E depois, mais tarde, conferi-lo comandando a folia de reis e contando que ouviam em família:
- Ou dançam ou apanham! - e assim nasceu a primeira diretora teatral amadora e autoritária, diríamos aqui no "teatrão" paulistano...
Teve uma noite em que ganhei a graça de ver chegarem os caminhantes do Caminho do Sertão que mencionei acima, depois de uma semana circulando 160 km, refazendo a trilha de Riobaldo, do Grande Sertão Veredas, recebidos com festa em tudo que é aldeia local, não foi diferente na Chapada, em que cantaram para eles - as talentosas irmãs artistas Campos da cidade deste Encontro, conferi várias pessoas colocando água para eles descansarem os pés, preparando um café caprichado para que depois os participantes se "refestelassem" na comidinha mineira, além de muitos moradores e visitantes cheios de dúvidas, curiosidades e orgulho deles puxando uma prosa sem pressa.
Como se não bastasse tanta memória de aquecer o peito, ainda ouvi a missa sertaneja cantando "ó Deus salve o oratório"... como minha tia conta ter feito nas procissões do interior de São Paulo, então desconfiei: os interiores desse Brasilzão se conversam, não tem problema a lonjura que os distancia!
Fiquei muiiiiito animada pra um mestrado depois de prosear com a antropóloga Ana Carneiro, que fez um "estudão" sobre as receitas e histórias dos buraqueiros - ah sim, você sabia que além dos povos originários quilombolas e negros, temos também as veredeiras, machucadeiras e estes que a escritora estudou pela região do norte mineiro?
Reforcei meu apoio aos assentados ouvindo Maria, que veio de Brasília, falou nas mesas redondas e indicou aos "caipiras do asfalto" que não podem gastar os tubos em orgânicos Pão de Açúcar o serviço de entrega Céu de Passarinho. Por aqui podemos comprar do Armazém do Campo e dar um olé nos atravessadores que só encarecem as revendas, sem dividir lucro com produtor.Com relação a custos, me encantei ainda com o pesquisador Victor esclarecendo que valores de revenda tem embutido não só o que ganhamos, mas impacto ambiental, na saúde, impostos, parceiros para chegar aos clientes... E que acreditamos que o justo seria o pequeno produtor atender ao pequeno consumidor urbano!
Quis reforçar as lembranças, os agradecimentos às acolhidas, os novos amigos e também REcontar aos que já me "cantaram para dar aulas de teatro por lá", pois a arte educadora que fazia isso na Chapada estava voltando ao Rio de Janeiro: repassei tudinho, tim tim por tim para meus alunos e não só - também aos professores no Rede em Roda, encontro de partilha pedagógica que agitamos por aqui, na cidade que não para. Dividir que desconfio terem sido minhas primeiras férias em que relaxei de verdade, voltei com dor no coração de retornar, a ponto de passar dias chorando com a demora no trânsito, a poluição sonora, a poluição das nossas vias aéreas, a distância e demora para rever os amigos, pois muiiiiitos conciliam diversos trabalhos, uns pra arcar com as contas e outros para assegurar a atuação profissional significativa que caçamos por toda uma vida.
Só sei que há uma semana e meia também visitei uma antiga amiga em Santos, embora não seja uma cidade tão sossegada quanto a Chapada Gaúcha, é um município que namoro viver quando aposentar (estou flertando com a ideia por amadurecer ou ficar tiazinha mesmo?). Foi outro retorno doído, pelos mesmos motivos que olhei de outra maneira ao vir do cerrado mineiro. Devo estar com alergia à cidade gigante pela 1a vez na vida. Por conta de que insistimos então? Parcerias, diversidade na programação cultural, parques que aliviam a falta do mato, parentes que "seguram o tchan" emocional conosco quando o bicho pega, amigos que apesar dos raros reencontros valem uma teimosia urbana ao nos revermos, retornos profissionais que começam a valer a pena, contações de histórias que me enchem o coração.... Até quando daremos conta de mais de 11 milhões de vizinhos, só Buda sabe!
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