segunda-feira, 13 de junho de 2016

Povos originários argentinos provocam valorização dos índios brasileiros

O projeto Oralidad Escrita, na Argentina, me levou de volta à aula do uso do conto como ferramenta pedagógica do griô Toumani Koyaté no Centro de Formação Sesc, em São Paulo. Este professor-contador-fotógrafo-escritor africano respondeu quando questionaram como visitar Burkina Faso:
- Vocês às vezes não estão preparados nem para o Brasil e querem ir para a África?
Se nosso país já tem dimensões continentais e um mundo de cidade a cidade, dum estado para o outro, imagine o continente mãe!
E como a história Anastácia prevê, viajamos para longe, para encontrar a felicidade do lado de casa.
Eu, o namorado e parceiros do coletivo Aty Saso fomos contar histórias e promover um concurso literário para registro da sabedoria indígena lá em Formosa, no norte da Argentina. Sim, tem um tempo razóavel, mas parece que levei uma temporada significativa para decantar tudo que trouxemos de lá. 
Escolhi o conto Canto de la Lluvia, de Gana, garimpado no livro Volta ao Mundo em 80 Histórias, para convidar as escolas bilíngues indígenas a enviar seus contos para o concurso que publicará os que mais refletem os povos Qom, Pilagá, Toba e Wichi, mas claro que a ideia era saber mais dos outros povos originários também.
Acho que ao propor um projeto de intercâmbio cultural não imaginamos ao certo o que aprenderemos, nem o que daremos neste escambo tão imprevisível e rico. Mas vivenciei um pouco quando o pai de um estudante indígena contou uma história em que o arco íris era um fantasma e uma professora entendeu porque os alunos corriam do que elas achavam bonito. Noutras escolas quiseram nos ouvir em português. E na tradução do conto, fico sabendo que nosso quilombo, símbolo de resistência contra a escravidão, lá é brincadeira. Uma diretora e professores nos deram conto indígena impresso. O chimarrão é tão bebido por lá quanto no Rio Grande do Sul. Os repórteres quiseram saber da crise política daqui. Não sei se as TVs permitirão que minha crítica contra a direita brasileira vá ao ar, mas de certa forma "lavei a alma". Achei curioso que tão distante da época de Peron, muitos se definam como peronistas e me parece que foi um período em que se ganhou tantos direitos trabalhistas/ sociais quanto na Era Vargas. As professoras dessas escolas bilíngues argentinas são funcionárias do governo. Parece que as de São Paulo são de ONG, terceirizadas e somos uma cidade educadora! Não sei onde estaríamos se fôssemos tão politizados quanto os "hermanos"... E é curioso porque até encontro brasileiros com bronca de argentino (assim como há rixa entre paulistas e cariosas, gaúchos e catarinenses), mas parte significativa deles tem interesse genuíno pelo que rola aqui. Ganhamos mostras do artesanato indígena de lá e guias de direitos dos indígenas nos idiomas deles e espanhol, ilustrados com a Mafalda. Sinceramente, não sei se há atenção similar ao nossos povos originários. Mas o que os preconceituosos dizem deles lá e aqui segue a mesma linha enviesada de raciocínio: que são preguiçosos e não gostam de trabalhar. 
Tive curiosidade de conhecer o interior de Formosa, que parece ter o 3o maior Pantanal da América Latina, como quando saí de Aracaju querendo visitar o sertão próximo do São Francisco. Mas é impossível comer vegetarianamente por lá. Houve uma curiosidade e reuniões com secretaria de turismo e órgãos oficiais de lá. Não sei se argentinos aqui num projeto no que resta do Xingu provocariam esse interesse. Sei que soa colonialismo da minha parte essa visão, mas o que os "hermanos" tem a favor deles há que se reconhecer.
Para meu livro, que tem um personagem indígena, conheci um pouco mais desses povos no contexto urbano mesmo. Na feira indígena que participei em São Caetano saí com namorado a fim de conhecer uma tribo (eu já tinha). Mas o quanto cuidamos, os estudamos sem olhar colonizado? O papel dos professores têm se complexificado conforme o conservadorismo avança. Porém essa ampliação de direita ou centro meio nazistas é mundial, segundo feministas antigas e que acompanham o movimento internacionalmente. A luz no fim do túnel é que meus estudantes adoraram saber mais sobre a cultura indígena, tanto daqui quanto de lá.

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