sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Modelando uma arte educadora e contadora

Sempre procurei um trabalho significativo. Daí que não vi como ajudar quem mais precisava apurando, escrevendo, editando, pautando, cobrindo evento, divulgando, pesquisando, editando foto, acompanhando edição de vídeo... A médio prazo era mais uma peça numa indústria que atropela aqueles que usa, assim como me desenroscou quando não virei heavy user de redes sociais, atualmente ajustou "parafusos novos", mais em conta e super digitais. Sou dos textões, que os aficcionados em mídias sociais querem por no pelourinho e dar chibatas virtuais. Há pouco tempo até comecei a ver movimentos renovando esse pensamento estreito de que não querem ler ou ver entrevistas longas com o Fluxo, Ponte, A Pública, Mídia Ninja, Jornalistas Livres... Só que fui trilhando outras possibilidades de fazer algo significativo, que ajudasse as pessoas. Por um tempo imaginei que fosse pela yoga. Estudei, pratiquei, respirei, me alonguei, até paquerei entre um ásana e um pranayama, pois como dizia uma ex chefe amiga "era a única que ia pra um retiro e voltava apaixonada". É verdade que teve práticas em que me segurei pra não perguntar meio clichê:
- Você vem sempre meditar aqui?
Mas pelo meu vício de escrever para que os diretores e faxineiros entendessem, viciei em pragmatismo. Queria uma formação que traduzisse as posturas em "do cachorro olhando para cima, morto ou gato", indicasse as ideais para iniciantes, intermediários e avançados e que indicações (ou contra) tinham. Achava meio irreal focar no filosófico quando saíamos dos studios e caíamos na bolha do stress corporativo.
Depois tive a temporada certa de que seria a massagem, estudei, fiz retiro e rendi tests drive com retornos mais próximo do que sonhava entre amigas:
- Dormi bem depois da sua massagem!
- Saí de lá achando a felicidade possível!
Quando fiquei uma semana estudando, praticando massagem ayurvédica, meditando, comendo vegetarianamente, cismei que tinha que ter vindo da saúde ou ao menos da dança para ter aquele domínio de várias especificidades anatômicas nossas. Ranço que carreguei depois de abandonar o técnico em acupuntura nas primeiras aulas de cinesiologia ( cada fiapo do corpo tem 932983232 nomes). Ainda ouvi professora dizendo que como lembrava do metatarso (ossinho lateral do pé que quebrei nessas férias) meu argumento era infundado, mas... Também não foi nessa praia.
Paralelo a tudo isso sempre flertei, namorei e só agora casei de vez com as artes cênicas. Fazia uma comédia. Daí era raptada pelo trabalho. Atuava num drama. Fica sem grana e voltava à comunicação. Participava dum stand up. Os plantões me exauriam demais para continuar. Cantava num musical... Até que uma colega sugeriu que entrasse na Cooperativa de Teatro para conseguir bolsa e fazer licenciatura na Faculdade Paulista de Artes. Sempre conciliava oficinas de danças brasileiras, percussão corporal e..."contação" de histórias. Cismava que não conseguiria largar o osso do jornalismo, afinal já tinha 18 lá teimando que não era uma transição possível. Quando terminei a facu, minha mãe ficou doente, segurei o tranco, mas assim que ela melhorou eu caí. Da minha melhora em diante fui conciliando frelas e "contações", depois frelas e aulas no Estado, até dar aulas de biblioteca num "quartel de freiras" e finalmente artes na prefeitura. É no ABC, faço pequenas viagens, tenho me cansado mais que trabalhando na "Vila Cloaca Olímpia" em minha temporada de assessora, mas como me vejo mais ajudando o mundo a melhorar, foram surgindo formação, mais "contações", projetos, meu livro. E por ser apaixonada pela educação e arte, acumulei coisa demais, meu corpo vem apitando pra por o pé no freio, agora que ele gritou tenho fisicamente que desacelerar. Neste meio de caminho uma chefe deu um retorno duma palestra minha pra uma prima e isso circulou entre a parentada, que vinha dizendo:
- É, ensinar é plantar sementinhas, trabalho de formiguinha.
Só ultimamente vim entendendo, Quando "aluno" orientou a sala fazendo esculturas afro em papel tranquilizando os demais repetindo o que dizia:
- A gente não erra em arte, descobre caminho novo!
Com estudante perguntando num torpedo de feriado quando contaria história de novo.
Ou ouvindo pós adolescente querendo saber depois que bati a costela no metrô:
- Melhorou prô?
E num fim de semana entendendo a utilidade de estar num Whats Up da turma, recebendo trabalhos recriações deles do Van Gogh e incentivando, agradecendo remotamente.
Incentivando um adolescente que queria estudar tatuagem, depois da turma dele contrariar expectativas da gestão, devolvendo o ateliê inteiro, sem fugir pois ficava numa área aberta e voltando pra uma aula mais tradicional.
Rindo das alunas dizendo aos organizadores da semana da criança que eu é que devia contar histórias para elas.
Aprendendo com uma baiana significados de nomes indígenas numa música da Elis.
Fazendo teatro do oprimido com professor de projetos pelo fim da violência doméstica.
Detalhando e incentivando alunos nordestinos a produzirem seus cordeis.
Ouvindo professora para quem dei formação em literatura que acabará pedagogia e cursará a sonhada formação em artes. Sabendo que ela preparou os estudantinhos pra dançar carimbó.
Ouvindo estudante pedindo no almoço lá do "purgatório de freiras" para eu contar história ao irmãozinho na minha hora de folga fora da biblioteca.
Ou uma "expectadorinha" dizendo que tinha sido tão lindo o que fiz no palco intimista duma amiga em Sanca City e eu bancando a atriz para não chorar com os adultos pertinho.
Tendo ex aluna de um mês e meio no Estado me procurando pedindo revisão de poesia e dica para ela contar história numa festa. Esta última me fez um depoimento no meu aniversário que também fiquei limpando lágrima na padaria, dizia que dava performance, punha cachola pra funcionar...
Acho que a coroação nesse último ano e meio foi uma antiga estudante me chamando para assistir Coletivo Negro juntas.
Lógico que esse trabalho significativo (esse que vejo outros buscadores hoje caçando seus propósitos) não é conquistado com a maioria. Mas foi como uma tia ex bancária me ensinou: é trabalho de formiguinha, sementinhas plantadas, temos que comemorar os poucos brotos vingando.
Só acho que a primeira aluna amiga formação de plateia em processo a gente nunca esquece!
E no meio disso tudo, desnecessário falar que $ não é tudo. Afinal ela não acelerou a melhora da costela contundida, da operação do olho, do pé quebrado e nem me fará melhorar mais rápido da próxima cirurgia de vesícula.
Nestas áreas a gente só abraça o mundo pois melhorá-lo é urgente e acima de tudo, reverbera um retorno significativo e intangível!

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