sexta-feira, 18 de maio de 2018

A Busca de um Corpo Extraordinário

Há duas semana as danças brasileiras me carregam pelo coração no Centro de Danças de Santo André. Namorava com estes ritmos há tempos, em oficinas do Sesc, aulas abertas de ONGs e curso do Instituto Brincante. Mas conseguindo uma das vagas gratuitas neste espaço do ABC, a possibilidade das apresentações no fim do ano aqueceu meu peito nesta época de retorno do frio. Dancei em cena no ensino médio (que na minha época chamava-se colegial), quando descobri que educação física podia ser lúdica, a criação com colegas de classe, encantadora e a troca com o público, inebriante. Apresentações alimentam esta gente de teatro como eu. Para mim, voltar à dança é sempre um movimento "porque demorou tanto pra voltar"? Ah, o trabalho, estudos, dores, distância, falta de grana, cansaço... Sempre o mundo nos apartando de nossas paixões inveteradas. Mas aos quarentinha percebi que se esperar o corpo dar trégua, não retorno aos exercícios que me alimentam. A última semana foi sofrida, mais por TPM que devido à lombar ou ao quanto o corpo estava enferrujado, já que vinha praticando pilates pra "rainha da coluna" (como diria a atriz Georgete Fadel) e natação pra asma, porém ambos com movimentos tão díspares da dança, fora a água segurando a bronca do impacto.
Temos experimentado as danças afro brasileiras. Nenhum movimento ao qual nossos membros estão habituados. Tem um quê de ancestral nas descobertas, música e coletividade. Quarta vivenciamos a água de Oxum. Nesta sexta a exigência dos joelhos, agachamentos, pulos foram me dando um cagaço. Depois de umas décadas não só nosso psicológico tem seus traumas. Ano passado senti o joelho durante o caboclinho lá no instituto do Antônio Nóbrega. Mas lá para as tantas, senti que de fato buscávamos um corpo extraordinário, que tantas senhorinhas em cena comigo não estavam se colocando travas, quem sabe não era o caso de se permitir, se jogar ou se provocar? O corpo inédito é um salto no desfiladeiro. Não é porque tenho imaginação literária que tenho a corporal provocada pela professora Cris Santos. É um jogo, uma criação em conjunto de imagens, uns giros didáticos, um sentir este corpo que pode, uma procura de uma expressividade que se perdeu, mas o corpo tem memória e evoca percursos. Vimos e experienciamos mãos de mel, pés no barro, bacia que se deslocava como água, músicas até mais caribenhas que africanas e fomos encontrando este território expressivo que é mágico - e não dói. Estávamos entre linóleo e colegas. Mas fomos criando, sentindo e expressando o que a professora conduziu. E foi potente!
Os relaxamentos extrapolam tanto os cênicos! A gente nem reconhece mais a tensão que se apegou aos nossos músculos e articulações. Preciso que façam os dois lados pra sentir o corpo mais entregue andando pelo espaço, perceber meio lado trabalhado por parceiros de cena ainda não consigo.
Há várias educadoras na minha turma. Os alunos podem ganhar com isso: ao menos no EJA II de Santo André nem arte educador dançarino temos. Mas parece leveza, movimento, desprendimento, destravamento demais para as aulas curtas que temos. Já se avizinha no horizonte possíveis festas juninas escolares. Vamos sentindo o que é possível.
Fora que ocupar os espaços culturais santoandreenses é político. Temos que nos engajar, apropriar e valorizar. A iniciativa pública periodicamente tenta sucatear todas escolas livres locais. Mas nós resistimos dançando!

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