segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Mergulhando no teatro pela revolução

O teatro do oprimido (TO) é um amor antigo. Chegou na minha vida em oficinas livres, que ia com amiga numas ocupações do centro histórico, ainda quando dava aula de biblioteca em colégio particular católico. Fiz ainda vivência com o filho do criador do método no Sesc Pompeia, numa entressafra profissional rica em que estudei tanto que até distraí da neura de voltar ao batente. Anos depois, já na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Santo André participei duma formação maior, que começou no Parque Escola, migrou pro Centro de Formação de Professores Clarice Linspector e terminou num centro comunitário bem contramão, na periferia do ABC. O formador da última foi o mesmo da minha iniciação ao TO, anos antes. Como diria uma amiga jornalêra, o mundo é mesmo muito redondo! De lá para cá estive em dois encontros anuais da Rede Sem Fronteiras de Teatro do Oprimido, vivenciando mais os teatro jornal, das oprimidas e em saúde e vendo produções dos amigos cênicos, em Campinas (SP) e na Bahia. Na primeira região ainda voltei e encarei o Laboratório Madalena do teatro das oprimidas, que também me pareceu incrível para reverberar entre as alunas, muitas vezes vítimas do machismo, que não as permitiu estudar na fase em que abandonaram a escola. Até finalmente chegar à pós em TO e psicologia social que faço com o Coletivo Garoa no Projeto Quixote, há um mês e meio (as postagens sempre atrasam em meio ao caos de aulas, auto cuidado, estudos, frelas, cuidados com família e projetos). No começo caí meio de pára quedas, cruzando a cidade depois de finalizar uma formação que dei em contação de histórias e pegando o "bonde teatral" andando. Mas apesar de termos toda uma metodologia de manhãs teóricas, tardes práticas, com leituras, discussões e outras "cabeçudices", o grupo não deixa de ser muito humano, afinal, é estudo artístico também. Sempre querem saber como chegamos, o que acaba aliviando um pouco a aridez da área acadêmica. Tenho lido mais os textos e livros do criador do TO, o teatrólogo  Augusto Boal, depois de praticar mais (afinal escutamos tanto que teatro se aprende fazendo que botamos isso em curso na vida sem tantos questionamentos). Sempre rende descobertas - se não na pesquisa nas trocas entre tantos estudiosos e praticantes de TO, durante nossos encontros. Nós
comprovamos o quanto a diversidade é enriquecedora e devia ser fomentada sempre. Os valores são populares pra educação formal. Afinal os interessados não vem de áreas reconhecidas e bem pagas: educação, assistência social, artes, saúde pública, da educação informal, terceiro setor, terapias diversas... E nos improvisos e jogos sinto que partilhamos um espaço de potência. Realmente é ensaiar a revolução, Boal tinha razão. Fora que é muito catártico aprender se divertindo. E tem toda uma construção partilhada do conhecimento cênico (que tenho tentado estudar em paralelo no programa Diversitas da FFLCH/ USP no Teatro de Conteiner). Não, não me chame de doida acadêmica. O sistema capetalista nos força a ser hiperativas. Mas uma coisa que achei até antropológico foi proporem que a gente faça almoços coletivos desde o começo. Além de ninguém resistir, comermos juntos abre
caminho para muitas conversas significativas e entrosa o grupo como mais nada faz. Passa pouco tempo e nos sentimos num coletivo! Já estou a fim de criar, ensaiar e fazer teatros do oprimido com o pessoal em tudo que é espaço que esteja precisando. Às sextas, nas vésperas, sempre que volto cansada do trabalho e lembro que de quinze em quinze dias reencontro meus "parças teatrais", sinto um misto de cansaço com empolgação, porém esta segunda emoção é sempre mais ativa nesses momentos. Que venham mais discussões, mas que multipliquemos e nos transformemos pelo TO muito mais, em vários tempos e espaços.
Obs.: foi tentada uma diagramação mais amigável, mas o Blogger não colabora. As imagens na ordem em que aparecem no texto foram produzidas: na pós que conto no post, no Laboratório Madaelna em Campinas, no encontro de TO em Itinga, Salvador, na vivência de TO do Sesc Pompeia (anos depois uma das participantes se reconheceu nesta foto... Nos conhecemos nos encontros da rede), na pós e no espaço do projeto Quixote.




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