Rolou uma atividade atrás da outra, sempre convocadas por uma chamada brincalhona dos multiplicadores imitando uma gralha, que avisava para o retorno ao estudo em conjunto. A maratona me deixou exaurida e sempre me pegava escovando dente, tentando recarregar as baterias ou me localizando entre tanta novidade. Um dos momentos em que não me contive foi quando compararam um pouco mais as culturas ocidental e maia, reconhecendo a primeira como machista. Ouvi uma culpabilização da mulher por sua desconexão com intuição, cuidado com os outros meio disfarçada... Fervi e não dei conta: partilhei que acredito que todo um sistema nos oprime involuntariamente até chegarmos neste ponto e que percebo espaço tanto para militância com o público que lido e vejo machucado injustamente, quanto para sentar e olhar para si e que há contextos em que só um ou o outro são necessários, noutras situações os dois se complementam, além de sermos privilegiados em poder transitar entre ambos, já que não tinha um negro nas vivências, por exemplo. Pronto, o núcleo socialista feminista do retiro se "linkou" como um ímã. Enfim, não largo a militante nem no mato com inseto me comendo os pés, trabalho comunitário e acolhimento de pessoas inacreditavelmente
diferentes. No único momento livre em que tentamos ir numa cachoeira, me encantei com as árvores se fechando em cima de nós, não chegamos a terminar a trilha, era mais comprida e enigmática que as urbanas retiradas esperavam (porque confiar em caiçaras e caipiras? Nunca é tão facinho quanto asseguram), mas de novo as manas se reconheceram e debateram até longe dos palanques e das parcerias mais oprimidas precisando de nosso apoio. Por fim, um túnel humano encerrando as atividades, com colegas abraçando, beijando, dando carinho ou apoio no ouvido tinha que me fazer chorar não? Afinal o corre corre, cansaço e ir até o último ânimo sobressalente não eram por acaso. Me maravilho que mais e mais percebam como a educação quadradinha precisa ser reinventada. Chateio um pouco por
desconfiar que não dê conta de mato o tempo inteiro na minha vidinha urbanoide, mas me espanto das minhas amarrações incomuns entre o ensinar, atuar, comunicar, militar e cuidar ressoem longe e entre novos "velhos camaradas de jornada". Teimei tanto com os materiais naturais na tentativa duma biocontrução, mas acabei fazendo melhor registrando parte das atividades.
Numa dinâmica interativa passamos vendados por um labirinto em que ouvíamos a todo tempo para levantarmos a mão e pedirmos ajuda quando precisássemos, sem isso permanecíamos trombando nas cadeiras e fios, tinha toda uma intenção de fazer ligações com o cotidiano fechados nas nossas dificuldades e percepção de que temos que fazer tudo por conta. Muitos se irritaram ou emocionaram... Eu já me vi cigana dançando perto do fogo quando colocaram a música meio maia... Artista, médium ou ambas? Me senti protegida pelo escuro das eternas risadas com meus tombos de sempre, foi lúdico demais entender como os jovens piram num jogo, me senti entregue ao game adaptado, mas me angustiei vendo os amigos sofrendo sem solicitar apoio depois que pedi auxílio, mais do que experimentando a confinação imperceptível no labirinto sem saída criado para a atividade. Experimentei a confirmação daquela explicação budista de que vivemos no samsara, que é inebriante demais para nos propormos e termos disciplina para meditar e transcender: uma hora um amigo, noutra uma viagem, mais adiante um namorado nos dispersam...
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