sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Desenferrujando de performar

Finalmente estreei em performance não linear! Explico: repito pelo segundo semestre seguido o estudo da disciplina performance no programa Diversitas da FFLCH/ USP, no teatro de Contêiner no bairro da Luz. E nesta temporada como pesquisadora artístico-acadêmica meu grupo, na hora de costurar ideias pra performar Escuta e Escrita da Cidade, que tínhamos que fazer no território em que pagamos de acadêmicos, optou por uma costura não linear e como diriam os publicitários, disruptiva. Resultado: não entendi cáspita nenhuma do que propuseram no WhatsApp. Afinal, conto histórias, escrevo livros e dou aulas, ou seja, sou mega linear. Ao menos comparada com meus colegas de Tatiana Schunk, que levou sua máquina de escrever para dividir seu trabalho de escuta e registro do que ouve, nas ruas e em centros culturais, para nos "grampear" e, ao fim da aula ler parte das nossas Ailton Krenak, Ideias para Adiar o Fim do Mundo, passos em folhas secas, poesias, som de pássaros, pesquisa do Reich, som do metrô, entre outros barulhos e reflexões. Enviamos parte aos colegas de turma pelo zap (esta parte não consegui acompanhar, foi uma semana de perda de cachorro, mãe mal e chefes descompensadas bufando no meu cangote). Pedimos que levassem fones de ouvido e lá partilhamos os mesmos com duplas de estudo, escutando, dividindo celulares para esta atividade e caminhando ao lado do Parque da Luz, da estação histórica do mesmo bairro e na frente da Pinacoteca. Aquele bairro segue bonito, mesmo à noite, com muita gente circulando nele com pressa, desconectados do que rola ao redor, medo dos bêbados ou dúvida se é ou não perigoso que os mendigos e usuários nos abordem, em conversas que custamos a entender (a propósito: não, não é: já estudei, agitei voluntariado e curti programas culturais com amigos e familiares por lá, durante
metade da minha vida e devo ter sido mais assaltada em bairros paulistanos de classe média e alta). Andar no ritmo do companheiro de performance, pros fones não desconectarem da gravação, perceber as conexões entre a trilha sonora da cidade e a beleza da estação antiga de trem, do pouco som urbano da natureza e as árvores nos cobrindo quando sentamos e deitamos nas calçadas, além de receber olhares de estranheza dos pedestres foi insólito e permitiu inesperados vínculos com amigos de curso (como era de se esperar, atrapalhei meu parceiro de jornada e me enrolei, derrubei fone, o fiz parar, me ajudar a usar o mesmo de novo, enfim, como diz meu amigo, fui total digna do apelido agente do caos). Ao voltar, conferir as demais performances em som, vídeos, música e poesias dos demais pesquisadores performers da nossa turma me tocou, gerou discussões curiosas e cliques bem vindos. Aos 45 minutos do 2o tempo, a professora e amiga Maria Ribeiro colocou um áudio da Marilia Librandi, que voltou aos Estados Unidos, onde dá aula e era sobre a palestra Escrever com o Ouvido, que a mestra atuante nos EUA deu na PUC, mas não pude conferir. Ouvi-la deu a sensação de que estávamos muito próximos...  Por fim, fazer o percurso dilatado de retorno do transporte público com os amigos, com quem compartilho a atuação educativa e conexão espiritual, rumo à periferia no trem, rendeu partilhas e - porque não? - construção compartilhada de conhecimento. Me senti em casa ao retornar pra esses estudos, mesmo após pouco mais de uma semana da partida do meu cachorrinho Bidu, que dividia com meus pais. Em duas semanas tem mais! Pensando bem, melhor nem gerar muita expectativa, pra não fomentar a ansiedade em mim desde já.
conclusões e devaneios. Senti saudades do meu avô escrevendo na sua máquina, menos colorida que a dela, na máquina de café do norte do Paraná, na qual trabalhava e de onde fazia seus livros artesanais e caseiros, além de pesquisar e atualizar uma de suas maiores paixões: nossa árvore genealógica. Fiquei feliz do meu pai não ter deixado eu vender minha máquina há anos, quando o site dos coleguinhas jornalistas Comunique-se quis fazer um museu da comunicação (será que essa ideia saiu do papel?). Bom, voltando à vaca fria - eu e meus colegas de trabalho fizemos uma colagem em áudio de várias gravações que remetiam às nossas escutas e "escritas sonoras" da cidade: trechos de livro do
trabalho, porque também estou coalhada de amigos que classificam meus textos como fluxo de pensamento. Sabem de nada, inocentes! Quem produz  esse tipo de texto lindamente é a educadora e artista

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