terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Memórias de Carnaval

O Carnaval é uma festa contraditória para mim. Tenho memórias de na infância ir à matinê do Clube
Juventus com a minha vizinha, que os maldosos do prédio chamavam de bruxa do apartamento 4, como a megera do Chaves e Chapolin. Ela levava a mim e sua sobrinha. Não lembro quem caprichava em nossas maquiagens, mas íamos de Pierrô e Colombina, inclusive muito bem fantasiadas. Uma overdose divertida de confete. Aliás só assim para ir ao Juventus - ou vendo a outra vizinha jogar. Meu pai...! Sempre achei vôlei uó, da arquibancada ou na quadra.
Mas voltando à serpentina: já adolescente ia à matinê do clube da GM com minha prima IRMÃ. A questão é que acho nunca ter sido muito naturalmente da farra e me irritava já jovem da "torcida do Flamengo" resolver que era o momento ideal para meter a mão em alguma parte do meu corpo que não estava disponível - mas azar o meu. Neste período inclusive era meio "se não aguenta, nem desce pro play" ´porque lá pras tantas, em meio ao tira o pé do chão clássico passava meio mal e minha prima me sentava num canto para voltar a pular até quase destroncar o tornozelo.
Então veio uma longa e mais adequada à minha alma senhorinha temporada de retiros no Carnaval. Meditação, massagem, budismo, yoga.., Valia qualquer negócio para correr da folia. Mato, sempre muito mato. Os litorais sempre estavam num "pega para capar", que não "ornavam" com minha saudade do sossego das férias interioranas da infância.
O mais próximo que cheguei dum meio termo nesta época foi ir à Vitória com os mesmos vizinhos de sempre. Como era uma viagem de pobre, levamos 12 horas para atravessar a famigerada região dos Lagos carioca. Estes vizinhos zoaram tanto meu pai - uma figurinha caricata - que até chegarmos a excursão inteira já o zoava, porém a maioria nem o conhecia. Ficamos na época com a impressão de que todo mundo no Espírito Santo fugia pra Bahia. Houve uma certa decepção dos parceiros de programa de índio: acho que alguns esperavam aquela muvuca carnavalesca de TV e foi sossegado. Teve quem reclamasse que a galera local era feia, mas como nunca tive esse ímpeto de beijar como se o mundo fosse acabar amanhã, de fato não lembro muito não.
Houve claro diversos Carnavais com família no interior de São Paulo, Curitiba e norte do Paraná. Tranquilos, muitas sonecas, comilança, prosas em dia, visitas à parentada... Não lembro de irmos em algum clube ou festa de rua - e é provável que tenhamos ido, porém a comemoração não devia ser tradição em nenhum destes lugares, portanto nada que tenha me marcado muito significativamente.
Adulta lembro de ter ido "montada" na bailarina com amiga na Vila Madalena, acho que quando o
movimento do renascimento de Carnaval reiniciou em São Paulo. Rolaram as palhaçadas de sempre: nos perdemos, a rua estava - como era de se prever - animada, mas já estava como diz meu namorado fazendo meu supletivo de curtição perdida na adolescência. Tive bode cedo. Depois aquela baixaria de sempre, cada uma de nós com uma versão diferente da ocasião. Bem, em alguma fase eu tinha que enfiar o pé na jaca não?
Este feriado voltei aos bloquinhos para confirmar incomodamente que o tempo passeou.
Gozado que voltando duma contação de histórias semana passada com minha fã número 1 - mãe, quem seria? - cruzamos com um mar de noivas, capitães, diabinhas, enchapelados cheios de purpurina indo para algum bloco caprichado. Não sei se por vir duma batida intensa de médicos e frelas cedo, só queria cama. Creditei ao cansaço e me perdoei. Mas este feriadão lá na Marechal, só quis calçada, vazar para comer uma pizza e sentar também, Rapaiz! Envelheci e o namorido não entende o stress brabo com isso. O grande mal estar nem é a mancha no rosto comprovando isso, afinal sempre fui relaxada com cremes, mas sim a
chateação de aguentar seis programas seguidos na virada para os 30 e dez anos depois fazer duas ou três coisas e já precisar voltar e deitar. Depois vi uma galera chegar com banquinho e pensei que afinal, não era uma questão só minha esta canseira nonstop. Mas lá para as tantas passaram a mão em mim e já quis vazar mesmo.
É como desabafei com o atendente do natureba em que comi mais cedo. O que acho uma judiação é que se a mulher for apaixonada por Carnaval, ele não é amigável para nós. E no fim das contas cheguei à conclusão de que Deus, o universo gerador ou a energia criadora fazem as coisas acertadas porque nunca rolou ir para Bahia ou Pernambuco no Carnaval (este último ainda tenho impressão que curtiria, mas porque sagitarianos têm uma esperança sem noção).
Também penso que há cidades em que a cultura carnavalesca não só é mais forte como natural: parece impensável não ir atrás do bloco, conferir os bonecões ou as escolas em Salvador, Recife e Rio. E como esta cidade é um mundo, amigos no rodapé do Sambódromo também batem carteirinha não só agora, mas o ano todo.
Como estou em todo aquele processo de olhar crítica e artisticamente pro feminino no teatro, questiono se não nos convencemos que não é uma festa que nos acolge porque tem esta canseira de tentar curtir, ser abusada, enfim...
Difícil dizer. Agora que quatro dias e meio são fodásticos para cansados são. Ficar semi nova e não saber lidar, inclusive com os pais voltarem à infância é perturbador. Inclusive porque a mídia não ajuda com sua ode massacrante à juventude e à magreza - femininas, lógico. Bom... Bora para uma temporada Nerdflix.

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