sexta-feira, 10 de julho de 2020

Mosaico de Rostos

Compulsiva por estudo: sou dessas. Até mais do que em relação ao trabalho. Mal comecei as férias da pós e das disciplinas pro futuro mestrado e já embarquei nas conferências meio cênicas e meio digitais da comunidade Quinta Parede. Uma amiga da outra pós criou esta comunidade no Fuçabook para discutir os desafios de ensinar teatro na pandemia.
Quando participei e ainda discutíamos isso, parece que outros professores, de outras áreas, mas com dificuldades semelhantes já traziam as desigualdades sociais que tornam a arte educação quase missão impossível em diferentes redes públicas de ensino.
Agora na nova fase da gente se rever no Google Meetings sorteamos, experimentamos, dividimos alegrias, propomos saídas para dificuldades e discutimos as avaliações propostas pelas fichas de jogos teatrais da Viola Spolin. Em algumas das propostas que essa teatróloga vivenciou com operários mergulhamos mais lúdicos que nunca. Até meu marido ensaiou participar da sala ouvindo minha animação no escritório. Ganhamos uma presença, um viço, um jogo de cintura e nos divertimos criando juntos. Noutro sorteio fizemos mas sentimos falta de uma continuidade pra dinâmica e na derradeira, quase nada da ficha pode ser transplantado pro ambiente chamado por um dos participantes de "mosaico de rostos". Dá até vontade de escrever uma dramaturgia com essa inspiração. Experimentar na internet com amigos "arteiros" é bem pedagógico: também temos turmas animadas, brochadas e semi engajadas nas escolas offline.
Em duas semanas experimentaremos jogos de teatro do oprimido de Augusto Boal! E até lá, a expectativa e animação põem lenha nessa fogueira teatral. Pra nós, que fomos picados pelo bichinho das coxias segue fazendo falta o encontro, o efêmero, o espontâneo, a integração do grupo, o jogo de cintura com um parceiro de cena e ressignificar objetos duma sala menos pessoal que nossas casas... Mas também fazemos parte daqueles aos quais a falta dos aprendizes, colegas de estudos e parceiros de criação está tão inflacionada, que qualquer ajuste digital que possibilite parte disso é abraçado prontamente.
Meu único problema de fazer curso totalmente virtual é que isso me revelou uma stalker e tanto. Algum outro participante acena afinidade comigo e já confiro perfil, quero ser amiga, mas estou segurando minha onda já que mal dou conta do que tenho no colo atualmente. Pouco depois do início da pandemia li que nos períodos mais tensos politica e economicamente na Europa, fazia-se teatro apesar de perseguições e outras dificuldades. Claro que apesar da gravidade do que vivemos, não é possível comparar a esses períodos históricos. Mas justamente por ser ocasião menos pesada, ainda damos um jeito de superar os paus técnicos para experimentar e descobrir como (re)fazer vínculos em tempos sombrios.
Ops, por um triz esqueci dessas pequenas grandes alegrias: rever amigos dos palcos em cena e eles festejarem nossa "chegada" virtual. Que a gente sustente essas pontes online para depois refazê-las offline.

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