quinta-feira, 21 de julho de 2016

Tias postiças de coração saqueado

Afilhado Lucão visitando madrinha quebrada
A tia tem o coração confiscado pelos sobrinhos adotivos sem previsão de que ele vá voltar ao peito. Quem não tem irmãos mas adora um pequeno sai adotando os filhos dos amigos e primos - porém sem escolha nenhuma, eles é que vão te tomando de amores num assalto imprevisto. É verdade que não começou com os filhos dos amigos ou primos. Foi minha primeira enteada que quando perguntada se gostava de mim se saiu com a resposta:
- Eu amo! - e se agarrou às minhas pernas.
Desde então um pedaço do meu coração tem sido levado a cada primo de 2o grau que nasce ou amiga que confidencia esperar um bebê. Como toda parceira de feminices queremos sentir a barriga se transformando em lua cheia, saber dos ultrassons, oferecer sabe-se lá o que quando estão passando mal.
Como ser mulher é partilhar duma culpa jogada no nosso colo sem negociação, precisando estudar, trabalhar, fazer frela, exercício e ficar longe significa uma dor no coração de perder primeiros passos, palavras, dentinho. É escrever às mães meio irmãs querendo "detalhes sórdidos" de cada passo a mais que o "sobrinho" dá.
Leo caindo nos braços de Morpheu
Claro que morri de paixão com a filha da Lu Arroyo se pintando na Viradinha, com a Marina Lax da . Pesquisei vídeo de parto, gamei no movimento de humanização do nascimento, empoderamento materno, quero estudar para doula...! Fui visitar a Carol na véspera da cesárea, conferi o baby pouquíssimos dias depois, fiz dormir, me preocupei feito minha mãe quando ele operou a cabeça, quis ir ao hospital dar uma força pouco antes dele "entrar na faca", mas minha irmã é resiliente como só quem tem anos de militância:
paixão nonsense
Eu e Tatit pirando na curiosidade do Leozinho
Nanda Favaro me dando um peixe desenhado quando fiquei mais velha, quando a Narinha da Tatit Brandão quis que fosse convidada pruma festa dela mesmo sem ter filhos, numa ocasião mais espartana em que a lista dos que seriam chamados só incluía mães, vibrei com o primeiro filho da Bruna Morais, cabulei aula pra ver o nascimento da prima mais nova Nathalia Nunes e ganhei até concurso de redação falando da chegada da outra prima novinha Raira Torres ou mesmo fiquei na adorável expectativa quando vieram os novos filhos da Nanda e da Bru, fui uma madrinha relapsa da Luana, filha da Ana Paula Carvalho e fui arrebatada batizando o Lucas filho da prima Mariana... Mas quando a prima IRMÃ Carolina Mendonça engravidou do Pedro foi um processo meio atávico de quem se bateu na pré infância enjoar junto, comecei um diário da espera dele e dei para ela acabar de preencher depois no meio da gravidez, quando ela começou a curtir. Estes dias li que tia não troca fralda, deixa isso para a mãe. SQN Pedro eu já troquei sem sentir nem o cheiro, tamanha a
Pedroca me enlaçando definitivamente

- Fica aí em casa que está mais confortável. O que é operar um filho pra quem entregou a cria pros nazistas em campo de concentração como a Olga Benário?
Já contei muita história em festa, livraria, centro cultural, parque, teatro, escola, fiquei encantada com aquele momento em que as crianças acompanham as descrições dos contos em que estou visualizando as cenas, mas nada como iniciar a lenda indígena de surgimento da noite no aniversário do Pedroca, esnobando a princípio pois estava enlouquecido com um presente de carro de bombeiro e depois vê-lo se aproximar, levantar o rostinho ou as mãos e querer tocar as estrelas imaginárias quando elas "saem" do caroço de tucumã. É um pedaço de mim mesmo. Na nossa família não tem essa de primo de 2o grau, parente é tudo um balaio só. Para ter ideia minha tia, mãe da Carol, quando veio do interior de São Paulo pro ABC achou estranhíssimo as pessoas "terem amigos": ela estava acostumada a só ter primos. O Mendonça só saíam das roças pra verem os Machados, que por sua vez só visitavam os Duarte, que só tomavam cafezinho nos Brandão. E acabou-se. O resto eram chefe ou colega dee escola. Não havia amigo pros "loucos mansos" da nossa família em Oswaldo Cruz, Marília e Vera Cruz. Eu sempre tive primo passando temporada em casa feito irmão postiço, mas também me acostumei cedíssimo a ter amiguinhos, já que uma das poucas coisas que gostava na escola era a socialização.
Mas "voltando à vaca fria": toda hora quero saber das sacadas no que o Pedro inventa. Mostro vídeo, apresento foto, orgulhosa feito madrinha de consideração (e comunista lá batiza filho?). Tem amiga que diz que só filho provoca umas ondas de felicidade nos pais, Óbvio que não tenho muito como argumentar sem ter parido, porém já ouvi colega da antiga profissão dizer que o amor aos filhos é da mesma natureza dos bichinhos de estimação, mas muito extrapolado. Sendo "mãe" do cachorro Bidu e da gatinha Peteca e fazendo um paralelo, tenho sim umas ondas de felicidade com os sobrinhos adotivos, provavelmente menos intensas.
Pedro é desses que diz que não queria ter nascido e sim, ser um carro de corrida. Sai emburradinho do quarto quando acorda e os pais não estão perto. Quando a mãe pede pra sair do banho, ele pergunta se a polícia virá tirá-lo. Quando Carol explica que ele nasceu pela barriga, pergunta se todos os bebês nascem assim e quando ela diz que alguns nascem por baixo, chora por que queria ter nascido do modo natural. Pulou na cama nova depois de ter quarto montessoriano com colchão no chão. Quando vê que estamos caindo de cansaço e ainda quer brincar, vai nos beijar para acordarmos. Disse à avó quando minha prima desmamou que o leite da mãe tinha estragado, mas que ele ainda arrumaria pra ele uma mulher com leite, depois da avó contar que não tinha mais também. Dá um instrumento para cada avô, pai e amigo próximo e quer improvisar regência. Cria outra melodia para músicas infantis de nossa infância que as professoras também devem cantar na escolinha.Quando minha prima fala pra dar brinquedos a mais aos pobres, ele manda que ela dê os dela ou os traga pra brincar com ele na casa dos pais. Como não amar e ficar com um naco a menos de coração longe? Lógico que não é a mesma coisa que ser mãe, mas vegetarianos também aceitaram trocar sabores novos bons pelos velhos sabores conhecidos que abrimos mão. Lá estamos acreditando ou procurando algo igual a qualquer coisa? É visceral a paixão. Amigos ou colegas meio que me contento na marra a acompanhar distanciada a evolução dos pimpolhos. Mas do Pedro não, toda hora preciso cheirar, agarrar, ouvi-lo dizer que só pode beijar criança quando ela quer, contar histórias... No caso do afilhado do Paraná a distância e falta de $ da troca de profissão estreparam todo esse processo de aproximação. Estamos pondo essa curtição em dia agora quando ele retorna e me descobri boa no tato com os jovens também (tenho bode da pedância curitibana). Mas quanto ao Pedro, quase atravesso dois municípios pra rever, apertar, atualizar a paixão e lógico, trocar figurinha com a mãe, que por incrível que pareça, é mais nova, mas jura que se inspirou  em mim politicamente e nas referências. Falando nisso, deixa eu agilizar o próximo reencontro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário