segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Retiro de mim

É oficial: envelheci. Claro, os médicos vêm com metáforas, pegue mais leve e reduza o ritmo, mas não é praticamente a mesma coisa? Ouvi que não podia continuar fazendo tudo isso e automaticamente minha síndrome de Peter Pan sagitariana me cobrou "mas sempre aguentei". Foram dias de choque: a hiperatividade também era doente, mas mais aceita por amigos, chefes, parceiros, então me apeguei nela por um loooongo e tenebroso inverno. Um chute no ego: sim, também havia um que havia amado o papel de bobo da corte de tal forma que a única coisa que lembrava para lá da animadora de plateia era a deprê. E a memória que ficou dum extremo ao outro alertava: não se mova, do lado de lá doi inacreditavelmente. Aqui, entre as muitas e muitas atividades não era possível ouvir qualquer dor interna. Quando a exaustão era demais, um sono na marra aliviava e muito. As pessoas dizem que é só voltar à minha essência. E usar auto conhecimento. Fiz uma coleção de retiros, meditações e vivências, mas o caminho rumo a me conhecer não tem qualquer sinalização. E depois da ansiedade absurda, logo no começo do feriado, caiu uma exaustão: o sofá nunca me pareceu tão delicioso. Chove, o tempo resolveu chorar por mim. É um luto da partida da boba da corte. Vejo amigos e família, mas não quero falar com ninguém. No máximo chorar sem saber a razão. E ter que explicar que sim, mesmo com bom emprego, namorado, família que não me desabonem, doi. Não é paupável, nem localizável. Temporada de virar ostra. Escrever. Comer um pouco, quando o corpo grita por abastecimento. Compreendido, não ser mais hiperativa para não adoecer. Como ser outra coisa que não deprê? Não me joguei dum extremo ao outro por não ter ido ao Playcenter na infância: minha mente opera em modo mal configurado. E não fui exatamente eu que programei. Ela só deu gritos depois de stress corporativos e grandes preocupações familiares com saúde. Mas dizem que são só gatilhos, Já não era lá muito convencional querer ler, escrever e desenhar a infância toda, sem parar para comer, tomar banho... E produzir dúzias de poemas inspirada pelo lado "dark side of the moon" de Fernando Pessoa e Carlos Drummond na adolescência? Indícios estranhos de algo fora do prumo. Certo, nada de hiperatividade: me monitoro e quando quero enviar projeto de parceria para trabalho em pleno feriado, topo "dar uma voltinha" pra evitar fazer hora extra na licença médica. Não sei porque cargas d'água estou com vergonha de voltar num dos lugares que comeu meu tão necessário sono nos últimos meses e jogar a toalha. Sempre fui boa nisso na área anterior, afinal éramos trocadas feito modess. Já nessa não: me envolvo, tenho dó de partir. Sinto ainda mal estar de cortar a palhacinha com a qual me entrosava razoavelmente e talvez voltar... À essência no meu canto de anos e anos atrás? Tudo bem então agradar os outros e me machucar, inclusive fisica e emocionalmente? Não, não sei fazer nada disso, então cama, cobertor, água e a gata são ótimos companheiros temporários para esta licença médica. Ao fim dela algum texto, amigo, médico ou eu mesma terei tudo isso mais claro. Quem sabe?

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