terça-feira, 28 de junho de 2016

Batida do Bicho Preguiça

- É só ler a agenda! - dizem os que nunca perdem um compromisso. "Sabe de nada, inocente" - penso baixinho, mas nesta altura do campeonato tenho canseira de explicar. Quem se aperta com médico, trabalho, estudos, amigos, namorado e família acha estranho que você não se "embanane" com tantos encontros pela frente.
Não que já não tenhamos adotado o hábito da agenda. Na falta dum cálculo interno melhor para tudo que é preciso deixar em dia, temos uma na bolsa, numa na mesa do escritório e outra no celular. A questão é que periodicamente uma encavala com a outra e surge uma nova questão: como forçar o hábito de bater uma com a outra e evitar que se atropelem?
Por exemplo: quando tinha um celular que dava conta do recado, a agenda dele apitava. Era a melhor solução para os perdidos: o atual só escreve o compromisso lá em cima e eu que tenha a presença de espírito de consultar, quando falha, tudo atravanca novamente.
Nós, os que não conseguimos lembrar de ver agendas temos alguma similaridade com os que não batem os olhos no relógio e chegam depois ou dão o cano duma vez. Deve ser alguma falta de gene e vislumbro que em breve as revistas SuperInteressante ou a Galileu estamparão na capa as descobertas dos furos na genética dos esquecidos, que calculam mal as horas ou não se regulam por elas.
Mas nós, os que não conseguimos ver as três agendas que tentamos adotar para combater a falta de um cálculo confiável entre um compromisso e o outro, em certa fase da vida começamos a chegar cedo demais. Passamos dos reis do atraso para a antecedência vexatória. Em certos casos, como na atual circunstância - contar histórias para os que moram em Casas de Repouso - não é possível anteceder a agenda desse modo, eles estão comendo, cortando o cabelo ou sei lá o que, não é viável mexer na agenda assim, aos 45 do segundo tempo.
Eu que me encontro na fase semi: semi nova, semi magra e semi bem sucedida, percebo que às vezes a genética é um fardo: meu pai tem essa relação dilatada com o planeta e é incapaz de ser rápido. Estou me saindo cuspida e escarrada ao progenitor, ao ponto do namorado há 1 ano e 7 meses apostar que nunca corro, nunca me viu fazer isso. Confesso que acho correr muito próximo de transar com gordo: quando acaba é que vem a festa da serotonina. Há meses atrás quase perdemos um voo e meu namorido ficou encantado de me ver correr pela primeira vez. Um voo inteiro esbaforida depois.
É o que prevejo para amigas mais jovens: depois dos 35 é só barranco abaixo: você pode até continuar estudando, trabalhando e frelando, mas dificilmente consegue espaço para esporte, trabalho voluntário... Começa a entender a família que "agarra ao colchão ou sofá" o final de semana inteiro, se indigna por estar igualzinha, mas também não desgruda deles.
Amigos escrevem no final de semana tentando levar a saraus do outro lado da cidade, mas a perspectiva que prevejo pelo celular é "o desafio deste sábado e domingo é sair da cama e fazer comida". Seria o frio? O excesso de frelas e estudos? A mudança do jornalismo para educação, onde não se cobre a violência, mas se passa por ela e a ampliação do cansaço e stress é previsível?
Não tenho ideia. Me solidarizo com os que acordam na hora do almoço e saio do slow motion só no meio da tarde.
Vai café?

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