domingo, 18 de setembro de 2016

Então, essa sou eu após décadas de tinta e creme com petróleo?

Há uma semana me livrei do resto de tinta que ainda manchava meu cabelo: dois anos tentando deixá-lo crescer e tudo que ganhei foi uma "californiana sem querer". Uma "abóbora do Halloween" se instalou no fim das madeixas, que nesta altura do campeonato estava bem "ripongas" - e eu insistindo pros alunos que hippie era a resistência paz e amor dos anos 60, não eu.
Mas somos cobradas não? Uma amiga queria saber porque estava descuidada, nesse meio tempo uma tia passou colorantes sem amônia e de tanta pressão até fui usar henna pra cobrir as manchas, mas ao chegar onde usam o produto caí de amores por um "vermelho light" meio natureba. Quando visito parente cujo hobby é comprar, a gozação é que não pinto "para preservar os lençois freáticos". Já até li sobre o tema, devo ter comentado, mas não lembro de ter defendido o "discurso ecochato".
Nunca tive muita paciência para horas e horas de manicure, cabeleireiro e depilação, suas "conversinhas novela" e revistas de fofoca da "era da pedra". Mas por um bom tempo, era o loiro que cismava que combinava, até cair de amores pelo vermelho, só que anos e anos depois, concordar com um amigo na casa de quem vivia dormindo:
- Pô você pintou há uma semana, mas desconfio que a maior parte ficou no box de azuleijo branco depois que você tomou banho.
Faz algum sentido virar escrava de fazer retoque? Sei que não há comparação com amigas da transição capitar, que antes não podiam tomar chuva, entrar na piscina ou no mar. Mas tínhamos também uma bronca danada de manchar tudo que é toalha e roupa depois de pintar:
- Afinal o que desse tom ficou em mim depois de tanto desbotar?
Também achei que não tinha sentido falar às amigas de cabelo afro para se assumirem e eu com uma cor que não era minha. Numa extensão universitária da Federal do ABC e Ação Educativa, me toquei que só adotávamos padrões de cores de cabelos europeus. Nem lembrava o que estava por baixo de tanta amônia.
Acompanhei ainda conhecidas tirando produtos com derivados de petróleo para adotar higienizador menos industrializado, sem espuma, os no poo. Me enviavam links de blogueiras que ficaram até uma semana sem lavar para sair resíduo dos antigos e usar estes mais naturais. Se fosse tentar uma transição dessas, terminava cheia de dreads. Queria, mas cismava que não fosse para cabelo enrolado. Fora a questão do bolso não comportar por um tempo. Em meio a um programa de auto conhecimento em que tirei muita dúvida com colega virtual que lembrava a Vanessa da Mata, fui à Garagem os Cachos, onde tratam as crespas de São Paulo. Como a cabeleireira já foi jornalista, explicava como era meu cabelo, o que faria com ele e como reagiria. Há quase sete dias adotei os no poo, pois também não concordava com a espiral de consumo em que nos perdíamos - nem tanto por não achá-lo bonito com creme antigo, mas por passar shampoo, condicionador e leave in comuns e ainda não dar conta de desembaraçá-lo, coisa que fazia um tempo razoável atrás, com os dedos e condicionador no chuveiro mesmo. Só com o higienizador o cabelo já soltou todo. Sigo com aflição que mecham na minha cabeça, sempre cismo que estão "lavando louça nela". Mas tirando as manchas, apareceu outra cor, um castanho escuríssimo. Óbvio que não voltaria ao castanho claro de antes da tinta. Sigo em abstinência do ruivo. E me surpreendo de alunos, colegas e parentes afirmando que o rosto mudou, que combina com minhas roupas diferentes ou que fico mais nova. Quem é que dizia que o que assumíamos se revelava mais bonito que qualquer artificialidade? Finalmente desapeguei de outra identidade visual e mantenho o tratamento  natural, me habituando aos poucos à falta de espuma. Ao menos não testaram em animais.

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