sexta-feira, 8 de julho de 2016

Resgate ancestral caboclo

"Quando não se sabe para onde ir, volte para onde veio", diz meu mestre griô afro Toumani Koyaté. Oche e fui reencontrar minhas raízes depois de pegar um ônibus, avião, mais um ônibus e vir parar no sertão, sendo que sou do ABC paulista?
Por mais contraditório que possa parecer sim.
Meu avô dizia que somos "caboclo com caboclo", com total conhecimento de causa, pois era do interior paulista, foi pioneiro no norte do Paraná e fez uma árvore genealógica que foi muiiiito longe. Era bom de pesquisa o vô.
Como fui no jornalismo. E doida de saudade que estava de escrever, vim produzir uns textos para o XV Encontro dos Povos da Chapada Gaúcha mineira. Com ranço de divulgadora, ofereci matérias
para revistas e jornal. Pena que a velha mídia tenha focado mais no mais do mesmo.
Vim nesta mistura de apresentações da cultura tradicional, debates agro ecológicos e exposições literárias relembrar como este meu avô contava histórias, pois não explorava recursos cênicos e nos encantava mesmo assim.
Descobri que os contadores sertanejos tem uma conexão e tanto com os caboclos! Devem beber ma mesta fonte indígena, africana...
Na cidade grande exploramos mais cenário, figurino, adereços... Nada por obrigação, mas é que na falta dum rio, bicho real para ressaltar partes estratégicas do conto, vamos de imaginação e
acessórios de cena mesmo.
Como contei aqui em cima estudei com griô africano. Por estas bandas descobri que temos também griôs mineiros. E é com eles que ando me encantando, aprendendo, rememorando.
Nesta quinta vi alguns visitantes dizendo que a poeira os confundiu ligeiramente na estrada até que conseguissem chegar.
Gozado! Pra mim ela disparou a memória olfativa de parte do cheiro lá do norte do Paraná.
Onde da última vez que visitei, lamentei que a mistura de cheiro da terra, chuva e café já tivesse se perdido.
Minas é terra fértil em escritores. Na exposição dos quinze anos do Encontro, conferimos não só
livros do Guimarães Rosa, mas também de estudantes locais, pesquisadores que como eu vieram cair de amores, escritores e fotógrafos que eternizaram: a região já coloca a sustentabilidade em pauta tem tempo. Pelo menos seis anos, mas sou ruim de conta e posso ter calculado mal.
Como educadora, acho que os professores estão à frente inclusive das capitais, onde algumas escolas têm que dar olé em gestões meio truncadas para trabalhar gênero. Empreendedorismo e finanças pessoais também já chegaram às salas de aulas destas bandas viu?
A chita, os fuchicos e bordados que encontrei em barracas, produtos e decorações, também buscamos utilizar seja em cenários, acessórios de cena ou figurinos, mas não para ser a "contadora chamativa das crianças dos espaços públicos urbanos".
Por lembrar avô, infantil e audição natural de narrações antigas, poéticas, despojadas dos recursos explorados atualmente até de modo inconsciente.
Para encerrar, ouvi Nhambuzim fazendo as malas em cima da hora na terça. E por aqui tenho falado muito neles: música inspirada na obra de Guimarães.
Como dei por estas bandas? Uma professora contou na licenciatura que fez um trabalho com os estudantezinhos que tinha, de modo que eles explorassem mais expressão corporal e ela fazia narração, sempre remetendo ao cerrado, que até onde entendi ela conheceu vindo ao Encontro de carona (há anos havia pouco sobre o evento na internet). Terminei como os aluninhos dela: "quero conhecer o sertão".
E cá estou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário