sexta-feira, 7 de junho de 2019

Quando a academia me arrebatou

Nunca pensei que encarar um academiquês pudesse me provocar alumbramento. Explico: venho do jornalismo, área em que tanto faz como tanto fez onde, quando e quanto estudamos - ganharemos o mesmo valor espartano de sempre. Daí que estudava bem mercenariamente: só fazia cursos livres ou técnicos. Nenhum faria cócegas no salário.
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Não que ache que o estudo têm que impactar o bolso. Mesmo sem retorno na comunicação, ainda assim estudava. Mesmo hoje em dia na educação, na qual diplomas rendem, estudo o que amo. É resistência, auto conhecimento e cura também. Mas precisando fazer vários frelas, plantões.. Estudava o que cabia na agenda infernal. Daí que o jornalismo me deprimiu. Lembra que estudo o que gosto? Já tinha quase 20 anos estudando teatro, literatura e contação de histórias. Tentei ser atriz, mas o machismo nos castings também me cutucou a gastrite. Foi quando o jornalismo analógico que estudei morreu (que Deus o tenha). E como a vida é muito fanfarrona avirei professora. E como uma nos cobram, esperam e estimulam que estudemos pacas. Graças à imersão em pedagogia griô que encarei nas últimas férias conheci - que ironico - outra jornalêra que me incentivou a concorrer como aluna especial do Diversitas. E cá estou eu finalizando performance no Teatro do Faroeste da Luz, por este programa que hackeou professores da USP pro centro periférico. Foram tantos aprendizados até chegar ao ponto de que o conhecimento se torna perturbador. Mas é pinga né?
Você começa, se empolga, dói, mas não retrocede. Entendimentos da conexão entre trote e facismo que renderam áudios enormes dando aulas nao solicitadas via zap as amigas e primas. Virei a evangélica de humanas: você tem um minutinho pra escutar a palavra sobre diversidade, conflitos e intolerância? É o que estudamos lá. Às vezes vamos estudar na rua mesmo: como na última manifestação contra os cortes na educação, na caminhada pela Luz e na visita cantando Maria, Maria na casa de acolhida às trans Florescer. Sim, é humano demais - bem acima do esperado para estudos como estes. Assistimos performances, fizemos, incomodamos e fomos incomodados pela realidade, olhares inesperados e experiências partilhadas. Revisitei Walter Benjamin: over and over again, desde o jornalismo e especialização na arte de contar histórias. Senti saudade das apresentações de cultura popular, acolhida e cerrado da terra de Guimarães Rosa quando vimos aula, vídeos e músicas sobre as congadas mineiras. Dançamos samba de roda - e não soubemos o que fazer com o machismo na letra que se instaurou entre nós. Revi outro amigo jornalêro (sim, estamos por toda parte, nao importa o que e a tecnologia fez da nossa formação) e com ele matei saudades de dançar cacuriá, ritmo conhecido como oficineira no programa Piá. A sensação que dá é a de que semanalmente empurram janelas internas que não sabia emperradas e amploam, ampliam meus horizontes. Semestre que vem tem mais. E eu encaro porque - descobri - tenho um vício tolerado socialmente: estudar. Nesta semana soubemos que faremos um artigo. Perco o sono indecisa entre temas passional mente empolgantes pruma pesquisa. Mas não largo o osso!