segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Diário Mineiro de Viagem

Voltei de viagem lembrando de um colega de retiro, que uma vez fez um em silêncio, foi dar uma palestra na sequência, mas ficou um tempão quieto. Meio que voltei similar lá de São Thomé das Letras (MG): inicialmente meio sem ideias para o blog. Por isso opto por escrever das boas diferenças desta viagem comparada às demais. No geral, ou viajo só ou com meu companheiro. Nos últimos anos fiz mais férias solo porque ele está frelando e pela primeira vez na história desta relação, dar aulas, dar formação e contar histórias me paga mais do que os jobs dele, que não é impulsivo com catzo nenhum, muito menos com grana. Eu? Bom, já melhorei, mas digamos que fico centrada com o pé na estrada, então esse é meu ponto fraco. Neste finde aceitei o convite duma ex chefe, atual amiga, que sempre falava de me levar lá nessa cidade bicho grilo. Sexta dormi lá, tentando causar menos porque a motorista cairia da cama sábado, mas depois de ver a peça feminista tragicômica Quarto 19 (apenas vejam!), não consegui evitar chegar tarde em Mauá, onde ela vive (como diz meu marido "que mal há"?). Sábado madrugamos eu, ela, as filha, vizinha e "releitura de sobrinha" dela (que na real é ex cunhada). Quase que sempre sou um fiasco como companheira de viagem e durmo horrores. Trânsito demais, de menos, no geral me apaga quase sempre. Tanto que tenho histórico em bater, então não ofereço revezar, fora que estou enferrujadíssima. Mas fiquei na frente, a motorista é geminiana. meu oposto complementar e proseamos bem mais que cochilei. Adentrar Minas é sempre um capítulo à parte, as montanhas vão logo nos desacelerando. O clima brejeiro ajuda resgatar minhas raízes caboclas. Quase sempre que chego às cidades, independente da região, já vou pra onde me hospedarei. Mas como nosso check in era no almoço, fomos direto à Cachoeira das Borboletas. Precisava tanto que Oxum levasse a zica urbana que fiquei um tempão embaixo d'água. Sem bater dentes ou estranhar a força da queda d'água. Cantei nelas. É outro rolê ir com quem conhece o local há décadas porque tem o filtro entre as roubadas e os achados da região. O artesanato é muito podicrê, pena que minha gata Peteca quebraria tudo. Mas comecei pegando leve porque já tinha me dado um biquíni na véspera, pois embora tenha planejado fazer mala com calma, antecedência e passado mentalmente check list do que não deixar pra trás, larguei o maiô secando atrás na geladeira porque fui à hidro. Depois de todo esse rolê é que fomos à Pousada Paraíso. Vi na entrada que fazem parte do Roteiros de Charme, uma seleção de hospedagens rústicas que conheci escrevendo pra revista Viaje Mais Por Menos há décadas. Por exemplo: embora chegamos após comer, o que não tinha sido consumido no café da manhã era disponibilizado para recepcionar quem chegava mais tarde ou vinha de longe.
Achei simpático. Meu estômago também. Cochilar depois dessa circulada deu ao passeio um ar de programa na praia sabe? Água e siesta, só falou a maresia. À noite fomos circular pelo centro. A arquitetura, as calçadas e a rua são todas de pedra. Encontrei uma simpática hamburgueria, cheia de arte pelas paredes e fiz de conta que sou natureba porque comi um vegetariano. Zanzei ouvindo as lembranças da minha amiga pelas ruas. As jovens que foram conosco foram gandaiar ou paquerar, não tenho bem certeza. Tentamos ver o por do sol numa região alta, em que sobem numa casa de pedra, alguns cantam (matei as saudades dos reggae da minha adolescência), outros vendem ou aplaudem o por do sol. É que este dia estava nublado, mas não deixou de ser possível ver paisagens incríveis. Rodamos mais pelas ruas de pedra: enfiei o pé na jaca, comi sobremesa, complementei a janta anterior com cardápio nada original que vivo cozinhando em São Paulo e tomei vinho. Me dei umas bijuterias com pedras de proteção, saia, calimba e troquei muita ideia com a hippie. Aliás
praticamente entrevistei meia cidade porque uma das coisas que valem rodar o país são as histórias das pessoas. O pessoal que foi comigo ainda foi ver um show, tentei dormir cedo, mas tenho dificuldade quando estou feliz e fora de casa. No fim, fomos à Pedra da Bruxa: comecei achando os visitantes meio atirados de ir tão na ponta das pedras, mas terminei fazendo as mesmas fotos lá, abrindo os braços: "olha amiga... E agora: sem juízo"! Quando pensei que já tinha gasto minha cota de precaução, fiz uma tirolesa de 580 metros. Não sem antes entrevistar o engenheiro técnico. Normal começar com dor de barriga, como entrar no palco. Mas perdi o cagaço antes do meio, soltei uma das mãos, o que me virou para a plataforma de cima, me balancei pra frente por curiosidade de continuar vendo a paisagem, empaquei um pouco antes do fim, um moço veio me guinchar ao chão, tentei perguntar se isso era normal, mas não ouviu e no fim escutei que se engordar um pouco mais, descerei até o fim
na próxima. Achei extraordinário, não gritei, nem pareci a escandalosa dos meus tempos de montanha russa. Por fim, encaramos um pit stop mineiro derradeiro na estrada. A caminho da volta arrisquei cardápios mais caipiras (porque meu sistema gástrico não colabora) A guerreira da minha amiga foi dirigindo o caminho todo, mas fez paradas providenciais para banheiros e comidinhas. É incrível viajar sem familiar apressado no volante que já fez parente mijar no carro porque não podia dar uma mísera parada parada ou com sem noção fumando no nosso cangote e nos xingando por reclamar. Sem contar que passear sem vizinhos de banco reaças é a maior brisa. Esse post é só pra comemorar: calculei os frelas na poupança e farei outras quatro viagens anti stress, de trabalho,
para comemorar niver, com amigos e marido até o fim do ano. E reafirmar que concordo com a galera do ecoturismo que recomenda: "viaje pelo mundo, mas antes conheça seu país".

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