e perda do olhar de quem a personagem é, além de interpretar bem como a hiper demanda duma vida tão aparentemente perfeita pesa para quem cuida do caos doméstico. Me surpreendi com o destino da personagem, mas descobri um colega na poltrona ao lado, coincidentemente voltamos para o mesmo bairro partilhando encantamentos, alegrias e empatia com a protagonista do texto de Doris e ele, também da comunicação com incursões cênicas pela vida - não se chocou com o desfecho da narrativa. Para quem batalha pelos direitos femininos vale ver, porém transformador mesmo deve ser quem não compreende a importância do feminismo. Esta não é uma crítica (quem sou eu para avaliar a competente atriz?) mas Amanda divide conosco sua tradução, ensaio, adaptação e performance no Teatro Eva Hertz do Conjunto Nacional, próximo ao metrô Consolação, nas sextas às 21h até 18 de outubro. Impressionante como o texto de Doris segue atual, em tempos infelizmente sombrios e machistas. Amanda já conquistou diversos prêmios com a performance e passamos parte significativa do monólogo torcendo para que a personagem separe, volte a trabalhar ou fuja. Como a protagonista resolve o peso desta vida classe "mérdia" já não revelarei, porque Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-17128085911112877582019-09-23T07:16:00.000-07:002019-09-23T07:16:17.457-07:00Diário Mineiro de Viagem<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBU6E3xgc0xL7UdNF-bRzKzG2nHSROxTGD_dG7_LW7U8BZXe5OgOAkM01YriCgL9iTlZH433c8UT5k7sr481fNWIuY64bAZd5hLWZmGGUt8dgCLUPnMmUGf1GYlWL_o8c2IVx79DUomVKc/s1600/70411496_2112484869060474_2312272386277244928_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1467" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgBU6E3xgc0xL7UdNF-bRzKzG2nHSROxTGD_dG7_LW7U8BZXe5OgOAkM01YriCgL9iTlZH433c8UT5k7sr481fNWIuY64bAZd5hLWZmGGUt8dgCLUPnMmUGf1GYlWL_o8c2IVx79DUomVKc/s320/70411496_2112484869060474_2312272386277244928_n.jpg" width="293" /></a></div>
Voltei de viagem lembrando de um colega de retiro, que uma vez fez um em silêncio, foi dar uma palestra na sequência, mas ficou um tempão quieto. Meio que voltei similar lá de São Thomé das Letras (MG): inicialmente meio sem ideias para o blog. Por isso opto por escrever das boas diferenças desta viagem comparada às demais. No geral, ou viajo só ou com meu companheiro. Nos últimos anos fiz mais férias solo porque ele está frelando e pela primeira vez na história desta relação, dar aulas, dar formação e contar histórias me paga mais do que os <i>jobs</i> dele, que não é impulsivo com catzo nenhum, muito menos com grana. Eu? Bom, já melhorei, mas digamos que fico centrada com o pé na estrada, então esse é meu ponto fraco. Neste finde aceitei o convite duma ex chefe, atual amiga, que sempre falava de me levar lá nessa cidade bicho grilo. Sexta dormi lá, tentando causar menos porque a motorista cairia da cama sábado, mas depois de ver a peça feminista tragicômica <a href="https://aplausobrasil.com.br/critica-quarto-19-castracao-o-alienamento-e-o-sacrificio/">Quarto 19</a> (apenas vejam!), não consegui evitar chegar tarde em Mauá, onde ela vive (como diz meu marido "que mal há"?). Sábado madrugamos eu, ela, as filha, vizinha e "releitura de sobrinha" dela (que na real é ex cunhada). Quase que sempre sou um fiasco como companheira de viagem e durmo horrores. Trânsito demais, de menos, no geral me apaga quase sempre. Tanto que tenho histórico em bater, então não ofereço revezar, fora que estou enferrujadíssima. Mas fiquei na frente, a motorista é geminiana. meu oposto complementar e proseamos bem mais que cochilei. Adentrar Minas é sempre um capítulo à parte, as montanhas vão logo nos desacelerando. O clima brejeiro ajuda resgatar minhas raízes caboclas. Quase sempre que chego às cidades, independente da região, já vou pra onde me hospedarei. Mas como nosso check in era no almoço, fomos direto à <a href="http://www.saotomedasletras.net.br/cachoeira_vale_das_borboletas.html">Cachoeira das Borboletas</a>. Precisava tanto que Oxum levasse a zica urbana que fiquei um tempão embaixo d'água. Sem bater dentes ou estranhar a força da queda d'água. Cantei nelas. É outro rolê ir com quem conhece o local há décadas porque tem o filtro entre as roubadas e os achados da região. O artesanato é muito <i>podicrê</i>, pena que minha gata Peteca quebraria tudo. Mas comecei pegando leve porque já tinha me dado um biquíni na véspera, pois embora tenha planejado fazer mala com calma, antecedência e passado mentalmente check list do que não deixar pra trás, larguei o maiô secando atrás na geladeira porque fui à hidro. Depois de todo esse rolê é que fomos à <a href="http://pousadaparaisosaothome.online/">Pousada Paraíso</a>. Vi na entrada que fazem parte do <a href="https://roteirosdecharme.com.br/index.php">Roteiros de Charme</a>, uma seleção de hospedagens rústicas que conheci escrevendo pra revista Viaje Mais Por Menos há décadas. Por exemplo: embora chegamos após comer, o que não tinha sido consumido no café da manhã era disponibilizado para recepcionar quem chegava mais tarde ou vinha de longe.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVY3DlvmcuRSbTkT8JZm_PxXLyDz1TcsECiNv9lbyEtaZcJXgTHi1egPOebv86HdSZPu69VfkrNUsbzXbe01k0Bv5N3pVHZK6TXFNtLbj3ogodPhWeGZJuurKzQDLavkRoAaE7ZOlwYezq/s1600/video-1569207984.mp4" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="240" data-original-width="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVY3DlvmcuRSbTkT8JZm_PxXLyDz1TcsECiNv9lbyEtaZcJXgTHi1egPOebv86HdSZPu69VfkrNUsbzXbe01k0Bv5N3pVHZK6TXFNtLbj3ogodPhWeGZJuurKzQDLavkRoAaE7ZOlwYezq/s1600/video-1569207984.mp4" /></a></div>
