domingo, 19 de fevereiro de 2017

De como incentivar a leitura com seu filho

Sempre que me apresento contando histórias, seja em escolas, livrarias, centros culturais, teatros, bibliotecas, lançamentos, comemorações, formações, projetos culturais, feiras literárias ou eventos pedagógicos costumo ouvir:
- Como faço para meu filho ler mais?
A variante desta questão pode ser ser:
- Como fazer com que os estudantes leiam mais?
Bem, se os professores ou pais não saem do celular, da TV de tela de plasma, do iPad ou laptop dificilmente conseguirão esta façanha. O aprendizado pelo exemplo é tão forte que meu pai sindicalista nunca sentou ao meu lado para fazer um "piquete familiar", mas acabei tomando seus ideais como meus, a despeito da minha mãe criticá-lo por perder bons empregos na ditadura sendo meio rebelde.
Vencida esta primeira etapa, se interessar pelo universo literário infantil é outro passo e tanto. Você não curtia ler quando era pequena? Não tem problema: hoje os livros têm ilustrações muito mais ricas que quando fomos crianças, há diagramações diferenciadas, papeis novos, encadernações chamativas, um universo a ser descoberto. Empreste um pouco da curiosidade da infância pra isso.
Pergunte por novidades irresistíveis aos livreiros, pais de crianças fãs dum programa cultural ou bibliotecários. Banque o investigador literário. Apareça perto dos pequenos namorando um livro "diferentão, barroco, vanguardista". No mínimo os alunos ou filhos ficarão com a pulga atrás da orelha.
Crie um clima intimista para contar histórias: coloque música ou cante, ressuscite o potencial palhaço ou ator que adormeceu em você, interprete os trechos mais chamativos de modo brincalhão ou exagerado, coloque roupas chamativas como arremedo de figurinos, dance nas partes animadas, banque o chorão nos trechos tristonhos, interaja com o livro: abrace-o, esconda-o ou use-o temporariamente como chapéu se encontrar o artista circense escondido em você.
As propostas te pareceram arrojadas demais, você é um executivo, tem tanta burocracia escolar pela frente que mal faz o protocolar educativo, não tem ideia de onde foi parar aquela piração antiga por histórias novas?
Bem, tente então uma história emocionante como Xica, de Rosinha, publicada pela Editora Peirópolis. Costuma ser um caminho certeiro: a obra traz a história de uma peixe boi caçada, confinada numa fazenda, depois vendida à prefeitura de Recife, que pior, a transformou num enorme bicho aquático de cativeiro numa fontezinha em praça pública da capital pernambucana.
Claro, ela tinha amigos como a tartaruga ou o bicho preguiça, que tornavam o tempo aprisionada ali mais companheiro, engraçado, imprevisível e parceiro.
Porém a Xica se cansava daquelas visitas inconvenientes a tratando como miquinho amestrado.
Bom mesmo era ficar só e relembrar o por do sol no mar e suas recordações em liberdade dentro dele.
Só mesmo uma menina sensível, apaixonada pela avó e fã do balanço da praça para entender a necessidade de Xica não ser vista como um bicho tão insólito, apesar de estar fora do seu habitat natural.
A história infelizmente não é ficcional, mas graças ao ativismo de ecologistas e organismos de preservação da fauna aquática tem final mais feliz que o percurso tortuoso enfrentado pela Xica.
Tem como não se emocionar e indiretamente tratar de respeito aos animais, companheirismo, saudade dos parentes estimados que partem cedo demais, entre outras mensagens que certamente estão nas entrelinhas, mas conferindo desavisadamente só percebemos algumas?
Pois bem a literatura infantil atualmente está mais profunda, atraente, delicada, rica, diferenciada que na época em que namorávamos os livrozinhos pelas bibliotecas e escolas.
Ou suas surpreendentes linhas me fizeram voltar à infância nos últimos anos.
Permita que ela faça isso contigo também! É um caminho sem volta...

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