quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Tinha uma formação no meio do caminho...

Estava acostumada a sair mexida de retiro, curso de yoga ou vivência de massagem. Não de curso cabeçóide educativo. Mas deve ser de se esperar quando vamos fazendo as conexões entre as tantas coisas que nos encantam. Explico: acabo de fazer um... Workshop? Oficina? Vá lá, dois dias seguidos sobre educação popular freiriana. A troco de que, cáspita, se já ouço isso dia e noite no Ensino de Jovens e Adultos da prefeitura de Santo André? Se já estudei pro concurso de São Paulo, meio que tudo na mesma linha, porém algo me dizia que devia ter um parafuso faltando entre o idealismo de coordenadora, a ironia de colega de trabalho e o próprio questionamento freiriano "onde deixei uma metodologia, que nem fui informado"? Bão, lá fui eu, viciada que sou em formação livre, tão "conhecimento a partir da prática e/ou debate". Ao menos na área cultural... Pois com o formador que foi do Instituto Paulo Freire tínhamos mesmo que intervir para construirmos juntos essas percepções que buscávamos, pois "se o planejamento dele desse certo, não tinha funcionado". A descoberta provando que nasci jornalista e morrerei jornalista é que falta sim um capítulo de um dos livros de Freire, que relaciona a pedagogia do oprimido à revolução, mas que não pode ser publicado na ditadura ou nos Estados Unidos, por motivos historicamente compreensíveis - só que um pesquisador que este professor estudou levantou o conteúdo estrategicamente cortado na Suíça. Um mapeamento mais cuidadoso da dialética que minha prima marxista tanto citava e... Eureca! Não, não tinha me esforçado, batalhado, estudado pouco ou tinha inteligência aquém do necessitado por este mercado tão"aberto aos que ralam". Tive chefe, tia, médica, pai, terapeuta, ex sem noção, propagandas e imprensa "estrategicamente coxinha"martelando estas falácias orelha adentro, em momentos em que o mercado me tratou mais descartável que modess. Estes julgamentos foram me empurrando mais para o limbo das dúvidas insolúveis "qual a pisada de bola da vez, já que nunca são honestos o quanto precisamos ao final das parcerias trabalhísticas"? E conforme os pés no traseiro foram se sobrepondo, deixei de conseguir enxergar a pseudo meritocracia cruel por trás dos questionamentos ou rótulos:
- Mas você já foi mandada embora?
- É batata: quem é inteligente e se esforça se posiciona bem no trabalho!
- Você não para em lugar nenhum!
- Não se esforçou o bastante!
Entre tantos outros abusos dos meus ouvidos e emocional. Não percebi como vamos para um lugar de dúvida do qual só saí fechando a porta conectando o pouco de Marx que estudei na Ação Educativa, esta formação recente, as lições "de orelhada" pela prima comunista, pai sindicalista e tias militantes de esquerda e o... budismo! Quem diria que se conectaria o espiritual ao dialético hã? Foi noutro ponto da aula, em que o formador explicava o quanto os dominantes tentam se sobrepor aos oprimidos detonando a cultura popular (tinha escutado explicações por cima na Faculdade Paulista de Artes), mas ela pode agonizar e se reiventa, balança, mas não cai, numa ginga tão similar à capoeira. Uma interpretação budista tibetana dos ensinamentos que estudamos há milhares de anos vê nossa mente como uma natureza luminosa que pode se recriar muito além de suas origens. Daí os filhos de esquerda de pais de direita, ou vice-versa, acadêmicos entre piões de obra, entre tantos casos.
Fora que depois de estudar orientação profissional, de novo com a Ação Educativa, na Federal do ABC, me via meio impotente para auxiliar os jovens nesta empreitada, pois volta e meia redesenho meu projeto de vida, porém... Nada de angustiante nisso! Se pelas vias formais nos sentimentos meio engessados ou solitários, já que tantos e tantos se adaptam à rotina, à burocracia, às normas, ao "foi sempre assim"... É possível se unir aos que não aceitam que seja desta forma desde que o mercado virou esta pasteurização das pessoas e serviços, pois sempre é viável partir para um movimento, uma associação, uma militância, um grêmio, uma terceira via. Um caminho do meio!
Foi um sem fim de debates e discordâncias o bastante pra não caber tudo que o professor - dos sem teto urbanos - programou que era preciso. Temos pela frente outro encontro, para partilhar o restante do que ele considera importante. O próprio resgate de experiências dele em comunidades longe dos grandes centros, as vivências dos outros estudantes são outros aprendizados não planejados de início.
P.S.: Em tempo: trabalhei/ estagiei com barriga e olhos vazando de apendicite e conjutivite e fui descartada em ambas situações. Mas não se empenhei... Oi?!

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