Achei simpático. Meu estômago também. Cochilar depois dessa circulada deu ao passeio um ar de programa na praia sabe? Água e siesta, só falou a maresia. À noite fomos circular pelo centro. A arquitetura, as calçadas e a rua são todas de pedra. Encontrei uma simpática hamburgueria, cheia de arte pelas paredes e fiz de conta que sou natureba porque comi um vegetariano. Zanzei ouvindo as lembranças da minha amiga pelas ruas. As jovens que foram conosco foram gandaiar ou paquerar, não tenho bem certeza. Tentamos ver o por do sol numa região alta, em que sobem numa casa de pedra, alguns cantam (matei as saudades dos reggae da minha adolescência), outros vendem ou aplaudem o por do sol. É que este dia estava nublado, mas não deixou de ser possível ver paisagens incríveis. Rodamos mais pelas ruas de pedra: enfiei o pé na jaca, comi sobremesa, complementei a janta anterior com cardápio nada original que vivo cozinhando em São Paulo e tomei vinho. Me dei umas bijuterias com pedras de proteção, saia, calimba e troquei muita ideia com a hippie. Aliás <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4j3TvmaVlRKk2qwyiKSZPudrcVh_Rnd0jce7tDSofN6d_1pzG8JLllR0rbZfk4_U0l3iLwGsxA62op0a_ZsH_TLVczfpj9fVS0q3St5cAT17Asm07_-q07ZdxrVNkTC1BZiE0LxJKJc5_/s1600/WhatsApp+Image+2019-09-23+at+08.37.31.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4j3TvmaVlRKk2qwyiKSZPudrcVh_Rnd0jce7tDSofN6d_1pzG8JLllR0rbZfk4_U0l3iLwGsxA62op0a_ZsH_TLVczfpj9fVS0q3St5cAT17Asm07_-q07ZdxrVNkTC1BZiE0LxJKJc5_/s320/WhatsApp+Image+2019-09-23+at+08.37.31.jpeg" width="320" /></a></div>
praticamente entrevistei meia cidade porque uma das coisas que valem rodar o país são as histórias das pessoas. O pessoal que foi comigo ainda foi ver um show, tentei dormir cedo, mas tenho dificuldade quando estou feliz e fora de casa. No fim, fomos à <a href="https://turismodeminas.com.br/cidades/sao-thome-das-letras/">Pedra da Bruxa</a>: comecei achando os visitantes meio atirados de ir tão na ponta das pedras, mas terminei fazendo as mesmas fotos lá, abrindo os braços: "olha amiga... E agora: sem juízo"! Quando pensei que já tinha gasto minha cota de precaução, fiz uma tirolesa de 580 metros. Não sem antes entrevistar o engenheiro técnico. Normal começar com dor de barriga, como entrar no palco. Mas perdi o cagaço antes do meio, soltei uma das mãos, o que me virou para a plataforma de cima, me balancei pra frente por curiosidade de continuar vendo a paisagem, empaquei um pouco antes do fim, um moço veio me guinchar ao chão, tentei perguntar se isso era normal, mas não ouviu e no fim escutei que se engordar um pouco mais, descerei até o fim <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK2OF4yGDKDOcX1qNChVINd4ZHsJCJsn5yJBAulGW7jg2fZ9VbL75j_AI-l86JtRagdFebw8a5YIO_PU73wnjSxrPKV7jcFOCwr5yy61J_R8D1ZLCpdHxGLcM1jNHRwx7aBeJwcKzXjEWT/s1600/70650767_423526968271174_9045737416467415040_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjK2OF4yGDKDOcX1qNChVINd4ZHsJCJsn5yJBAulGW7jg2fZ9VbL75j_AI-l86JtRagdFebw8a5YIO_PU73wnjSxrPKV7jcFOCwr5yy61J_R8D1ZLCpdHxGLcM1jNHRwx7aBeJwcKzXjEWT/s320/70650767_423526968271174_9045737416467415040_n.jpg" width="320" /></a></div>
na próxima. Achei extraordinário, não gritei, nem pareci a escandalosa dos meus tempos de montanha russa. Por fim, encaramos um pit stop mineiro derradeiro na estrada. A caminho da volta arrisquei cardápios mais caipiras (porque meu sistema gástrico não colabora) A guerreira da minha amiga foi dirigindo o caminho todo, mas fez paradas providenciais para banheiros e comidinhas. É incrível viajar sem familiar apressado no volante que já fez parente mijar no carro porque não podia dar uma mísera parada parada ou com sem noção fumando no nosso cangote e nos xingando por reclamar. Sem contar que passear sem vizinhos de banco reaças é a maior brisa. Esse post é só pra comemorar: calculei os frelas na poupança e farei outras quatro viagens anti stress, de trabalho,<br />
para comemorar niver, com amigos e marido até o fim do ano. E reafirmar que concordo com a galera do <a href="https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28936-o-que-e-ecoturismo/">ecoturismo</a> que recomenda: "viaje pelo mundo, mas antes conheça seu país".<br />
