quinta-feira, 12 de maio de 2016

Do Diário de Bordo que Me Devo Desde a Faculdade de Teatro

Quando assumi que desde que me meti nas coxias não consegui meu coração de volta, um de meus diretores ensinou o Diário de Bordo. Tentei fazê-lo algumas vezes, mas alguma crise com o personagem, um pé dentro e outro fora do jornalismo ou deprê me impediram de continuar. Resolvi retomar virtualmente a empreitada pois dou aulas três vezes por semana e abençoadamente faço a formação em teatro do oprimido da prefeitura, a pós em contação de histórias da Facon pela Casa Tombada e farei
extensão das dinâmicas para orientação profissional ao jovem do programa Tô No Rumo da Ação Educativa pela Federal do ABC. A pós vive nos fazendo voltar para casa procurando um "chão literário pra chamar de nosso", mas sempre sabendo que quando encontramos, não funciona com todos os públicos e em todos os espaços - já que criação é sempre essa matéria prima fugaz e inebriante. Na formação em TO reencontrei o professor que tentei estudar anos atrás na ocupação do centro antigo de São Paulo, mas o cansaço de trabalhar a 4 horas de casa, dez horas por dia ma biblioteca do Colégio Santa Maria
acabava me fazendo voltar pra exausta e dormir quase sempre acabada. "Agora não Pantaleão", parafraseando um personagem de Commedia Dell Arte. Tem me feito tão beeeeem! Nesta semana no exercício de criarmos uma viagem com sons e movimentando o parceiro na dupla de olhos fechados, levei o colega pruma floresta, mas confirmei que se não enxergar o que imagino, meu colega também não voa longe (nesta altura do campeonato é até difícil resgatar se a "contação" ou o próprio teatro me trouxe
isso). Fazendo com o corpo o que realizávamos naquela hora do dia em que os professores sugeriam não aguentei quando um colega foi mostrando que não faz muito trabalho doméstico (nossas expressões corporais nos levaram pruma discussão de gênero):
- Com quem você mora?! - estranhei (ah, a feminista que carrego pra cima e pra baixo não se resigna a passar desapercebido). Me denunciei fazendo vários movimentos de costas... Sei lá porque catzo!
Completamos com o bom e velho campo minado: esparramando sapatos pelo chão, colega vinha de
olhos fechados, cantávamos baixinho se ele estivesse longe dos obstáculos, mas se aproximasse fazíamos um escândalo! Se por acaso encostasse na "mina" aproveitava para explodir cenicamente. Ou seja o exercício era delícia de ponta a ponta. Depois deitamos, desenhamos de olhos fechados, nomeamos a imagem que criamos intuitivamente, da primeira palavra fomos poeticamente para outras até desaguarmos num poema e então fomos encontrando movimentos solo para nossa poesia até que conseguimos cruzar essas danças poéticas. Da primeira "tranquilidade" cheguei a "abraçada pela maresia/ aconchegada pelo sol/ entregue à marola". Voltei tããão animada, fiquei contando ao namorido, cismei de levar às salas, ele foi realista "nós gostamos por curtir essas propostas". Na primeira noite, descobri que um dos alunos passou por oficinas do Agente Jovem, aprendeu teatro e composição lá e é educador dessa iniciativa. Ele me ajudou pois inicialmente os estudantes estavam mais arredios, então fizemos a roda em que nos atentamos aos parceiros que estão de um lado e de outro, descruzamos as mãos, andamos pelo espaço, paramos, buscamos as mãos dos colegamos que tínhamos ao lado, viramos uma corrente e vamos desenroscando sem soltar as mãos até voltarmos ao círculo. Se divertiram lá no pátio da escola. Tentei fazer a Hora do Dia em roda que foi como encerramos discutindo, mas já estavam a meio mastro, loucos pelo intervalo. Já na turma com mais senhores depois, cada exercício foi um pequeno grupinho que tentou, mas acabaram criando a viagem que dei de exemplo no ouvido dos amigos, então não sei bem onde foi parar a criatividade deles. Voltei "cabreira": claro que estudo também por mim, mas se não consigo reverberar, de que vale? Nesta quinta revi com outros estudantes o que tinha experimentado teatralmente com o professor de português, que incentivou cenas antes do feriado... E nós lá com a demanda de apresentar algo na semana que vem, porque virá o pessoal do projeto Quem Ama Abraça e queremos mostrar o que temos incentivado nesta discussão de violência contra mulher. As cenas deles eram até bacanas, mas devido ao improvido e pouco ensaio, se atropelavam nas falas. "Tirei da cartola" a cena de várias violências no ônibus explorada semestre retrasado num projeto de outro colégio, escrevi na lousa, ensaiamos, dei algumas direcionadas e o professor parceiro ficou de ajudá-los semana que vem, já que apresentarão em dia que não tenho aulas. Encomendei fotos ao colega da secretaria e saí entendendo que militância é essa dentro do ensino público, afinal não pude comparecer à passeata que me chamaram virtualmente contra o famigerado golpe. Também tem luta pra cá das trincheiras! 
P.S.: Priorizo as fotos das aulas de teatro do oprimido aos registros do colégio pois esta semana a formação livre deu tanto "ziriguidum" que troquei muito com os professores, ganhei música pra cantar ao namorado pois fiz mímica andando de moto, relembramos as cenas e poesias que nos tocaram pelo caminho (recordei lá da contação do Sagrado Feminino na Cirandha da Lua, mas vindo lembrei das crianças chorando no Shakespeare Apaixonado, das discussões que rendiam no teatro de rua do abrigo Arsenal da Esperança e a menina dizendo que a contação no Teatro Real tinha sido tão bonita e eu engolindo choro). Também saí com a pulga atrás da orelha porque o professor contou que disseram na tese dele que a arte em projeto social ou prepara o indivíduo para a exigência da criatividade no mercado de trabalho ou acalma os ânimos dos que não se encaixam (ai, tão eu).
P.S.2: O colunista Mainardi, que saiu do Brasil, mas o país não saiu dele, escreveu numa Veja criticando provavelmente os feitos culturais e/ou sociais das últimas gestões petistas: "o que eles querem? Teatro do oprimido em todas as esquinas como em Santo André"? Não Diego ainda faremos no quintal de sua casa: já praticamos em 70 países do mundo! Nos aguarde!


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