Afilhado Lucão visitando madrinha quebrada |
- Eu amo! - e se agarrou às minhas pernas.
Desde então um pedaço do meu coração tem sido levado a cada primo de 2o grau que nasce ou amiga que confidencia esperar um bebê. Como toda parceira de feminices queremos sentir a barriga se transformando em lua cheia, saber dos ultrassons, oferecer sabe-se lá o que quando estão passando mal.
Como ser mulher é partilhar duma culpa jogada no nosso colo sem negociação, precisando estudar, trabalhar, fazer frela, exercício e ficar longe significa uma dor no coração de perder primeiros passos, palavras, dentinho. É escrever às mães meio irmãs querendo "detalhes sórdidos" de cada passo a mais que o "sobrinho" dá.
Leo caindo nos braços de Morpheu |
Eu e Tatit pirando na curiosidade do Leozinho |
Pedroca me enlaçando definitivamente |
- Fica aí em casa que está mais confortável. O que é operar um filho pra quem entregou a cria pros nazistas em campo de concentração como a Olga Benário?
Já contei muita história em festa, livraria, centro cultural, parque, teatro, escola, fiquei encantada com aquele momento em que as crianças acompanham as descrições dos contos em que estou visualizando as cenas, mas nada como iniciar a lenda indígena de surgimento da noite no aniversário do Pedroca, esnobando a princípio pois estava enlouquecido com um presente de carro de bombeiro e depois vê-lo se aproximar, levantar o rostinho ou as mãos e querer tocar as estrelas imaginárias quando elas "saem" do caroço de tucumã. É um pedaço de mim mesmo. Na nossa família não tem essa de primo de 2o grau, parente é tudo um balaio só. Para ter ideia minha tia, mãe da Carol, quando veio do interior de São Paulo pro ABC achou estranhíssimo as pessoas "terem amigos": ela estava acostumada a só ter primos. O Mendonça só saíam das roças pra verem os Machados, que por sua vez só visitavam os Duarte, que só tomavam cafezinho nos Brandão. E acabou-se. O resto eram chefe ou colega dee escola. Não havia amigo pros "loucos mansos" da nossa família em Oswaldo Cruz, Marília e Vera Cruz. Eu sempre tive primo passando temporada em casa feito irmão postiço, mas também me acostumei cedíssimo a ter amiguinhos, já que uma das poucas coisas que gostava na escola era a socialização.
Mas "voltando à vaca fria": toda hora quero saber das sacadas no que o Pedro inventa. Mostro vídeo, apresento foto, orgulhosa feito madrinha de consideração (e comunista lá batiza filho?). Tem amiga que diz que só filho provoca umas ondas de felicidade nos pais, Óbvio que não tenho muito como argumentar sem ter parido, porém já ouvi colega da antiga profissão dizer que o amor aos filhos é da mesma natureza dos bichinhos de estimação, mas muito extrapolado. Sendo "mãe" do cachorro Bidu e da gatinha Peteca e fazendo um paralelo, tenho sim umas ondas de felicidade com os sobrinhos adotivos, provavelmente menos intensas.
Pedro é desses que diz que não queria ter nascido e sim, ser um carro de corrida. Sai emburradinho do quarto quando acorda e os pais não estão perto. Quando a mãe pede pra sair do banho, ele pergunta se a polícia virá tirá-lo. Quando Carol explica que ele nasceu pela barriga, pergunta se todos os bebês nascem assim e quando ela diz que alguns nascem por baixo, chora por que queria ter nascido do modo natural. Pulou na cama nova depois de ter quarto montessoriano com colchão no chão. Quando vê que estamos caindo de cansaço e ainda quer brincar, vai nos beijar para acordarmos. Disse à avó quando minha prima desmamou que o leite da mãe tinha estragado, mas que ele ainda arrumaria pra ele uma mulher com leite, depois da avó contar que não tinha mais também. Dá um instrumento para cada avô, pai e amigo próximo e quer improvisar regência. Cria outra melodia para músicas infantis de nossa infância que as professoras também devem cantar na escolinha.Quando minha prima fala pra dar brinquedos a mais aos pobres, ele manda que ela dê os dela ou os traga pra brincar com ele na casa dos pais. Como não amar e ficar com um naco a menos de coração longe? Lógico que não é a mesma coisa que ser mãe, mas vegetarianos também aceitaram trocar sabores novos bons pelos velhos sabores conhecidos que abrimos mão. Lá estamos acreditando ou procurando algo igual a qualquer coisa? É visceral a paixão. Amigos ou colegas meio que me contento na marra a acompanhar distanciada a evolução dos pimpolhos. Mas do Pedro não, toda hora preciso cheirar, agarrar, ouvi-lo dizer que só pode beijar criança quando ela quer, contar histórias... No caso do afilhado do Paraná a distância e falta de $ da troca de profissão estreparam todo esse processo de aproximação. Estamos pondo essa curtição em dia agora quando ele retorna e me descobri boa no tato com os jovens também (tenho bode da pedância curitibana). Mas quanto ao Pedro, quase atravesso dois municípios pra rever, apertar, atualizar a paixão e lógico, trocar figurinha com a mãe, que por incrível que pareça, é mais nova, mas jura que se inspirou em mim politicamente e nas referências. Falando nisso, deixa eu agilizar o próximo reencontro.
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