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<br />Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-28976395265196871422019-09-20T11:05:00.001-07:002019-09-20T11:05:20.944-07:00Desenferrujando de performar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbJ7nscsjhOANRSInmR3tgdDV9X4sfk_VgijMTPwco021Oj4VMLKbvThFiNMru_n3RiM4Nd2siH6j1-e0uXD0WJoE7udImkia0Rn2r_lAwRU5Px19bFnuHTLCTevnrIBp41LkgWAJSXR3k/s1600/Ze+Niguem3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="540" data-original-width="960" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbJ7nscsjhOANRSInmR3tgdDV9X4sfk_VgijMTPwco021Oj4VMLKbvThFiNMru_n3RiM4Nd2siH6j1-e0uXD0WJoE7udImkia0Rn2r_lAwRU5Px19bFnuHTLCTevnrIBp41LkgWAJSXR3k/s320/Ze+Niguem3.jpg" width="320" /></a></div>
Finalmente estreei em performance não linear! Explico: repito pelo segundo semestre seguido o estudo da disciplina performance no programa Diversitas da FFLCH/ USP, no teatro de Contêiner no bairro da Luz. E nesta temporada como pesquisadora artístico-acadêmica meu grupo, na hora de costurar ideias pra performar Escuta e Escrita da Cidade, que tínhamos que fazer no território em que pagamos de acadêmicos, optou por uma costura não linear e como diriam os publicitários, disruptiva. Resultado: não entendi cáspita nenhuma do que propuseram no WhatsApp. Afinal, conto histórias, escrevo livros e dou aulas, ou seja, sou mega linear. Ao menos comparada com meus colegas de <a href="https://paisefilhos.uol.com.br/blogs-e-colunistas/se-eu-pudesse-eu-gritava/quando-a-escrita-falou-vote-tesi3casa3-avece5casa/">Tatiana Schunk</a>, que levou sua máquina de escrever para dividir seu trabalho de escuta e registro do que ouve, nas ruas e em centros culturais, para nos "grampear" e, ao fim da aula ler parte das nossas <a href="https://deolhonosruralistas.com.br/2019/06/19/ailton-krenak-a-mentira-e-a-manipulacao-colocam-a-vida-das-pessoas-integras-em-risco/">Ailton Krenak</a>, Ideias para Adiar o Fim do Mundo, passos em folhas secas, poesias, som de pássaros, pesquisa do Reich, som do metrô, entre outros barulhos e reflexões. Enviamos parte aos colegas de turma pelo zap (esta parte não consegui acompanhar, foi uma semana de perda de cachorro, mãe mal e chefes descompensadas bufando no meu cangote). Pedimos que levassem fones de ouvido e lá partilhamos os mesmos com duplas de estudo, escutando, dividindo celulares para esta atividade e caminhando ao lado do Parque da Luz, da estação histórica do mesmo bairro e na frente da Pinacoteca. Aquele bairro segue bonito, mesmo à noite, com muita gente circulando nele com pressa, desconectados do que rola ao redor, medo dos bêbados ou dúvida se é ou não perigoso que os mendigos e usuários nos abordem, em conversas que custamos a entender (a propósito: não, não é: já estudei, agitei voluntariado e curti programas culturais com amigos e familiares por lá, durante <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKLc3WGCOwCv3BaybMhABHL7dsTV8a0lD-Chms66eouE7PkXryoumGYPwl8QiTH5IOE1wtY99upXZlJbVBKd-pmlt3nvQ_CpNTB8N_zPEmS795UVy_wmBTplD94U58BtRTcRUC7CkUV4BC/s1600/Ze+Niguem10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="547" data-original-width="960" height="182" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKLc3WGCOwCv3BaybMhABHL7dsTV8a0lD-Chms66eouE7PkXryoumGYPwl8QiTH5IOE1wtY99upXZlJbVBKd-pmlt3nvQ_CpNTB8N_zPEmS795UVy_wmBTplD94U58BtRTcRUC7CkUV4BC/s320/Ze+Niguem10.jpg" width="320" /></a></div>
metade da minha vida e devo ter sido mais assaltada em bairros paulistanos de classe média e alta). Andar no ritmo do companheiro de performance, pros fones não desconectarem da gravação, perceber as conexões entre a trilha sonora da cidade e a beleza da estação antiga de trem, do pouco som urbano da natureza e as árvores nos cobrindo quando sentamos e deitamos nas calçadas, além de receber olhares de estranheza dos pedestres foi insólito e permitiu inesperados vínculos com amigos de curso (como era de se esperar, atrapalhei meu parceiro de jornada e me enrolei, derrubei fone, o fiz parar, me ajudar a usar o mesmo de novo, enfim, como diz meu amigo, fui total digna do apelido agente do caos). Ao voltar, conferir as demais performances em som, vídeos, música e poesias dos demais pesquisadores performers da nossa turma me tocou, gerou discussões curiosas e cliques bem vindos. Aos 45 minutos do 2o tempo, a professora e amiga Maria Ribeiro colocou um áudio da Marilia Librandi, que voltou aos Estados Unidos, onde dá aula e era sobre a palestra Escrever com o Ouvido, que a mestra atuante nos EUA deu na PUC, mas não pude conferir. Ouvi-la deu a sensação de que estávamos muito próximos... Por fim, fazer o percurso dilatado de retorno do transporte público com os amigos, com quem compartilho a atuação educativa e conexão espiritual, rumo à periferia no trem, rendeu partilhas e - porque não? - construção compartilhada de conhecimento. Me senti em casa ao retornar pra esses estudos, mesmo após pouco mais de uma semana da partida do meu cachorrinho Bidu, que dividia com meus pais. Em duas semanas tem mais! Pensando bem, melhor nem gerar muita expectativa, pra não fomentar a ansiedade em mim desde já.<br />
