quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Das surpresas narrando fora das áreas cultural e educativa

Neste recesso escolar deu pra experimentar de tudo um pouco: desde férias interioranas offline econômicas até contação de histórias fora dos segmentos escolar e cultural. Na segunda possibilidade de vivências rolaram surpresas e aprendizados dos mais inesperados. Como diria um programa infantil retrô da TV Cultura na minha infância: senta que lá vem história...
Comecei narrando histórias sozinha depois de não conseguir combinar ensaio com meu músico durante três ou quatro dias. Nada de novo sob o front com relação a estas parcerias criativas. Fiz numa rede comercial com a maior parte das lojas em shopping que não conheceria se não fosse trabalhando, pois ao contrário de parentes cujo hobby é passear nesses centros comerciais,  só vou para estes locais quando o tempo está muito apertado e só tenho curto espaço para resolver três ou quatro coisas duma vez - então atravesso a avenida e vou no pedante shopping de São Caetano, cujo bairro curte simular que está em Alphaville: batizou todas avenidas do entorno com alameda. Vi que fizeram uma divulgação caprichada, porém em algumas delas as gerentes lamentaram que muitos clientes estivessem de férias ou que os pais levaram para ver Rei Leão no cinema. Brinquei que não conseguia concorrer com todos efeitos colaterais e marketing desta produção. Só que as brincadeiras têm um quê de verdade rs
Já na segunda semana consegui finalmente firmar parceria com amiga budista e artista com quem ensaiei e narrei as demais histórias. Artistas populares se namoram um tempinho antes de engatar noivado porque sempre tem umas aulas, pendenga familiar ou imprevisto pelo caminho adiando as
parcerias criativas. Numa das poucas lojas de rua da zona sul, a gerente dividiu conosco que mudamos o olhar que teve sobre um dos livros contados, que tinha achado triste e alterado o fim para os pequenos que contou, porém nem percebeu que tratávamos da mesma obra. De novo a praga do politicamente correto contaminando nossas avaliações literárias. Não, a obra não acaba muito bem para os bichos do enredo, mas por acaso a vida sempre termina bem? Nada pedagógico a gente querer encerrar tudo no felizes para sempre. Mas nem para os bem nascidos termina sempre para cima, embora estes tenham problemas gourmet. Mas para os seres humanos, o livro encerra com uma luz no fim do túnel. E nós não estamos na floresta como os protagonistas da fábula do escritor, então... Vale conhecer ou ouvir Leão Humilde, de Pereira Lima, indicado pelo clube de leitura infantil Leiturinha.
Na zona leste contamos para uma criança super participativa, depois a mãe veio pedir desculpas, mas é melhor para imaginação desta expectadora mirim que super interaja do que se perca em atrações muito estimulantes ou digitais (em muitos dos espaços trabalhados havia várias). Tivemos retornos gratificantes das mães, funcionárias se lamentando dos clientes que só usaram a prestação de serviço local e foram para outros compromissos, mas aqui minha experiência educativa colaborou: as mães e crianças atentas têm experiência na educação, o que impacta nos estímulos educativo e lúdico que dão em casa. Os africanos têm razão no provérbio "é preciso toda uma aldeia para educar uma criança".
Um dos espaços que contamos - enorme! É a sede - tinha metade da loja em parceria com espaço de estimulo à criatividade que só conhecia fora de shopping, mas adivinhe? Só fazem atividades mão na massa, sem equipamentos eletrônicos, caseiras e artesanais. Ou gourmetizando atividades maker. Até quem é de fora da educação reconhece que telas e jogos cedo ou o tempo todo com os pequenos os prejudica! Até a receptividade e interessse nesse local era outro.
Numa das últimas apresentações, um aprendizado para além dos estudos acadêmico-artístico. Acho
que conferindo o pesquisador e artista Flavio Desgranges ano passado estudei que o que criamos só se completa apresentando, com a interação do público. Às vezes quando minha voz ficava muito fora do que ouvia no ensaio em casa, cismava com minhas ansiedade ou asma e me cobrava. Mas lá, vivenciei o quanto a arte - narrativa também - é uma construção com variáveis diversas que não temos como controlar. Na penúltima loja, havia um espaço para mães com bebês pequenos demais, meio escondido, mais fechado. Ele me fez perceber que espaço que se diz fechado, mas é amplo demais, já se transforma num local aberto e vai impactar na acústica. Nesta tarde foram ver colega de trabalho e outra amiga com filhos, uma delas  atravessou a cidade para assistir. A alegria da plateia enfrentar dificuldade na chegada e ofertar essa raridade contemporânea no contexto digital - a escuta - já me fez entregar uma contação numa empolgação grata. E como quando contava histórias diferentes a cada quinze dias em biblioteca de colégio particular, a toque de caixa porque o ritmo industrial nos aperta o tempo dilatado dos ensaios, as últimas narrações se tornam o resultado do ensaio involuntário das primeiras contações anteriores, que o sistema capitalista transforma invariavelmente em treino. No fim de semana posterior ao término das contações a ex chefe escreveu mandando foto, elogiando e escreveu que estava impressionada como desenvolvi vozeirão. Achei engraçado pois ela só conhecia minha versão sisuda fantasiada de executiva na comunicação.
Depois ainda encerrei a formação que dei no Galpão de Cultura e Cidadania de São Miguel, em parceria com a Fundação Tide Setúbal com a mesma amiga atriz, violeira e preparadora de elenvo Cris Martins, aproveitando o cenário do Ponto de Leitura local e finalizando musicalmente as apresentações dos assistente social, educadora, dona de casa, estudante e estagiário que estudaram narração lá comigo. Mas isso ja é assunto para outro post...!

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