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Cena Hoje Eu Recebi Flores, com Klaviany Cozy |
No primeiro reeencontro saí percebendo o feminino abjeto em mim - porque pra gente da militância feminista é mais fácil apontar a rejeição ao feminino da sociedade. Cismei que corri da maternidade porque mergulhando nela teria que encarar tudo que é aflitivo: amamentar, parar a vidar, fazer ê um diário nosso adolescente. Éramos românticas. Você foi pé no chão: o jornalismo não colaborava, os antigos parceiros também não. Isso não foi exclusivamente seu. A sociedade não acolhe o feminino e você foi realista, Ela sabe o quanto amo antropologia e traz as aulas que tem descoberto na especialização da Federal do ABC: "instinto materno é criado pela sociedade". Por este olhar, o relógio biológico também não deve existir. O que é vontade minha de parir e o que a sociedade entubou em mim? Difícil identificar. Pelo budismo, posso desconstruir. Mas é uma labuta de queimar os neurônios.
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Atuação cênica no Movimento de Mulheres do Heliópolis |
Como diria Hel Mother, está tudo bem. Sim, fiz maratona dela. Curativo. Recomendo para dores de não mães tardias. Quando este mal estar bate feio também visito amigas enlouquecendo com filhos. Apazigua um pouco também.
No segundo encontro entendi que quando minha mãe dizia "não tenham filhos porque é uma preocupação muito grande para o resto da vida" estava falando da maternidade e não de mim. Era óbvio, mas na minha filhauniquice achava que estava reclamando de mim. Minha mãe disse a vida toda "aconteça o que acontecer, nunca pare de trabalhar". Talvez levei a sério demais. Mas não por egoísmo como a sociedade faz querer parecer. Ao que tudo indica é o que faço de melhor mesmo.
Há semanas ouvíamos os colegas de oficina falarem de como nasceram. Dos mais velhos era gritante a solidão das mães. Uma dizia que "naquele tempo era assim, os pais não paravam de trabalhar nem para ver os filhos nascerem". E nesta última semana, como disse nossa diretora "depois que todos nascermos, tomaremos café" e partilhamos muitas percepções em roda. Experiências fortes, muito tocantes, algumas até chocantemente sinceras foram dividas. Festejaram meu bolo de beterraba: me espantei, mas ainda estranho ficar à vontade numa função da qual sempre corri. Minha irmã lembrou que festejaram meu arroz com leite de coco e damasco no Natal. Minha mãe nunca deu espaço para nada em seu território sagrado da cozinha, ainda hoje me perco nas minhas experimentações culinárias. Talvez tenha sido estragada, mas nem todo mimado passou por este processo voluntariamente. Quem é da família ou íntimo já me acompanhou tentar cortar super proteção familiar no grito e na civilidade. Como nada funciona, nos últimos tempos tenho relaxado e deixado que façam as trocentas ajudas me me entucham, Meus pais viraram crianças da terceira idade: também não sei como lidar, porque requer uma paciência que não desenvolvi com a maternidade. Às
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Experimentação do monólogo Porque que A Gente Deixa? |
- E aí o seguro é bom? Já que estão se matando, queria saber porque é um tal de pururuca e pinga com tratamento de pressão alta e diabetes que vou te contar!
Voltando á oficina (muito embora esteja tudo muito interligado), esta semana a professora mostrou seus vídeos de parto, contou de seus processos familiares... Em meio à tanto choro, TPM, vídeo da Hel, prosa com amigos e terapia, cheguei à conclusão de que não tive filho porque não sou forte para isso. Mas sou para outras coisas. E muito a contragosto admito que estar em paz com isso não é permanente porque esta sociedade maravilhosa, como classificaria Hel, não colabora. Passei mal de enjoo recentemente, parente tem que vir perguntar se não estou grávida. Mas depois sou julgada quando fico com a impressão de que quem nunca gostou, falou ou lidou bem com criança terá um e eu que sempre adorei, não. Minha irmã acha que só quero um bebê, não um filho porque me angustio de saber que se transformará em adolescente. É o estrago de terceirizar nosso instinto maternal com a educação. Meu companheiro acha que penso em resolver algo ligado à infância com a gravidez, porque nem o pós parto me psiquiatra Lucy no desenho Snoopy: cobrou R$ 10 pela consulta super sônica. Por mais cabeçóide que isso tudo soe, consigo me curar de mim e não - porque estamos estudando a performer Angélica Liddell e seu texto Lesões Incompatíveis com a Vida e aquelas impressões niilistas do ser humano e maternidade são dilacerantes. Conferir trechos de suas apresentações no fim de semana me fez sentir completamente ignorante. Um salve a todas mães e não mães estupidamente sinceras, que estão ajudando a expor nossas feridas, forçar entender nossas dores e - até isso - analisar nossas maluquices.
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Criação a partir das partilhas femininas |
Faço parte duma geração que sempre ouviu as mães incentivar estudar, trabalhar e atualmente estou como muitas amigas jornalêras da velha guarda, meio donas de casa forçadas, freelas, professoras meio período como eu, tradutoras, acadêmicas, sem ter ideia de como lidar com essa casa que nunca para de dar trabalho e nunca nos rende nada. Olhar para isso artisticamente certamente ajudará com as novas tarefas da oficina: levar uma roupa e uma ação. Ser mulher é transformador, sensível, doído e tantas vezes tachado como histérico. Vivendo duplas ou triplas jornadas nada temos de louca e sim exaustas. Vai uma louça aí? Você pode lidar com o feminino adorável mais aliviado...
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