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conclusões e devaneios. Senti saudades do meu avô escrevendo na sua máquina, menos colorida que a dela, na máquina de café do norte do Paraná, na qual trabalhava e de onde fazia seus livros artesanais e caseiros, além de pesquisar e atualizar uma de suas maiores paixões: nossa árvore genealógica. Fiquei feliz do meu pai não ter deixado eu vender minha máquina há anos, quando o site dos coleguinhas jornalistas Comunique-se quis fazer um museu da comunicação (será que essa ideia saiu do papel?). Bom, voltando à vaca fria - eu e meus colegas de trabalho fizemos uma colagem em áudio de várias gravações que remetiam às nossas escutas e "escritas sonoras" da cidade: trechos de livro do <br />
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trabalho, porque também estou coalhada de amigos que classificam meus textos como fluxo de pensamento. Sabem de nada, inocentes! Quem produz esse tipo de texto lindamente é a educadora e artista Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-78071110706025976602019-09-16T07:01:00.002-07:002019-09-16T07:01:55.112-07:00Mergulhando no teatro pela revolução<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_M3n9OhpAFt_dLG6AWLeLmLHBTP0nXzcPQPsIHOdv2Pfcv44CuDKJ0VjsleeE7ZjdJFbmKIsArBmTocCEIVL1k4gdjpqzsZJKB7-SQ0omaDxDkQhgjE-m2pUynH_ehNkaNRwnCIHj0oh-/s1600/pos+to+comeco.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_M3n9OhpAFt_dLG6AWLeLmLHBTP0nXzcPQPsIHOdv2Pfcv44CuDKJ0VjsleeE7ZjdJFbmKIsArBmTocCEIVL1k4gdjpqzsZJKB7-SQ0omaDxDkQhgjE-m2pUynH_ehNkaNRwnCIHj0oh-/s320/pos+to+comeco.jpeg" width="320" /></a></div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdc8KQ1SIb08Wwe_Wuo55MoldrrNn51qD8PAMHrWUSfwRAR4FbO5Fe-gz2D-8CtgY_mY6osHX8OohG9DL9g2SM5Nr3DVs1tceyoXmJvUlO3TDnqUd8sYxV3cmAIVRV9J1q4-VR5sZxt3U4/s1600/TO+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; display: inline !important; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="405" data-original-width="720" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdc8KQ1SIb08Wwe_Wuo55MoldrrNn51qD8PAMHrWUSfwRAR4FbO5Fe-gz2D-8CtgY_mY6osHX8OohG9DL9g2SM5Nr3DVs1tceyoXmJvUlO3TDnqUd8sYxV3cmAIVRV9J1q4-VR5sZxt3U4/s320/TO+3.jpg" width="320" /></a>O teatro do oprimido (TO) é um amor antigo. Chegou na minha vida em oficinas livres, que ia com amiga numas ocupações do centro histórico, ainda quando dava aula de biblioteca em colégio particular católico. Fiz ainda vivência com o filho do criador do método no Sesc Pompeia, numa entressafra profissional rica em que estudei tanto que até distraí da neura de voltar ao batente. Anos depois, já na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Santo André participei duma formação maior, que começou no Parque Escola, migrou pro Centro de Formação de Professores Clarice Linspector e terminou num centro comunitário bem contramão, na periferia do ABC. O formador da última foi o mesmo da minha iniciação ao TO, anos antes. Como diria uma amiga <i>jornalêra</i>, o mundo é mesmo muito redondo! De lá para cá estive em dois encontros anuais da <a href="https://www.facebook.com/tosemfronteiras/">Rede Sem Fronteiras de Teatro do Oprimido</a>, vivenciando mais os teatro jornal, das oprimidas e em saúde e vendo produções dos amigos cênicos, em Campinas (SP) e na Bahia. Na primeira região ainda voltei e encarei o <a href="https://cartacampinas.com.br/2018/11/oficina-laboratorio-madalena-baseada-no-teatro-do-oprimido-abre-inscricoes/">Laboratório Madalena</a> do teatro das oprimidas, que também me pareceu incrível para reverberar entre as alunas, muitas vezes vítimas do machismo, que não as permitiu estudar na fase em que abandonaram a escola. Até finalmente chegar à pós em TO e psicologia social que faço com o <a href="https://gtodagaroa.wordpress.com/">Coletivo Garoa</a> no <a href="https://www.projetoquixote.org.br/">Projeto Quixote</a>, há um mês e meio (as postagens sempre atrasam em meio ao caos de aulas, auto cuidado, estudos, frelas, cuidados com família e projetos). No começo caí meio de pára quedas, cruzando a cidade depois de finalizar uma formação que dei em contação de histórias e pegando o "bonde teatral" andando. Mas apesar de termos toda uma metodologia de manhãs teóricas, tardes práticas, com leituras, discussões e outras "cabeçudices", o grupo não deixa de ser muito humano, afinal, é estudo artístico também. Sempre querem saber como chegamos, o que acaba aliviando um pouco a aridez da área acadêmica. Tenho lido mais os textos e livros do criador do TO, o teatrólogo <a href="http://augustoboal.com.br/vida-e-obra/">Augusto Boal</a>, depois de praticar mais (afinal escutamos tanto que teatro se aprende fazendo que botamos isso em curso na vida sem tantos questionamentos). Sempre rende descobertas - se não na pesquisa nas trocas entre tantos estudiosos e praticantes de TO, durante nossos encontros. Nós<br />
