sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Formando Contadores

Nas férias escolares coube de tudo um pouco: viagem, contação de histórias, reencontro com amigos, formação em narração e parcerias "namoradas" há tempos e finalmente concretrizadas. Quis escrever sobre a formação que dei para assistente social, professores, estagiária, pedagogo, bibliotecária por vocação, ator, bailarino e oficineiros em São Miguel Paulista devido a não trabalhar com uma turma tão diversificada há um tempão! Embora tenha ocupado minhas sextas à noite revendo planejamento e sábados de manhã entre deslocamentos e formando esta turma, ela me nutriram duma forma tão surpreendentemente diferente da que me sinto preenchida nos demais trabalhos tanto artístico quanto educativo! Primeiro por perceber que apesar de não ser de São Miguel Paulista, nem frequentar o suficiente para conhecer todo o contexto local, tenho uma relação afetiva com a região: lá ensaiei com o diretor, ator e produtor Apollo Faria o teatro escola ecológico infantil Terra Viva, no qual descobri o quanto ficava em casa profissionalmente no ambiente escolar e como me sentia à vontade como atriz, mesmo fazendo um papel muito mais novo do que minha idade da época. Trabalho esta formação em texto por ter "namorado" muito uma parceria com a Fundação Tide Setúbal, devido a fazerem periodicamente uma feira literária na zona leste onde atuam, volta e meia ligava, escrevia ou ambos, mas só agora "noivamos". Fui formadora no Galpão de Cultura e Cidadania e foi uma grata surpresa ver um espaço tão cheio de possibilidades promovendo empreendedorismo, literatura, formação, coworking, shows, integração local, apoio aos imigrantes, oficinas, apresentações, entre outras atividades na periferia (infelizmente há tantas outras quebradas sem estes equipamentos, apoiadores e calendários potentes). Depois da reforma, o Galpão não se manteve apenas com um calendário diverso e criativo: ficou também lindo. Nós da arte sabemos como a estética colabora ou não para que nos engajemos tanto em apresentações como em cursos. O Ponto de Leitura local (um dos espaços internos em que também dá vontade de dormir, de tão aconchegante) centralizou a divulgação, já que não conhecia meia dúzia na região (e estes mesmos não puderam fazer o curso, a despeito do meu apoio divulgando). Pensamos em outra época para dar a formação. mas os interessados quiseram fazer no recesso escolar e eu, que AMO trabalhar jogos, dinâmicas, improvisos, debates, vídeos e apresentações narrativas, literárias e teatrais, dei as aulas tão animada quanto quem estudou comigo. Sergio Vaz tem razão: povo lindo, povo inteligente (o periférico)! No primeiro sábado a troca de experiências, percepções e estudos foi tanta, que ao começar a trabalhar minha apresentação sobre literatura ficamos no primeiro slide, de tanto que trocamos! Para quem volta e meia pega turmas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) muito travada por exclusão social, baixa auto estima, impressão de que não sabem nada, medo de errar e desânimo com as portas na cara da vida, o envolvimento destes aprendizes foi um fomento para repensar planejamentos, incluir novas estratégias e dividir histórias! No início rolou rápida participação de colegas do meu bairro, do outro lado da cidade, o Heliópolis, na zona sudeste. Conforme a formação foi acontecendo, meus colegas de quebrada não puderam continuar. Mesmo assim fiquei realizada com a coordenadora da Biblioteca Comunitária do Heliópolis escrever que deram retorno positivo do curso para ela e de um dos que parou escrever que gostou, além de lamentar não continuar devido aos trabalhos que surgiram. Explorei improviso, jogos de teatro, trabalho com elementos de cena, objetos de afeto, reconto de histórias reais ou inventadas para descobrirmos se era ficção ou não, condução dos colegas de curso pelas memórias felizes dos parceiros de jogo através de movimentos e sons, dinâmicas de trabalho com imaginação, expressão corporal, criatividade, além de partilhar histórias que conto com diferentes recursos. Um dos participantes contou que marejava os olhos em nossos encontros semanalmente e que era um curso que tocava a alma. Eles ensaiaram contar pequenas narrativas, depois escolheram outras e finalizaram com um sarauzinho no Ponto de Leitura, com colegas e familiares, ocupando o praticável disponível no local. Eu e a parceira atriz e violeira Cris Martins ainda apresentamos aos participantes parte do nosso repertório musicado, trabalhado nas narrações dramatizadas feitas em espaços comerciais, com ambiente diverso desses centros culturais e educativos no qual formei os interessados em contação da ZL. Criamos um zap, trocamos fotos, programação de São Miguel. vídeos... Mas formação, não sei porque, sempre deixa um clima de quero mais. Escolas, nem sempre: porém são infra estrutura, sistema, condições tão díspares do que encontramos nos centros culturais, que nem dá para ensaiar uma comparação. Atualizei e enviei a eles uma apostila. A coordenadora deve nos enviar certificados. Eu já propus e aguardo que façamos novas formações. Quem sabe?
Antes de dar esta formação, na maioria das vezes via, lia ou ouvia profissionais da educação dizendo que fora das aulas não queriam estudar, que parecia hora extra, mas o interesse e engajamento dos meus estudantes da zona leste foi tanto, que comprovei que nem sempre os envolvidos na educação fogem à atualização nos momentos de folga.
Enfim não fechei a parceria com a Tide e o Galpão antes por razões diferentes das que imaginei. O fruto só esperava o tempo certo da colheita mesmo. No geral acho este olhar uma prosa meio zen noção, mas com esta formação bate muito isso do tempo certo dos sonhos acontecerem ser muito díspare do timing da nossa ansiedade. Vou relembrando tudo em post pois ao contrário dos amigos que para lembrar coisas importantes se tatuam, para registrar o que me tocou escrevo, como quem imprime memórias afetivas fora de si. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário