terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Rebordosa Eleitoral

 

Noivinha com cara de poucos amigos
entre os vizinhos, futuros bolsonaristas,
no pré, desconfiada que só uma
mãe de santo mudaria a política brasileira
Ainda arrasto correntes pela eleição aqui em meu semi isolamento. Ainda...! Devo ressaltar que essa rebordosa das urnas não se deve ao vira voto de véspera não ter sido o bastante. Há pelo menos dois anos buscamos alfabetizar politicamente os desavisados no chão de escola - e para isso nem preciso contar só com amigos educadores, os próprios estudantes já questionam os conservadores  de que a cidade retrocedeu na maior parte dos serviços que os impacta. Se considerar que artisticamente fazemos essa conscientização indireta - trabalhando Brecht e Augusto Boal, entre outros - lá se vão seis anos. Esse desabafo introdutório é para comprovar aos colegas esquerda caviar: militância emergencial de véspera não é o bastante. Nem nosso trabalho de formiguinha nos bastidores educativos é. Acrescento ainda que os amigos da saúde mental, ativismo sustentável, assistência social, militância feminista e criação artística engajada fazem parecido comigo: mediação criativa e conscientizadora para colaborar na leitura crítica e sensível do mundo. E ainda assim não damos conta. Precisamos que revezem conosco daqui até o próximo pleito, já que vários de nós têm adoecido, brochado, aposentado, entregue os pontos e operado no piloto automático.

Cada vez mais tenho compreendido e concordado com uma frase duma amiga de trabalho e criação que foi-se embora para o Nordeste: "nasci no Brasil, mas não mereço em morrer em São Paulo". Não por acaso eu e meu companheiro temos sonhado alto em fugir para Pernambuco. Parafraseando Crioulo "não há amor no Tucanistão". Nesse bode existencial de intolerância tucana, tenho tido delírios devido à insônia nos quais questiono o que os eleitores municipais tem contra nós se levamos material de casa para aulas mais criativas, brigamos pelos materiais sonegados para o quartinho de despejo da Educação de Jovens e Adultos, disputamos arduamente espaço na condução pública para carregar livros de arte e acessórios de cena, enfrentamos assédio para chegar à escola brincando e debatendo feminismo, reinventamos aulas para que percam o ranço dos professores conteudistas e tecnicistas que já tiveram... Porque a maioria reelege - ou se abstém - votando ou passando a responsa adiante para que siga no poder governos que concedem benefícios, compram votos, terminam obras na véspera da votação e ainda aprova maior desconto previdenciário dos servidores. Esses que tentam fazer algo pelo cidadão, mas com os serviços sucateados não tem sido muito simples. Porque essa medo e desconfiança de sair da gaiola política se a maioria reclama desde a última eleição que não está bom?

Não muda muio o panorama onde moro, a cidade mais rica do Brasil, que vota como mulher de malandro: a situação está ruim, mas não rompe o relacionamento abusivo porque não questiona mais as amarras invisíveis depois de tanta opressão imobilizadora. Antes o cassete do parceiro abusivo do que uma novidade que mal conseguem imaginar. É real aquela máxima: não me espanta, mas afeta. Entendo e concordo que o bom combate não é derrota, que a dupla Boulos e Erundina é gigante e que quando a política retrocede são anos ou décadas historicamente para avançarmos novamente rumo à justiça social, mas me animei sagitarianamente demais com a eleição de vereadores e alguns prefeitos representando a diversidade, tentei conter meu otimismo patológico sem sucesso; tenho sentido a prosa poética como uma utopia para a qual caminhamos, sem muita chance de atingir e bem, não sei vocês, mas queria Erunda de vice antes que ela vá militar no céu. #prontofalei Fora as bizarrices que encararemos no serviço público sem recurso ou agenda o bastante para todo auto cuidado que precisaremos, mas tá bem, chega de café da tarde com militância educativa por hoje.

Não, não estou em TPM, mas sim, tenho tido insônia e como Zeca Baleiro "ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar". Todo esse textão desabafo para concluir que a militância da esquerda precisa funcionar como uma corrida de revezamento: quando aqueles da linha de frente perderem o gás e precisarem recarregar as baterias, que os ativistas emergência pré eleição assumam o serviço pesado. Sim, o movimento #viravoto nos reacendeu uma esperança, poesa e diversão na campanha. Talvez as pessoas sensíveis com senso de justiça estejam numa sofrência maior agora. Podemos nos unir numa espécie de AA e se comprometer "só por hoje não acharei que o pobre de direita aceitará dividir seu pão com ovo".

Brincadeiras à parte estou há dias a fim de pedir aulas de como ser um sagitariano pé no chão para um sobrinho de 8 anos que há algumas votações disse que se fosse adulto, não votaria no Bolsoliro e tendo acompanhado a fundação do 1o partido socialista popular periférico anti capitalista percebeu meio precocemente "mas eles não deixariam nosso candidato ganhar". Vamos falar o que para essa turminha? Eles é que tem que ajudar transformar uns olhares por aí.

Agora com a licença de vocês, mas preciso por um sono rebelde em ordem...

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