comprovamos o quanto a diversidade é enriquecedora e devia ser fomentada sempre. Os valores são populares pra educação formal. Afinal os interessados não vem de áreas reconhecidas e bem pagas: educação, assistência social, artes, saúde pública, da educação informal, terceiro setor, terapias diversas... E nos improvisos e jogos sinto que partilhamos um espaço de potência. Realmente é ensaiar a revolução, Boal tinha razão. Fora que é muito catártico aprender se divertindo. E tem toda uma construção partilhada do conhecimento cênico (que tenho tentado estudar em paralelo no programa Diversitas da FFLCH/ USP no Teatro de Conteiner). Não, não me chame de doida acadêmica. O sistema capetalista nos força a ser hiperativas. Mas uma coisa que achei até antropológico foi proporem que a gente faça almoços coletivos desde o começo. Além de ninguém resistir, comermos juntos abre <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxXQvbnVFQFNlwZdhFy72oI041KThF7ZX-QNMeReqljQGZc0S2iMh7Qxs-d8D9m1e1o4q9PZ72HAN6C1gHCp3NMdtLFfm4xMR4N8fmlMyPMgeb8IuXx4JRoA4Q_E7HwSnG4ciCQDYW9bUn/s1600/TO.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="479" data-original-width="720" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxXQvbnVFQFNlwZdhFy72oI041KThF7ZX-QNMeReqljQGZc0S2iMh7Qxs-d8D9m1e1o4q9PZ72HAN6C1gHCp3NMdtLFfm4xMR4N8fmlMyPMgeb8IuXx4JRoA4Q_E7HwSnG4ciCQDYW9bUn/s320/TO.jpg" width="320" /></a></div>
caminho para muitas conversas significativas e entrosa o grupo como mais nada faz. Passa pouco tempo e nos sentimos num coletivo! Já estou a fim de criar, ensaiar e fazer teatros do oprimido com o pessoal em tudo que é espaço que esteja precisando. Às sextas, nas vésperas, sempre que volto cansada do trabalho e lembro que de quinze em quinze dias reencontro meus "parças teatrais", sinto um misto de cansaço com empolgação, porém esta segunda emoção é sempre mais ativa nesses momentos. Que venham mais discussões, mas que multipliquemos e nos transformemos pelo TO muito mais, em vários tempos e espaços.<br />
Obs.: foi tentada uma diagramação mais amigável, mas o Blogger não colabora. As imagens na ordem em que aparecem no texto foram produzidas: na pós que conto no post, no Laboratório Madaelna em Campinas, no encontro de TO em Itinga, Salvador, na vivência de TO do Sesc Pompeia (anos depois uma das participantes se reconheceu nesta foto... Nos conhecemos nos encontros da rede), na pós e no espaço do projeto Quixote.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoq8DKGQYDmmg57hr8m58REiG1gShucVbqxONP44gqUnNxfG2fWhRd9H_A6B0X4uJxQIMQLmzWPGQfitLD0PiK7ARh5TxMRvWWQvfqvpgvXffY-NXXMt1lWL6hmY69cO6LU18qmYD_biqe/s1600/DSCF2880.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoq8DKGQYDmmg57hr8m58REiG1gShucVbqxONP44gqUnNxfG2fWhRd9H_A6B0X4uJxQIMQLmzWPGQfitLD0PiK7ARh5TxMRvWWQvfqvpgvXffY-NXXMt1lWL6hmY69cO6LU18qmYD_biqe/s320/DSCF2880.JPG" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfgOq5Vy8gysJnVvDVdLj-va1MrtvvyaR9l0KhUJMS67YjRGvGvEQwpPxozYsL_Flz_Z3_QlQ3aFgjJw4wcBg7Ucr7-96Yon3pK0GvBaQR4uaXAHCGFUDnmXYzqmkJop-XZ7wZ4BlxDiez/s1600/almoco2.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfgOq5Vy8gysJnVvDVdLj-va1MrtvvyaR9l0KhUJMS67YjRGvGvEQwpPxozYsL_Flz_Z3_QlQ3aFgjJw4wcBg7Ucr7-96Yon3pK0GvBaQR4uaXAHCGFUDnmXYzqmkJop-XZ7wZ4BlxDiez/s320/almoco2.jpeg" width="320" /></a></div>
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<br />Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-32358624240358178392019-09-09T09:00:00.001-07:002019-09-09T09:00:23.462-07:00Quando a periferia saúda a quebrada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2P4EnFnUFIAfbiNgX9nDvz6En9YJpVFBtKj-6p5gKXz7FTY4XDvnCAQiXe_73mRQQH6u1mmYzb7RVlOL7BnlvDIRh4mqWWKSM4HKWfF83ctCGO_YFiLpWPbpZuv9Dg8_NgcLfcn6qQHMJ/s1600/Casaecoativa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="408" data-original-width="306" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2P4EnFnUFIAfbiNgX9nDvz6En9YJpVFBtKj-6p5gKXz7FTY4XDvnCAQiXe_73mRQQH6u1mmYzb7RVlOL7BnlvDIRh4mqWWKSM4HKWfF83ctCGO_YFiLpWPbpZuv9Dg8_NgcLfcn6qQHMJ/s320/Casaecoativa.jpg" width="240" /></a></div>
