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Direto do Pombal... e do meu cabelo retrô |
Do lado de cá tenho vivido outro
tempo
Sem buzinas, enchentes,
constrangimentos
Tanto que já nem sei em que folha do
calendário
O mundo de-sa-ce-le-rou... Até parar
amarrotado
Do lado de um relógio sem corda
E pra ele dar a mão – desde então, acumulam poeira
Do jardim em que caminho
Rumo a lugar nenhum
Ou do refúgio gelado
Em que invento moda
E sorrio para um filme inverossímil
A avenida do lado de lá não me
perturba
E nessa migração do medo à
contemplação
Da irritação ao isolamento
Da preocupação às descobertas animadoras
A dor no peito se liquefez
O sono se dilatou
As emoções e os pensamentos
Dançam ao som de O Dia em que a Terra
Parou
Nessas semanas com ar de meses
Tive medo nos auto cuidados externos
Aproveitei minha inventidade
E improvisei como se estivesse no
palco
Na programação mais engessada
Jogamos as toalhas e ganhamos respiro
Fui da criatividade ao bloqueio
criativo
E cobrei do infinito que a iluminação
viesse logo
Que não tenho a vida toda para atingir
o Nirvana
Troquei o entretenimento por arte
digital
Mas mesmo nos dias mais sem chão
Ainda ouvia pássaros, música e
encontrava paz
Aqui dentro mesmo – quem diria?
Assisti tanto o maremoto quanto a
calmaria
Com pipoca na mão como quem vê filme
Nenhum me atropelou
Os sopetões não me impedem de sorrir
por dentro
Já que do meu quintal não escuto a
rua.
Estranhei mas viciei nessa marola
Estão limei notícias
Quis acolher, colaborar e apoiar
Mas minha falta de ar abortou
Iniciativas ao vivo e a cores
Me vi meio de mãos atadas
Vibrando, escrevendo, gravando
e... quem diria? Torcendo
Encarando a vulnerabilidade
E finalmente dormindo no mal estar
dela
Do meu quintal a redução da marcha
Revelou que meu mal, quem diria,
Sempre foi meu pique sem freio
Sem os atravessamentos da rua
Vejo luzes sem poluição entardecerem
Minha sala colorida e étnica
Do meu quintal a economia
Dos desgastes cotidianos
Revela uma capivara à margem
Entre esgoto e mato abandonado
Do meu quintal as saudades
Dos amigos e parentes
E nossos reencontros
Eternamente adiados
Transformam a videoconferência
Na linguagem que reduz distâncias
Do meu quintal ouço pássaros novos
Entre o ribeirão e a comunidade
Me surpreendo com meus improvisos
Respiro e acho espaços internos
Nunca visitados
Do lado de dentro
Faço as pazes e corto relações
Com a tecnologia
Encontro e ofereço solidariedade
Caio de amores pelo entretenimento
digital
Depois fujo para a arte analógica
Todos esses mergulhos e descobertas
Por não ouvir a rua
Do meu quintal.
Eu amei sua poesia e como está se sentindo diante do que estamos vivendo. Li e reli. E vejo vc em tudo isso. São tantos os sentimentos...
ResponderExcluirParabéns, querida Franzoca.
Parabéns amiga, pela consciência poética num momento tão delicado como este,
ResponderExcluirQue beleza, você escrevendo poesia !! Quem diria, encontrei seu lado mais zen em plena quarentena. 💖
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