quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Da posição de estudante corporal

Há dias comecei a por o pé no chão. Mas ainda não posso por peso. Ainda assim dá choque, doi e é estranho. Foi mais simples botar o metatarso quebrado pra cima do que baixá-lo de volta. E foram só 30 dias de molho! Mesmo assim é uma descoberta: um dia de bota, outro sem, só em casa, depois com uma muleta e em dias sem... Já consegui tomar banho sozinha, levar a gata pra sua nova fonte (e ela curtiu, ao contrário do que aconteceu com bichanos de outros amigos), empurrar louça e lixo duma ponta à outra da cozinha. São conquistazinhas às quais prestamos atenção: nunca deixamos de aprender. Se uma trincada na lateral do pé faz isso, imagine o quanto um processo maior não dá essa percepção, sei lá, quem reaprende a falar, sentar, comer, depois dum "susto advanced" como derrame?
Já estava com a impressão de que a mudança de planos toda tinha sido uma oficina de paciência, mas meio down na minha mãe por não ter conseguido melhorar muito nisso lá. Há dias de volta em casa, penso que fui uns passos adiantes. Dá uma centrada essa história de pisar leve, feito o andar caçador da Peteca.
Vi e li muito material online sobre educação, literatura, arte e maternidade ativa. Num deles, aprendi que não se dá o empoderamento a ninguém, a pessoa precisa escavocar lá nas entranhas de si mesmo atrás dele. Me parece que com a autonomia é o mesmo: discutimos muito isso em escolas, fazer os estudantes caminharem por sua conta e risco, mas é um cabo de guerra com as famílias: tentamos estimular autonomia e esses pais, "enlouquecidos de amor" (meus incluso), tomam ou tentam reavê-la. A superproteção nas entrelinhas diz ao outro que ele não consegue. Quantas vezes dá uma dó de dar corda nos sonhos dos alunos e ver ou saber que são desestimulados depois. É o que sempre brinco: ah, espera-se que a escola os ajude com finanças pessoais, dê cabo do machismo, homofobia, transfobia, racismo? Os mande para fazer camping nos colégios (e nós também) - é tempo de menos, desafios e conteúdos demais.
Um amigo educador me visitou, ele e minha mãe discutiam comigo que a gestão é menos estressante que a sala de aula. Sei que "cheguei anteontem" para palpitar, mas prefiro a sala por ainda ter onde e como criar. Os bastidores são castrados estrategicamente por uma burrocracia sufocante.
Sondei ainda aqui e ali como estudar oficialmente (é o que interessa ao "sistemão"). As mensalidades dão vontade de chorar: de 1/4 a 3/4 dos rendimentos comprometidos. De repente aquela história de que os professores não gostam de estudar me parece tão verídica quanto a meritocracia de igual oportunidades aos filhos das periferias e dos bairros favorecidos. Quem não gosta cara pálida?
Foi uma imersão informal, digamos assim. Talvez por isso nessa esticada inesperada para lá das férias mergulhei em tempos dilatados, estou assistindo bobagens e não dou conta de estudar material escancaradamente voltado ao que faço. Ah, essa teimosia das que se viciaram nas mais de 1000 horas de cursos livres. Farei um papel de parede com eles, já que não tem lá grande serventia para além da minha formação pessoal.#SQN

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