Então São Paulo tem uma ilha. Soube pelas redes sociais, através de colegas. Ainda por cima tinha amiga do Teatro do Oprimido (TO) lá. Como uma sagitariana aventureira e fã de viagem feito eu ainda não tinha descoberto e conhecido essa paisagem fluvial urbana? Há meses tentava matar essa curiosidade. Mas pra não perder o costume urbano temos dificuldade em reduzir a carga das agendas malucas na metrópole e para conciliar agendas de visitantes e moradores da <a href="https://vivejar.com.br/pt/roteiro/sao-paulo-alternativa-grajau-e-ilha-do-borore-2/">Ilha do Bororé</a>. Neste feriado finalmente consegui entrar no tempo dilatado interiorano da periferia. Aqui na boca do <a href="https://www.unas.org.br/heliopolis">Heliópolis</a> também temos essa pegada caipira com o tempo. Mas como levamos três horas e pouco para chegar, tivemos que entrar não só no tempo da viagem improvisada, tudo na contramão do esperado, mas especialmente embarcar no humor de viagem, com o qual perdemos a primeira balsa para Ilha e seguimos animados porque afinal, já estávamos à beira da represa e a quebra no visual urbano cinza, super populoso e concretado já dá um alívio na gente. Como toda travessia de periferia à periferia essa também não foi isenta de percalços: um trecho do trem da Marginal estava parado, discutiam no vagão que era para construção do metrô, um senhor duvidada que levariam para a periferia, já que o projeto previa chegar ao Paraisópolis. Meu companheiro lembrou do Crioulo cantando <a href="https://www.youtube.com/watch?v=ODa9Yvm-0io">Grajauex no trecho final do trem da Marginal</a>. Usei como trilha de parte deste post. Deu uma cansada? Mas o tempo das travessias em São Paulo é este: dá pra resgatar memórias, prosear com estranhos, comer marmita ou bobajitos de camelô, arriscar um cochilo e botar reparo nas mudanças de paisagem. Sempre cismei que o mundo acabava depois do Hotel Transamérica, onde cobri muito evento, mas ufa! Nunca fui terraplanista.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW3eSZQuA0HD1zGOPNdUIw3TyAcMievODizWS10kJcHKBBeFquRpvdGCmJSoznG3Jk0Qs-J9gNlk-kXG8i8JeKfilPa-xh_WjyEmrC5bxWiDEFXpTNVdEAoXw3S4Ct6Tr3ZDVVmwrpFw5m/s1600/casaecoativa19.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="595" data-original-width="1061" height="179" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhW3eSZQuA0HD1zGOPNdUIw3TyAcMievODizWS10kJcHKBBeFquRpvdGCmJSoznG3Jk0Qs-J9gNlk-kXG8i8JeKfilPa-xh_WjyEmrC5bxWiDEFXpTNVdEAoXw3S4Ct6Tr3ZDVVmwrpFw5m/s320/casaecoativa19.jpeg" width="320" /></a></div>
Perto do ABC também sempre prometem metrô e nunca vem, talvez nossos netos se beneficiem dessa <i>pseudo expansão</i>, quem sabe? Por uma intervenção dos orixás ou Budas. Tivemos que pegar o ônibus da Paese pra finalizar o trecho com circulação interrompida. Passamos por todos bairro da zona sul metida à besta em que passei muitos assédio moral, constrangimento emocional e vários <a href="https://desciclopedia.org/wiki/Passaralho">passaralhos</a> da comunicação. Bem menos pesado só visitar do que trabalhar no Morumbi, Vila Olímpia, Brooklin e Itaim Bibi. Cruzei a frente do jornal em que fiz minha primeira <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvH_7OqBnLux4C9W0nHCCjeOlI-6TwlkPHHYxoegeNGKlaQM6-SyXpxjVmBJJ32oXuDpOD8ICyy0U6SajaRL5XwG8rniXqfr7j3eL21pot4pZ_KzW1n17UpqZYc61mnwq8GtwFav17tESv/s1600/represa2.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvH_7OqBnLux4C9W0nHCCjeOlI-6TwlkPHHYxoegeNGKlaQM6-SyXpxjVmBJJ32oXuDpOD8ICyy0U6SajaRL5XwG8rniXqfr7j3eL21pot4pZ_KzW1n17UpqZYc61mnwq8GtwFav17tESv/s320/represa2.jpeg" width="320" /></a></div>
greve: a "Casseta Mercantil". Mais um pedacinho de trem e último ônibus pra Ilha. As ruas foram se estreitando: devíamos estar chegando!<br />
Quando finalizamos a estrada na extrema zona sul e pegamos a balsa, bem que tentei lembrar onde viajei numa igual, mas não consegui. Acho que já estava relaxando. Nisso já estava no modo "criança feliz caipira do asfalto", adorando tudo que é mato, água, barco e ave! Seguimos a pé e foi bem fácil achar a Casa <a href="https://www.facebook.com/casaecoativa/">Ecoativa</a>. O companheiro da minha amiga nos recebeu super solícito. Imaginei que devíamos estar com caras de perdidos, ele era simpático ou todas alternativas anteriores (no fim do finde vimos que o casal é gente boa, mas lembre-se ainda era começo da tarde do início do finde). Ele recebia um grupo de geógrafos (quis chamar todos que conheço no ABC... Realmente não recebemos pra ter ideias de trabalho o tempo todo e preciso dar cabo dessa neura de trabalho e estudo). Visitamos e soubemos a história dos grafites da rua, para os quais sempre promovem visitas de crianças e professores. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI-SsOL0x1MsNNq5U_qkorJodFiaow50PEQNNTykpPZoLzO0IPh4FqGZ9L_vY2ySs3EePIwd7ikihF4AbBuiIeTcXSAHiSKNko_HDg5XXZN33HE0jtzlwJIh3PdEE1CiRPBfXULg0on_y5/s1600/represa6.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="1280" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI-SsOL0x1MsNNq5U_qkorJodFiaow50PEQNNTykpPZoLzO0IPh4FqGZ9L_vY2ySs3EePIwd7ikihF4AbBuiIeTcXSAHiSKNko_HDg5XXZN33HE0jtzlwJIh3PdEE1CiRPBfXULg0on_y5/s320/represa6.jpeg" width="320" /></a></div>
Aquela máxima de sempre da Internet: foi tão interessante que não fiz fotos. E olha que sou fã do grafite! Mas fiquei bem impactada quando vimos um desenho dos portugueses invadindo o país num dos murais e lembraram que o genocídio continua em andamento. Durma com esse barulho! Depois demos uma pausa na capelinha histórica: há uma imagem de santo bugre nela, mas não deu pra clicar, talvez porque preparassem o casório da noite. E na frente um boteco de 1800 e guaraná com rolha, tinha a construção meio amadeirada que encontrei a infância toda no norte do Paraná. E depois de horas em trânsito, bebemos as mesmas bebidas com Cambuci com as quais já nos embebedamos em Paranapiacaba. Se bobear deve ser a mesma vegetação ou clima pé de serra de lá.<br />
