segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Era difícil a vida antes do leave in
Este fim de semana tive que virar os álbuns de fotos do avesso pra que o namorido conferisse minha fase "quem me chamou"... Nem cantava Maria Betânia, mas meu cabelo era "todo essa artista". E antes que atirem o primeiro creme não enxaguável, quero deixar registrado nos autos pra posteridade: era difícil a vida antes dele. Não havia tutoriais, cabeleireiros especializados em madeixas afro ou blogueiros descolados. Lembro de usarmos abacate. Devíamos misturar com alguma coisa, só não recordo o que. Uma vez comi a outra metade da fruta e a casa toda rodou, foi o barato mais natural que já vivenciei. Como era época em que queria clarear os fios, vivia enchendo de chá de camomila e indo para o sol. Mas o crespo... Não tinha nada pra sermos razoáveis com ele. Leave in, técnicas específicas disseminadas para o dito cujo, vlogueiras antenadas ensinando mil macetes... Catzo nenhum! Tudo de que dispúnhamos eram familiares de cabelo liso que teimavam no pentear dos coitadinhos secos. Bom, daí o resultado não podia ser outro além duma tentativa braquela de Black Power. A bênção do pentear molhado com creme no chuveiro jamais circulou entre enroladas, cacheadas ou crespas. Creio que este esquema fui encontrando instintivamente, pois eram raros os que assumiam seus fios, descobriam como deixá-los razoáveis e divulgavam. Era tirar o nó dos coitadinhos e vê-los subir aos céus. Lembro duma vez em que minha mãe trouxe shampoo e condicionador para grandes volumes. Daí protestei, pois a dupla prometia subir cabelo de boneca, o meu já estava chegando às janela e porta dos vizinhos, pois era craque em arrepios laterais. Ela tinha entendido que a promessa do rótulo era diminuir os cabelos assim meio saidinhos como os meus. Nem posso reclamar muito, pois minha tentativa de acertá-los começou na adolescência, mas lembro da prima (que se divulgar imagens da época corta relações para sempre), vizinhas ou amiguinhas que praticamente "viraram japonesa" de tanto que os familiares esticavam os rabos de cavalo ou tranças para disfarçar as ondulações, leves ou caprichadas. Por isso digo que se atualmente o cabelo tem frizz é lucro, antigamente ele era "todo um frizz", de cima a baixo, da direita à esquerda. Lembro de ter estagiado na Credicard com uma secretária negra linda, que estava caçando um profissional focado em cabelo afro, pois não era mais possível pentear o cabelo da filha, tinha que por nas mãos dum especialista, será que ela alisou novinha daquele jeito? A coitadinha chorava horrores, não tinha condições da progenitora encarar sem se doer junto. Mãe e filha eram dois arrasa quarteirão, mas tudo, absolutamente tudo, anúncios, salões, cabeleireiros focavam em diminuir o volume do qual a maioria fugia. Milênios depois surgiram os leave in e foi possível sair do banho, empastar o cabelo de creme, amassá-los e finalmente deixar de sofrer com a profusão dos cachos desgovernados que tentei administrar por minha conta décadas. Descoberta semelhante a esta só a de fingir que meus dedos eram um pente, pegando meus nós desprevenidos entre o condicionador e o chuveiro e saindo com ares de quem nunca sofreu com este processo. Tudo seguindo o instinto, afinal quem dava a dica? A seco era certamente uma das torturas chinesas usadas pela ditadura, não é possível. Virando os álbuns fotográficos familiares pra ouvir as legendas sonoras criadas pelo namorido e rir no fim do domingo, imagino que cara de "até parece" faria se me contassem que num futuro não muito distante, seria viável ser crespa e feliz. Imaginaria que só na ficção. Tive liso na infância, então gostei quando mudou na adolescência, mas foi uma vida para nos entrosarmos até ouvirmos "elogiozinhos" aqui ou acolá. Tiramos sarro de todos os primos enrolados que tentaram deixar a juba crescer, coitados! E se soubessem que poderiam ser black power futuros e arrasar entre as hipster contemporâneas, teriam insistido? Há que se ter persistência com crespos: o cacho leva voltas e voltas, tempo e mais tempo para sair do visual vexatório de quem se atrevia a deixá-lo subir. O crescer dele era um trabalho oriental de paciência. E não éramos bons nisso adolescentes. Confesso que ainda não cheguei à suprema evolução com os cabelos que me sugeriu um cabeleireiro dos tempos de redação eletrônica, que recomenda aos enrolados não porem a mão nos fios por nada nesse mundo após lavar ou os tiraremos do prumo. Com esse calor? Misericórdia! Sou a primeira a mexer, prender, daí já era, dá uma detonada básica mesmo, fazer o que? Mas já comemoro sensíveis melhoras desde a aborrescência, ocasião em que como a Jout Jout, a torcida do Timão era minha amiga, mas ficar com alguém que é bom... Nem com reza! Adolescência é como TPM e plantão, louvado sejam Deus, elas passam! Depois podemos até rir de nossos antigos stresss. Prevendo isso na época duvidaríamos indiscutivelmente. E aquelas revistinhas de 5a categoria pro público sofredor da ocasião nem para investigar algo que aliviasse o espelho pros enrolados, crespos e cia. ltda...
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