terça-feira, 6 de setembro de 2016

Entre histórias e aulas

Recentemente contei a história de Urashima Taro na feira literária do Colégio Santa Clara, onde marco presença há dois anos e pela primeira vez o "conto me pediu uma música" no meio da narração dramatizada. Quando o pescador se encantava com o reino do Rei dos Oceanos, cheio de pedrarias no chão, "tasquei-lhe" se essa rua, se essa rua fosse minha... E sem estranheza a sabedoria oriental deu as mãos à tradição oral brasileira. E de quebra os estudantezinhos cantaram juntos.
Realmente achei que os contos usados em asilos podiam ser adaptados e explorados entre os
pequenos e suas professoras: levei ainda A Velhinha Que Dava Nome Às Coisas. Teve irmã e "aluninha" lenbrando de mim no último evento literário, outra estudante contando das suas corujas na escola de voo (não sabia que existia esse ensino especializadíssimo em Sampa) e alguns muito curiosos "você já escreveu um livro"?!
Por fim carreguei ainda a tiracolo A Rainha das Cores, de Jutta Bouer, que já tinha destacado as cores nas contações da Livraria Cultura,  só que também associo os tons a lugares (na obra, a autora só conecta às emoções). A personagem Coralina sempre me lembra nossa poetisa Cora (só pelo nome, pois uma é temperamental, outra pareceu ser um doce por toda uma vida).
Feito criança no mar
Não sei vocês, mas tenho A-DO-RA-ÇÃO pela praia, onde fui iniciar a parceria com a Melhoramentos. Montanhas e brisa do litoral te recebendo de volta, é ou não um cartão de visitas e tanto?
Tive que fazer uma "escolha de Sofia": Ziraldo ou Pedro Bandeira? Acabei lendo e adaptando com facilidade O Rei do Grande Rio, do segundo escritor e no evento de folclore do Colégio da PM de São Vicente destaquei sustentabilidade, cantei "eu não sou daqui, marinheiro só" e "quem te ensinou a nadar" - com as vozes do público acompanhando... O brinde do fim de semana foi rever amiga da Metodista, após 16 anos da nossa formatura, que também foi para a educação (deve ser a 4a dissidente da comunicação que tenho notícia... Jornalismo está na UTI mesmo).
Música vai na sacola de palha de Cuba
Invariavelmente recorro à minha memória da tradição oral nas apresentações, mas ao contrário das
colegas da pós na arte de contar histórias, a maioria lembra das mães ou avôs contando e cantando... Até recordo de momentos com meus familiares fazendo isso, porém não o conteúdo. Depois de dar a formação em literatura nas CEIs São Benedito e Nossa Senhora de Fátima em 2015, cismei que foram nas minhas "escolinhas" que ganhei esse repertório - ele me parece ancestral o suficiente para eu não identificar sua origem...
Apesar do mercado sempre demandar narração dramatizada só para os pequenos, semana passada meus estudantes adolescentes pediram música e
ainda me saíram com essa:
- Apaga a luz e conta uma de terror!
Eles bem que confirmam o que Rubem Alves dizia "adolescência é o prolongamento da infância".
Protagonistas de parte da aula
Os adultos faço voltar ao lúdico infantil ensinando teatro do oprimido (TO) e a maioria improvisou hospital e ônibus, que é onde tem mais desrespeito de direitos pra caber a sala toda atuando. Fui congelando e pondo outros elementos: grevista, médico cansado e repórter para incluir alunos que demoraram a entrar em cena. Discutimos cidadania, política, machismo e literatura para "temperar" a aula, mas não esperava que falassem aos outros professores - estes comentaram na sala em que passamos o intervalo: é, eles refletem também fazendo comédia (imaginava que discutíssemos depois só vendo). Acabou que até no corredor tinha adolescente querendo saber para que sala eu ia!
Só para ressaltar o quanto eles querem sim atenção e novas informações, eu e o namorido estamos fazendo formação e voluntariado no projeto Preparando Para o Futuro da ONG Sonhar Acordado. No fim da capacitação, dinâmicas e debates sobre esperança e consumo consciente já tinha jovem querendo saber se dava teatro, se minha pulseira era mesmo de canela e parte do grupo pra trabalho artístico se animou com a ideia de fazer TO.
Esperança para acender a chama alheia
É como já vi um antigo professor homenagear sua mestra no Face: o que nos passaram não estanca, nem morre, seguimos ensinando e o conhecimento flui como rio. Principalmente para não deixar a "peteca do ânimo" cair de tanto que meu mestre me ensinou, porém anda meio "borocoxô": a vela de um ensaia apagar e a gente segue acendendo.

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