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Voltamos pra comer na Ecoativa e adivinhe? Um rango natureba de comer ajoelhado e gemendo. Quem fez foi o pessoal da <a href="http://acolhendosp.com.br/centrosculturais/amara-empreendimento-economico-e-solidario/">Amara</a><span id="goog_408369868"> Empreendimento </span><span id="goog_408369869"></span>Econômico e Solidário: daí que conversando já percebemos que conhecemos a equipe do <a href="http://www.ibeac.org.br/">Ibeac</a>, que faz iniciativas literárias incríveis em Parelheiros e nossa <a href="https://www.facebook.com/fabiana.tancredisantosbendas">amiga</a> bambambã das marmitas. Esse mundo é mesmo muito redondo!<br />
Meus amigos quiseram voltar e apresentar a casinha deles. Gozado que fui nessa ansiedade paulistana querendo visitar tudo que é água e cachoeira, mas roupa de banho que é bom deixei pra trás, justo no finde em que o sol resolveu reaparecer, só que lá... Entrei nesse tempo dilatado e ficamos conversando sem pressa. Minha amiga nos levou no mirante. Achei comédia que quando o calor volte o paulistano transfira som alto e trânsito pra região rural da capital. <br />
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Mas parece que o sonzão está sempre pelo Bororé, assim como é trilha sonora pra dormir aqui no Helipa. Achei que o verde das águas lembrava o dos lagos do Ibirapuera e da Aclimação. Serão todos por alga conforme me explicaram lá no centro?<br />
Resolvemos dar uma volta à noite. Como uma das saídas estava com um filão, demos a volta e descobri que é uma penísula, não uma ilha, porque fomos à zona sul atravessando plantações e chácaras de eventos, sem balsa. Depois o marido dela teve que desenhar porque península, <br />
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ilha vomitei tudo nas velhas provas de geografia e o tico e teco não recordavam mais a diferença. Quem sabe se fizéssemos um estudo de meio como promovem lá hoje em dia?<br />
Com ou sem estudo de meio, perguntei à exaustão dos projetos, do histórico, da região para os amigos (saio do jornalismo, mas ele não sai de mim): tem iniciativas locais de <a href="https://www.permasampa.com/single-post/2018/01/18/VEM-pra-Ilha-do-Boror%C3%A9-por-Claudia-Visoni">permacultura</a> que dialogam com os produtores simples regionais, articulações com <a href="https://vivejar.com.br/pt/nossas-viagens/sao-paulo-sp/">organizações e projetos vizinhos</a> que geraram tecnologias sociais reconhecidas e visitadas, <a href="https://vivejar.com.br/pt/polo-de-ecoturismo-de-parelheiros/">turismo</a> ecológico e de base comunitária, exposições super engajadas pela Ecoativa, além do Grajaú ter até cerveja artesanal! Tive vontade de fazer as pontes que vi nascer entre as quebradas com as quais trabalhei na formação que dei no Galpão de Cultura e Cidadania, mas desta vez entre o <a href="https://www.cartacapital.com.br/cultura/heliopolis-se-torna-referencia-nacional-em-efervescencia-cultural/">Heliópolis</a> e extrema zona sul, porque quando as "perifas" se articularem, ninguém mais nos segura!Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5306292208095447425.post-52655952833604361072019-08-30T14:31:00.000-07:002019-08-30T14:32:06.857-07:00Atravessamentos do território centro-periférico em meu corpo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicexzNCe4O13YGDwpJdqh12fK4t0FIdwoliHyNloFsDCIdvafB0dYygArIKj_-y9eqKLccsv4tsx7Ya-00RCjDtAFUQIjXv-j7fFyNgy4ajNdcw5dh5dClM3eWZ4b4XiAIjilTmE_ZtJwe/s1600/Bairro+da+Luz+01.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="483" data-original-width="706" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicexzNCe4O13YGDwpJdqh12fK4t0FIdwoliHyNloFsDCIdvafB0dYygArIKj_-y9eqKLccsv4tsx7Ya-00RCjDtAFUQIjXv-j7fFyNgy4ajNdcw5dh5dClM3eWZ4b4XiAIjilTmE_ZtJwe/s320/Bairro+da+Luz+01.jpg" width="320" /></a></div>
Estudar na Luz me faz revisitar medos e encantamentos que a região provoca em mim, muito antes de começar estudar performance pelo programa <a href="http://diversitas.fflch.usp.br/diversitas">Diversitas</a> da FFLCH/ USP nos teatros do <a href="http://www.pessoaldofaroeste.com.br/#content">Faroeste</a> e <a href="https://www.ciamungunza.com.br/teatro-de-conteiner-mungunza">Contêiner</a>. Retornar ao bairro com mais frequência me trouxe de volta à casa em que mais me sinto à vontade: o teatro. Ao mesmo tempo chegar até ele, depois de dias compridos me desvencilhando de trabalhos e fazendo auto-cuidado, faz com que olhe no rosto deste sentimento indesejável: o medo. Há pouco tempo cismava que o receio de andar sozinha no local vinha da comunicação e cultura de massa sempre divulgando a percepção de perigo e abandono no entorno da estação histórica da Luz. Nesta semana, ia para o estudo semanal no espaço da Cia Mugunzá, pondo reparo num morador ou visitante próximo que cantava, ria e parava para dançar. Fiquei um pouco alerta com a impressão de que podia ser imprevisível. Até que ele me olha e quer saber:<br />
