quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

A dor que nos oprime é a mesma que nos aproxima

"Onde abre a ferida é pela mesma brecha em que entrará a luz". É uma frase que meus amigos "badauês" - massagistas, yogues, tântricos, espiritualistas, reikianos, terapeutas alternativos - sempre trazem à tona quando estamos mal. Costumo responder a eles que é fácil abraçar esse olhar quando se trata dum "sofrimento gourmet classe 'mérdia'", porque trabalho no chão de escola, com sofrimento raiz, onde jamais consolaria alguém assim. E não é que este ano me fez pagar a língua e concordar com eles? Foi tanto retrocesso político, assédio, doença em família, constrangimento, golpes nos vizinhos latinos, desentendimento com os que amo, autoritarismo... Que por fim, tudo que nos restou foi se ajeitar melhor pra luz entrar na ferida. E em tempos sombrios quem colaborou pra isso foram os colegas que viraram amigos de profissão...
(pausa para um parênteses de contextualização... Venho de quase duas décadas de precarização da comunicação, o que também tornou as relações entre elas fugazes e sem possibilidade de verticalização. Éramos vítimas de tantos "passaralhos", as famigeradas demissões em massa que também agíamos como se os trabalhos fossem tão descartáveis quanto nós. Um pouco dessa relação superficial impedia que fôssemos mais
que colegas. O lado perigosamente sedutor do quanto nos bajulam no jornalismo tende a fazer com que muitos na área abracem a arrogância que encontramos na maioria dos ambientes de trabalho. Por fim, as trocas entre companheiros de profissão esgarçam tanto quanto nossos direitos e a serventia zero dos "jabás" - os agrados estratégicos - que ganhamos em coletivas de imprensa)
Pois é: venho duma área em que a esmagadora maioria dos meus antigos colegas não me visita em casa, afinal moro numa quebrada, os jornalêros ou são mais bem nascidos ou conseguiram surfar na comunicação antes da ruína da mesma e deram uma melhoradinha de vida. De qualquer modo essa turma não vai pra muito longe dos centros comerciais e de diversão. Não lembro de ter ganho uma carona de alguém que não quisesse me cantar. E na educação os amigos me trazerem lá das beronhas de Santo André pra onde vivo já me tocava o bastante, já que são travessias que envolvem cruzar uma terceira cidade entre elas. Mas este foi um ano de mais avanço neste sentido. Teve abraço em amiga chorando com injustiça, teve acolhida pra começo de pânico, escuta pra dores amorosas e familiares, pesar com sucateamento maior dos outros trabalhos de nossos companheiros, compartilhamento de dúvidas e perrengues familiares, aprendizado com a doideira alheia, indicação pra parceria profissional, palpitômetro pois é a 1a vez que faço aniversários num mesmo trabalho. Muito da ampliação da minha consciência social, educativa, de classe e política se deu com as trocas junto aos camaradas educativos. Sim, estou de férias, ouvindo vários pedidos pra que tire o capacete. Mas como este me pareceu um dos presentes mais descarados de 2019, achei que era o caso de postar e jogar pro universo este agradecimento. No caso, jogarei a gratidão também no zap. Só pra confirmar que nossos textões podem ser a ruína da formação de leitores... E voltar à malemolência natalina em 3, 2... Zzzzzz... Ronc!
bebedeira coletiva e em petit comitê, agrados inesperados, risadas desenfreadas e terapêuticas, união contra abuso de poder, indignação coletiva devido aos tempos sombrios, paralisação, andanças significativas, cagaço de bomba na manifestação e tantas outras coisas que não caberia neste post. Estes laços foram fomentados pelas dificuldades do ano, envolveram nossas subjetividades, mas também foram pra além de nossos universos particulares. Tanto que nunca antes na história desse país tive dó de mudar de bloco de escolas e começar tudo de novo ano que vem. Imagino que muito disso se deva a já dar aulas no ABC há cinco anos - sendo que na profissão anterior fiquei no máximo um ano e pouco num trabalho. Mas é só um