- Você está bem?<br />
- Sim, só cansada.<br />
- Vai dar tudo certo! Você é guerreira!<br />
Em pouco tempo me lembrei de onde surgiu meu incômodo de andar por ali sozinha: uma vez fui numa oficina no <a href="https://www.sescsp.org.br/unidades/72_BOM+RETIRO/">Sesc Bom Retiro</a>, os funcionários do metro deram muitas recomendações e explicações pra não cair em algumas ruas, pois alertavam ser perigoso. Era cedo ainda, mas acho que terminei atravessando a região que temiam que passasse. As pessoas pareciam estar num pós ressaca, pareciam distantes e ao mesmo tempo não estavam à vontade com pessoas de fora rondando a quebrada tão familiar para eles. A sensação era de um mal estar, compaixão, pressa, preocupação e impressão de que as ruas ficavam mais compridas e entrávamos num "tempo fora do tempo", pois o relógio dava mostras de dilatar a passagem dos minutos. Nada me aconteceu, porém tive o mal estar do estado dos moradores confirmar a má impressão provocada por matérias e trecho de novela retratando o local pesadamente.<br />
Mesmo em meio a tantas questões social, de saúde pública e econômica disputando a narrativa das causas dos problemas locais, me atraio pelo Parque da Luz: uma vez fui observar as prostitutas para uma peça em que o diretor nos cobrava que lembrássemos elas, porém se não fosse um colega alertar para movimentação delas e de seus clientes, passaria batido e não as encontraria.<br />
Já me perdi indo estudar na rua do Triunfo, entrei nela no começo e também tive a impressão assustadiça de cruzar trechos em que as pessoas têm abstinência, medo da repressão, ansiedade, trauma do que já sofreram e angústia da falta de apoio, suporte, tratamento e alternativas que passam. De novo, nada me ocorreu e tudo se resume a uma má impressão da situação dos que vivem ou circulam ali. O perigo parece meio fictício.<br />
Tenho memórias especiais com a Pinacoteca, suas palestras engajadas, as paredes retrô, o cafezinho adorável, os túneis, corredores e elevadores que nos confundem e o educativo que volta e meia me abastece de materiais de trabalho.<br />
Relembro uma peça de rua conferida com um amigo, já a caminho da rua Helvétia, em que tivemos a impressão de que os moradores estavam incomodados com a atuação dos atores e mais cedo ou mais tarde ambos se estranhariam. Me encantei com o aspecto histórico da estação Julio Prestes e também dilatei o tempo conversando com este colega, outro artista.<br />
Resgatando caminhadas pelo território feitas com o pessoal que estuda comigo, com o professor que estuda vizinhança e nos situou de algumas questões do entorno, foi um alvoroço de lembranças passar pelo Bom Retiro, onde já comprei roupa numa loja que trabalhava com mulheres e jovens carentes, aproveitei oferta com minha mãe, aprendi a conferir se a roupa servia sem prová-la e que era melhor comprar nas travessas.<br />
Na aula que tivemos com os Guarani na <a href="https://casadopovo.org.br/">Casa do Povo</a> lembrei das peças vistas e perdidas com amigos na <a href="http://www.oficinasculturais.org.br/oswald-de-andrade">Oficina Cultural Oswald de Andrade</a> (além de cair de amores pelo canto e ficar preocupada com os ataques que os indígenas sofrem), de ter estudado sobre universo griô para o ator lá, comido e bebido na rua em que os artistas mais circulam e ido ao médico ao fim da rua Três Rios.<br />
Os debates sociais, culturais, educativos e artísticos que temos tido com professores e colegas desde o começo do ano têm me deixado à flor da pele. Semestre passado, voltando duma consulta, já noutro bairro, porém falando com os amigos de apresentação performática, vi uma moça chorar e eu, que sou como minha tia e não podemos deixar chorões sem uma palavra de apoio, fui conferir se podia ajudá-la, a assustei sem querer, soube que tinha perdido um amigo gay que se suicidou, conversamos e terminei oferecendo só um abraço, que não dá pra consolar muito mais que isso nessas horas. Era dia de à noite voltar à Luz e nestas ocasiões estes choques me afetam mais.<br />
Costurando minhas lembranças e medos com relação ao bairro em que tenho estudado, mas já fui conhecer projeto sócio-educativo em que um amiga da faculdade era voluntária, pondero que apesar da má fama local, já passei mais sufoco fora dali, portanto não parece haver razão de ser esse receio meio instintivo que me assalta quando chego muito em cima da hora pra a aula.<br />
Até nós jornalistas podemos ser suscetíveis ao discurso sensacionalista da imprensa.Franzoca Brandãohttp://www.blogger.com/profile/07636962738387203744noreply@blogger.com0